Coligação do PSOL em Belém tem PV, PDT e PPL

Nas últimas duas semanas, algumas notícias colocaram o PSOL no centro de um debate entre a esquerda. A mais polêmica: o deputado estadual Marcelo Freixo (PSOL-RJ), pré-candidato a prefeito da cidade do Rio de Janeiro, recebeu uma doação de R$ 120 mil da empresa Victor Hugo Demolições LTDA para sua campanha eleitoral em 2012.

Essa empresa foi responsável pela demolição da Vila Autódromo após remoção forçada de centenas de famílias pela prefeitura do Rio. Em nota, Freixo disse que a contribuição da empresa foi legal e foi “tudo registrado conforme a lei e publicado pela Justiça Eleitoral”. Fica a controvérsia: é correto ou não para um partido que se diz socialista receber contribuições de empresas e empresários?

Por outro lado, destacou-se a decisão do PSOL Nacional de afirmar a sua política de alianças eleitorais com partidos burgueses, como o PDT, PSB, REDE, PV, e partidos como o PT e o PCdoB, que durante os últimos 13 anos compuseram governos burgueses.

Mostrando que essa política já está sendo aplicada, o PSOL divulgou em seu site que “em Porto Alegre, Luciana Genro (…) disputará a prefeitura da cidade em coligação com o PPL. Em Belém (…) Edmilson Rodrigues representará o PSOL no pleito em aliança com PDT, PV, PPL e provavelmente Rede e PCdoB (ainda em debate). Em Salvador o atual presidente municipal do partido, Fábio Nogueira, fará aliança com a REDE e o PPL“.

Cadê a independência de classe?
Estratégia e alianças eleitorais do PSOL


Lançamento da pré-candidatura de Marcelo Freixo no Rio

Alguns companheiros criticam o PSOL por abandonar o princípio de independência de classe. Outros setores, inclusive correntes internas do partido como a CST, criticam esta decisão por supostamente “descaracterizar o PSOL”.

Em nossa opinião, essas críticas partem de princípios corretos, mas fora de lugar. Ambas tomam como referência a visão de que a participação de partidos socialistas revolucionários nas eleições burguesas tem como objetivo difundir as ideias e o programa socialista e fortalecer a luta dos trabalhadores e o partido. Para isso, é necessária uma posição de total independência de classe diante dos partidos burgueses.

O problema é que esse critério não se aplica ao PSOL. Este partido nunca defendeu o princípio da independência de classe. Em seu site esclarece que as alianças eleitorais se regem pela orientação geral do Diretório Nacional que busca “apresentar o partido como pólo aglutinador de todos os eleitores progressistas do país, que não comungam com o retrocesso de direitos, que combatem o ajuste fiscal e enfrentam as ações da direita cotidianamente“.

É evidente, portanto, que o PSOL não tem nenhuma intenção de se apresentar como uma alternativa classista ou o objetivo de ser um pólo aglutinador dos trabalhadores. Ao contrário, a definição de eleitores “progressistas” (seja lá o que isso signifique) permite incluir empresários e políticos burgueses.

Por isso, esta política de alianças com a burguesia não descaracteriza o PSOL, ao contrário, é a linha dominante no partido que justamente caracteriza toda sua política. Faz parte de uma visão estratégica considerar correta a aliança com partidos burgueses.

É importante assinalar ainda que essa estratégia nem sequer tem algo a ver com uma frente “progressista”. Esse argumento da direção do PSOL não se sustenta. Não é possível chamar de “progressistas” partidos como o PSB, dirigido pela corrente política conservadora formada pelo falecido governador de Pernambuco, Eduardo Campos. Ou a REDE, dirigida por Marina Silva, cuja candidatura foi apoiada pelo dono da Natura e que apoiou Aécio Neves (PSDB) no segundo turno da última eleição presidencial.

Um único princípio
Mais votos, mais parlamentares

Na verdade, o único princípio que rege a participação do PSOL nas eleições é o mesmo que foi adotado pelo PT desde a década de 1990: obter o maior número de votos possível e eleger o maior número de parlamentares e postos executivos para gerir o Estado burguês e realizar reformas no sistema capitalista.

Para atingir este objetivo, valem alianças com partidos burgueses condicionadas apenas pelas circunstâncias políticas, ou seja, se a aliança traz mais votos ou, pelo contrário, significa desgaste político ao partido. Só assim é possível entender o lançamento de Luiza Erundina como candidata à prefeita de São Paulo ou as alianças de Edmilson em Belém.

Partindo dessa mesma lógica, é possível entender por que o PSOL considera correto aceitar contribuições de empresas, antes ou atualmente, de empresários como a Gerdau ou Victor Hugo Demolições. São válidas se ajudam a eleger seus candidatos.

A boa colocação do PSOL nas pesquisas, a exemplo de Luciana Genro que lidera em Porto Alegre com 20%, Freixo em segundo lugar no Rio, Erundina com 10% em São Paulo, obscurece essas alianças oportunistas e entusiasma inclusive grupos da esquerda revolucionária que consideram “sectárias” as críticas do PSTU.

Nós só alertamos: o PSOL segue os mesmos passos do PT. Pode obter êxitos eleitorais? É muito provável. No entanto, esta não é a solução da crise da esquerda brasileira provocada pela degeneração e traição do PT. Ao contrário, é o caminho seguro para uma decepção ainda maior e mais rápida.

Publicado originalmente no Opinião Socialista nº 522

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