Nesta quarta-feira, trabalhadores do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST) bloquearam oito rodovias no Rio Grande do Sul. A ação foi um protesto contra a ação truculenta da Brigada Militar na desocupação de áreas da fazenda Tarumã, em Rosário do Sul, na fronteira do estado. A ação da polícia aconteceu a poucos dias do 8 de Março, Dia Internacional de Luta da Mulher.

No final da tarde de terça-feira, 4, a polícia agiu violentamente e cometeu abusos ao despejar cerca de 900 agricultoras da Via Campesina que ocuparam a área pertencente à multinacional sueco-finlandesa, produtora de celulose, Stora Enso. Segundo informou a Agência Chasque, a Stora Enso “criou uma empresa de fachada para adquirir e plantar eucalipto dentro das faixas de fronteira”, o que não é permitido pela lei brasileira.

Centenas de mulheres foram agredidas e presas. A Agência Brasil de Fato informou, ainda, que aproximadamente 250 crianças foram retiradas de suas mães e deitadas no chão com as mãos na cabeça. A polícia impediu que as agricultoras recebessem atendimento médico, apreendeu instrumentos de trabalho e destruiu os barracos do acampamento. A imprensa que cobria a desocupação também foi intimidada, tendo materiais, como fitas, roubados pela polícia. A fazenda estava ocupada desde a manhã de terça.

Numa nota à imprensa, as agricultoras denunciaram que “plantar esse deserto verde na faixa de fronteira é um crime contra a lei de nosso país, contra o bioma Pampa e contra a soberania alimentar de nosso Estado que está cada vez mais sem terra para produzir alimentos”. “Estamos arrancando o que é ruim e plantando o que é bom para o meio-ambiente e para o povo gaúcho”, disseram.

Ilegalidade
Na ficha da Stora Enso, acumulam-se irregularidades. Pela Constituição Federal, empresas estrangeiras não podem adquirir terras a menos de 150km da fronteira nacional. Essa empresa vem adquirindo milhares de hectares na fronteira com o Uruguai em nome de uma empresa laranja criada para esse fim.

Primeiramente, quem cumpria esse papel era a Derflin, outra multinacional que produz matéria-prima para a Stora Enso. Por não ser brasileira, não pode legalizar as terras. Quem passou a comprar foi a agropecuária Azenglever, empresa brasileira, de propriedade de dois altos funcionários da Stora Enso, João Fernando Borges, diretor florestal, e Otávio Pontes, vice-presidente. Com 45 mil hectares de terras em seus nomes, se transformaram nos maiores latifundiários do Rio Grande do Sul.

O caso está sendo investigado pela Polícia Federal, mas a empresa continua atuando livremente. Além disso, o Incra informa que dos 45 mil hectares comprados pela Azenglever, “a empresa só entregou os documentos de 17 mil”.

Quem paga, manda
A Stora Enso foi uma das principais financiadoras de campanha da governadora do Rio Grande do Sul, Yeda Crusius (PSDB). Não por acaso, o governo de Yeda tem agido com truculência e tem patrocinado atos de repressão violentos no estado.

A chave da propaganda do agronegócio é a criação de empregos. A fazenda Tarumã desmente categoricamente esse argumento. Na propriedade, foram gerados dois empregos permanentes e alguns temporários. “As empresas de celulose prometem gerar emprego e desenvolvimento, mas onde elas se instalam só aumenta o êxodo rural e a pobreza. Os trabalhos que geram são temporários, sem direitos trabalhistas, em condições precárias.”, diz a nota das mulheres da Via Campesina.

O governo Lula não tomou nenhuma providência a respeito. A ministra da Casa Civil, Dilma Rousseff, deputados estaduais petistas e prefeitos petistas de cidades da fronteira oeste apóiam, no Congresso, um projeto que tramita para reduzir as áreas de fronteira, ou seja, para legalizar esse crime contra os trabalhadores e contra o meio ambiente. O projeto é de autoria do senador Sérgio Zambiasi (PTB-RS) e apoiado por Yeda Crusius.

A prometida reforma agrária – que Lula disse que seria feita “na caneta” – nunca sequer foi projetada. O ministro da agricultura, Reinhold Stephanes, é ex-ministro de Fernando Henrique Cardoso e está ligado ao agronegócio. Os heróis de Lula, segundo ele mesmo, são os usineiros e os latifundiários.

É assim que concluímos que o único lado correto nessa história é o das mulheres agricultoras sem-terra. É o lado da luta e das ações diretas. Os criminosos estão nos gabinetes dos governos federal e estadual e nas multinacionais, desmatando e gerando pobreza, miséria e precarização do trabalho.

*Com agências

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