Repressão termina com estudantes espancados pela polícia e 56 detenções

A Polícia Militar do governador Geraldo Alckmin (PSDB) protagonizou cenas de extrema brutalidade nesse dia 15 de outubro na capital paulista. A polícia investiu com violência contra uma manifestação que reunia algo como 2 mil estudantes da USP. O ato, que contou também com estudantes da Unicamp, reivindicava democracia na universidade, eleições diretas para reitor, além de exigir “Fora Alckmin”.

A passeata saiu do Largo do Batata já no final da tarde, seguiu pela Avenida Faria Lima e fechou a Marginal Pinheiros. Ao som de “Olê, olê, olá/Diretas Já” e “a nossa luta/ ninguém segura/ não quero Alckmin nem sua ditadura“, os estudantes protestavam de forma pacífica, apesar do grande número de policiais que acompanhavam a manifestação.

Na Marginal Pinheiros, porém, a polícia atacou a manifestação com extrema violência, com bombas de gás lacrimogêneo e balas de borracha, que haviam sido banidas após o ato do dia 13 de junho que deixou um fotógrafo cego de um olho. Uma parte da polícia veio por um lado e a Tropa de Choque de outro, encurralando os manifestantes.

Os estudantes buscaram abrigo numa loja da Tok Stok, sendo auxiliados pelos próprios funcionários do estabelecimento. A polícia, no entanto, jogou bombas dentro da loja, que ficou tomada pelo gás lacrimogêneo. Os manifestantes conseguiram sair pelos fundos mas foram perseguidos pela polícia. Alguns policiais estavam visivelmente descontrolados, gritando frases como “vou encher esses vagabundos de porrada” e xingamentos com palavras de baixo calão.

Agressão policial e prisões
A PM deteve 56 pessoas, escolhidas de forma absolutamente aleatória. Encurralavam e prendiam.”Estávamos fugindo das bombas de gás e, como a polícia havia encurralado as pessoas, falamos com uns funcionários de um estacionamento que nos deixaram entrar lá para buscar abrigo“, relata a estudante Letícia Alcântara, do DCE da USP e da ANEL (Assembleia Nacional dos Estudantes Livre). “Passaram-se alguns minutos e chegou a polícia, com bastante truculência, xingando todo mundo e mandando todo mundo deitar no chão. Saímos em fila e fomos conduzidos por viaturas até a DP“, conta.

O estudante de História, Luiz Gustavo Ramaglia, foi barbaramente espancado pela polícia antes de ser detido. O manifestante foi encurralado pela PM enquanto tentava fugir do gás lacrimogêneo. “Eles me derrubaram e chutaram minhas pernas, minhas costelas, me bateram com cassetetes no pescoço e nos ombros“, afirma. Enquanto a polícia batia, perguntava se Luiz “tinha drogas” ou se “era do Black Bloc“.

Até mesmo um vendedor de capas de chuva foi detido pela polícia. Na delegacia, foram fotografados e interrogados com perguntas como “de que forma haviam tomado conhecimento do ato”.

Todos foram liberados na madrugada, sem qualquer acusação.

Lamentável papel do “Black Bloc”
Quem acompanhou a manifestação em São Paulo pôde presenciar o papel lamentável cumprido pelo “Black Bloc”. Logo no início da passeata, cerca de 100 manifestantes do bloco queriam se colocar à frente do ato, apesar do acordo entre os estudantes e da tradição de se abrir a marcha com a faixa que unifica o ato, no caso por “mais democracia e educação”.

Apesar de os estudantes tentarem argumentar, os “Black Blocs” se mantiveram intransigentes, tensionando durante todo o trajeto. A passeata ficou parada durante pelo menos uns 30 minutos na Faria Lima devido o impasse. Em determinado momento, já na Marginal Pinheiros, alguns integrantes do bloco chegaram a jogar sacos de lixo contra os próprios manifestantes, que não responderam à provocação. Pôr fim, os “Black Blocs” permaneceram à frente, mas a passeata manteve um distanciamento entre eles.

Ainda na marginal, integrantes dos “Black Bloc’s” e a polícia entraram em um conflito que, apesar de localizado e isolado por uma distância de pelo menos cem metros da manifestação, deu início à repressão generalizada por parte da PM e da Tropa de Choque.