Nos últimos dias, a já conhecida violência praticada pela Polícia Militar contra a população pobre, atingiu níveis dramáticos, explicitando todo o caráter de classe dessa corporação fascista. No entanto, infelizmente, não se trata apenas de um salto no grau de brutalidade da PM, mas a revelação de uma prática cotidiana de agressões e torturas impostas nas favelas e periferias da cidade.

Na manhã do dia 4 de maio, um grupo de moradores do conjunto habitacional e da favela Chácara Bela Vista, em São Paulo, SP, ateou fogo em pneus, interditando a marginal Tietê, que dá acesso à rodovia Ayrton Senna. Os moradores, de forma espontânea, protestavam contra as agressões diárias praticadas pela polícia contra a comunidade.

O protesto foi selvagemente reprimido, com bombas de efeito moral, balas de borracha e gás lacrimogêneo. Alguns tentavam revidar os ataques com pedras, protagonizando cenas mais parecidas com a resistência palestina contra o massacre de Israel.

Depoimentos dos moradores dão conta que a PM invade a favela e espanca indiscriminadamente a população. Uma mulher grávida afirma ter perdido o filho em razão das agressões. A polícia ainda se recusa a socorrer os feridos. Uma das policiais mais violentas que atua na área tem a singela alcunha de “Kate Mahoney”, personagem da série de TV dos anos 80 chamada “Dama de Ouro”. A policial teria chegado a cortar a orelha de uma criança na favela. “Ela gosta de surrar trabalhador, não respeita ninguém”, denunciou um morador ao jornal Diário de S. Paulo.

A pista foi liberada após a PM ter prometido investigar as denúncias de abuso. No entanto, a violência continuou e os moradores voltaram a fechar o trânsito no início da noite. Porém, ao invés de negociação, a tropa de choque foi enviada para reprimir novamente os moradores. Desta vez, os policiais não ficaram satisfeitos em dispersar com a força o protesto. A tropa de choque invadiu o conjunto habitacional, espalhando o pânico entre a população pobre do bairro.

A favela ficou ocupada e a marginal cercada por viaturas da polícia durante a madrugada e todo o dia seguinte, a fim de impedir novas manifestações.

PM racista reprime show de rap
Na madrugada de domingo, dia 6, outra demonstração da violência e brutalidade da polícia gerou cenas de puro sadismo na capital paulista. A Polícia Militar reprimiu duramente um show do grupo de rap Racionais MC´s, que se apresentavam na Virada Cultural, evento realizado pela prefeitura de São Paulo.

Numa atitude claramente racista, a polícia investiu contra o público do show, com bombas de gás, balas de borracha e golpes de cacetetes. O confronto, que ocorria na Praça da Sé, se estendeu numa batalha campal por várias áreas do centro. Segundo a polícia, o conflito teve início quando um pequeno grupo resolveu subir em uma banca de jornal para assistir a apresentação. Com a recusa dos jovens em descer, a PM resolveu dispersar a multidão com violência.

Não se importando com a grande presença de mulheres e crianças, a PM distribuiu pancadaria na multidão, majoritariamente formada por jovens negros da periferia. A Força Tática e o Batalhão de Choque foram chamados para reprimir a população. A polícia e a grande imprensa, como não poderia deixar de ser, acusaram os Racionais de “instigarem” o público contra a PM.

Aumento da repressão
Esses dois fatos expressam o evidente aumento da repressão que os movimentos sociais e a população pobre sofrem nas mãos da polícia. Inscrevem-se, assim, nos marcos de outras lamentáveis ocorrências, como a brutal repressão perpetrada pela PM na manifestação do 8 de Março, em defesa dos direitos das mulheres e contra a presença de Bush no Brasil.