Na noite da última quinta-feira, 13, indignados com o anúncio de aumento abusivo das mensalidades para 2008, estudantes da Fundação Santo André (FSA), no ABC paulista, resolveram, em assembléia, ocupar a reitoria. Os índices de reajuste anunciados variam de 8% a 126%.

O anúncio foi feito na segunda-feira, 11, e causou grande repercussão e indignação no entre os estudantes. Rapidamente, o Diretório Acadêmico e o Centro Acadêmico de Geografia convocaram uma assembléia dos alunos da Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras (Fafil). A assembléia reuniu mais de 700 estudantes absolutamente enfurecidos com as propostas.

Os estudantes decidiram ir até a reitoria para exigir negociação dos índices de reajuste, além de incorporar reivindicações como a contratação de professores, problema que atinge diversas turmas de pelo menos oito dos 11 cursos da Fundação. Já na reitoria, os estudantes fizeram outra breve assembléia, que culminou na ocupação do local, então com cerca de 400 pessoas.

Por volta de meia-noite e meia, o número de estudantes estava reduzido a aproximadamente 200. A Tropa de Choque da Polícia Militar foi, então, acionada e, após breve e intransigente negociação entrou na sala ocupada. A cena lembrou os piores anos da ditadura: bombas de gás lacrimogêneo e de “efeito moral”, tiros de bala de borracha e o cassetete, numa ação absurdamente violenta.

Os estudantes foram “retirados” da ocupação. Cerca de dez foram detidos e 15 ficaram feridos. Diante disso, os alunos decidiram entrar em greve por tempo indeterminado, até que as suas reivindicações sejam atendidas.

Nesta sexta-feira, 14, haverá um nova assembléia, junto com uma assembléia de professores, com o objetivo de dar continuidade à greve e apresentar uma pauta de reivindicações em que constam os seguintes pontos: contra o aumento das mensalidades; pela abertura de todos os cursos da Fafil; nenhuma punição a estudantes e professores.

Breve histórico de lutas e sucateamento
A FSA foi criada em 1963 como uma instituição de ensino superior municipal, pública e gratuita. Porém, a partir de meados dos anos 1970, teve início a cobrança de pequenas taxas anuais. Tempos depois, as taxas passaram a ser semestrais, até tomarem o caráter de mensalidades, já nos anos 1990. Por fim, em 2004, a Fundação recebeu pela última vez a subvenção municipal que dividia o custeio da Faculdade com as mensalidades.

A tradição da FSA sempre foi de uma instituição que oferecia um ensino de notável qualidade (muito superior ao restante das faculdades do Grande ABC) e com mensalidades acessíveis à classe trabalhadora. Porém, a partir do período 2000/2001, a reitoria mudou sua orientação política consideravelmente: estava decidido que a Fundação se tornaria mais um “escolão” superior, para atender às necessidades do mercado – estabelecendo, entre outras coisas, contratos de parceira com a Mercedez-Bens na Faculdade de Engenharia -, sepultando qualquer possibilidade de produção de conhecimento e a prioridade ao ensino, à pesquisa e à extensão.

A prefeitura de Santo de André cumpre um papel político fundamental nesta instituição: o prefeito é quem escolhe, desde uma lista tríplice eleita pela comunidade acadêmica, o Reitor da Faculdade. O caminho planejado para a instituição certamente não sai simplesmente das mentes da reitoria, mas sim do Conselho Diretor: o famigerado Conselho que delibera sobre as mensalidades, quais cursos serão abertos e outras questões centrais e conta com a ilustre presença de quatro membros da Prefeitura de Santo André e um da Câmara dos Vereadores.

No ano passado, a reitoria implementou um Projeto de Desenvolvimento Institucional (PDI) que obrigou os colegiados de cada curso a enxurgar, precarizar e sucatear todos os cursos, correndo o risco de serem fechados caso não cumprissem a determinação imposta pelo PDI. Este projeto é parte da reforma universitária do governo Lula, que quer jogar todo ensino superior do país nas mãos da iniciativa privada.