As cenas são bárbaras. Um grupo de policiais literalmente metralhou uma passeata de trabalhadores mineiros da África do Sul, no último dia 16. Pelos menos 36 trabalhadores morreram. O massacre foi filmado por um repórter do sul africano da agência de notícias SAPA e rapidamente correram o mundo. Numa disputa desleal, a polícia contava com apoio de veículos blindados e helicópteros contra parte dos mineiros que, para tentar se proteger à ofensiva policial e numa demonstração de resistência, levava às mãos bastões e foices. O massacre lembrou os que ocorriam na época do regime do Apartheid, nos anos 1980.

Mais de 3 mil trabalhadores da mina de platina na cidade de Marikana, acamparam no local e montaram barricadas. A mina pertence à empresa Lonmin e fica em Marikana, a cerca de 100 quilômetros de Joanesburgo, capital da África do Sul. A Lonmin, de propriedade britânica, é a terceira maior produtora de platina do mundo.
As manifestações começaram no dia 10 de agosto, quando os operários decidiram lutar por melhores salários. A empresa qualificou a greve como “ilegal”. “Somos explorados, nem o governo nem os sindicatos nos ajudam; as empresas mineiras fazem dinheiro à custa do nosso trabalho e não nos pagam quase nada”, disse um operário à imprensa local.

Hipocrisia
Quem viu as imagens do massacre percebeu claramente a cor desses trabalhadores: eram todos negros. Não é coincidência: são os negros, a grande maioria da população, que compõem a classe trabalhadora na África do Sul, principalmente os setores mais explorados, como os que trabalham em minas. Apesar do fim do Apartheid, a sociedade sul-africana é ainda profundamente racista e dividida entre brancos (a minoria privilegiada) e negros (a maioria) explorados, com apenas uma minoria negra com acesso a melhores condições de vida (exatamente por fazer parte da “elite negra” que está no poder).

Já o presidente sul-africano, Jacob Zuma, disse estar chocado com o que aconteceu. Trata-se de uma declaração hipócrita, pois Zuma sabia da greve e da repressão há vários dias. Mais do que ninguém, o presidente sul-africano sabe muito bem quais são os métodos violentos da polícia sul-africana. Zuma sequer cogitou a possibilidade de punir a polícia, que continua tentando justificar o massacre.

A empresa mineradora deveria ser punida exemplarmente. Se a situação na mina de Marikana chegou a este ponto é porque a Lonmin tem total responsabilidade pela situação.

A mineração é uma das atividades mais rentáveis e que mais emprega trabalhadores na África do Sul e deve, por isso, pertencer ao Estado e não a uma multinacional que só quer obter altas taxas de lucros, mesmo que à custa da vida dos trabalhadores.
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