Plenária contou com a participação de dois ex-vereadores do partido.

Encontro reuniu militantes, apoiadores e trabalhadores de diversas categorias

Em Natal, a tarde de sol do último sábado, dia 12, era um convite para as pessoas irem à praia, mesmo com a cidade ainda respirando o caos da desastrosa administração da ex-prefeita Micarla de Sousa (PV). Mas o programa escolhido por dezenas de apoiadores, militantes e trabalhadores de diversas categorias foi outro. As cadeiras do auditório do Instituto Federal do Rio Grande do Norte (IFRN) nem demoraram a serem ocupadas por professores, estudantes, servidores da saúde pública, petroleiros, rodoviários, entre outros. Estavam todos ali, cerca de 110 pessoas, para a primeira plenária do mandato da professora Amanda Gurgel (PSTU.

A plenária da vereadora mais votada da história de Natal foi realizada com o objetivo de convocar os trabalhadores a participarem da elaboração dos projetos e das primeiras iniciativas do mandato socialista. A abertura do evento ficou por conta dos cordelistas Nando Poeta, Abaeté do Cordel e Hélio Gomes, que abrilhantaram o momento com suas poesias. Uma delas, inclusive, foi dedicada pelo poeta Hélio Gomes ao mandato da professora Amanda Gurgel. “Mandato socialista / Vai à rua, vai à praça / Leva o povo para a Câmara / Pra gritar, ganhar na raça / Benefícios pra cidade / Ou impedir qualquer trapaça.”, dizia um trecho.

Para enriquecer o debate político sobre como deve ser um mandato socialista, a plenária contou com as importantes participações de dois ex-vereadores do partido. Fábio José, eleito pelo PSTU em Juazeiro do Norte (CE), entre os anos de 2001 e 2004, e Romildo Raposo, eleito pelo PT em Diadema (SP), nos anos de 1989 e 1992 (Romildo era da corrente interna Convergência Socialista, uma das fundadoras do PSTU). Nas palestras coordenadas pelo professor Dário Barbosa, presidente estadual do partido, os dois ex-vereadores contaram suas experiências de luta política no parlamento e alertaram sobre as dificuldades que os revolucionários enfrentam no terreno do inimigo.

Antes do início da plenária, foi respeitado um minuto de silêncio em memória do operário da construção civil de Belém (PA) e militante do PSTU, Adilson Duarte, que morreu afogado no último dia 6.

“Não se chega ao socialismo pelo parlamento.”
Em sua exposição, Fábio José destacou as principais características que marcam a atuação de um mandato socialista e fez relatos impressionantes de quando foi vereador em Juazeiro do Norte. O professor da Universidade Rural do Cariri (URCA) disse que o parlamento burguês deve servir unicamente como ponto de apoio dos revolucionários para mobilizar os trabalhadores em direção a uma profunda mudança social.“O mandato socialista tem que servir para potencializar e fortalecer a mais elementar reivindicação dos trabalhadores. Se nós queremos fazer uma revolução nesse país, nós devemos disputar a consciência das massas trabalhadoras. Um mandato parlamentar ajuda nessa luta, mas não é o objetivo final. Não se chega ao socialismo pelo parlamento.”, assegurou o ex-vereador do PSTU.

Fábio José falou também sobre as pressões que o parlamentar socialista pode sofrer por atuar de forma combativa. Durante seu mandato, o professor universitário apresentou projetos em defesa dos trabalhadores, apoiou lutas na cidade e foi responsável pelas denúncias de corrupção que derrubaram a Mesa Diretora da Câmara de Juazeiro. “Os parlamentares burgueses vão tentar nos intimidar. Quando fui vereador em Juazeiro passei duas semanas com um matador rondando o quarteirão da minha casa. Quem garantiu a minha segurança, quando sofri ameaças de morte, foi o partido. Não foi a polícia.”, lembrou.

O ex-vereador pelo PSTU encerrou sua apresentação destacando a importância do mandato da professora Amanda Gurgel e da iniciativa da plenária com a população. “Temos a convicção de que a Amanda pode traduzir os anseios dessa coletividade, apresentando projetos de interesse dos trabalhadores e sendo uma porta-voz. Essa plenária é o primeiro passo para organizar aqueles que querem mudar Natal, o Brasil e o mundo.”, disse.

“Covil de bandidos”
Romildo Raposo foi vereador em Diadema (SP) entre os anos de 1989 e 1992. Eleito pelo PT (Romildo fazia parte da corrente Convergência Socialista, uma das fundadoras do PSTU), ficou conhecido pelas lutas em defesa dos metalúrgicos e, principalmente, pelo apoio à causa do movimento por moradia. Na primeira plenária de apoiadores do mandato de Amanda Gurgel, o hoje professor de Sociologia da Educação na UFPB não teve dúvidas sobre como qualificar o lugar que a professora terá de frequentar pelos próximos quatro anos. “Ela vai estar num covil de bandidos. E vai precisar da ajuda de vocês e do partido para enfrentá-los.”, afirmou Romildo.

Como vereador, Raposo chegou a ser preso, por 45 dias, depois de apoiar e participar de um ato público durante uma ocupação de um terreno abandonado. O apoio de seu mandato foi decisivo para a conquista das casas pelos moradores. O fruto desta luta, a Vila Socialista, está de pé até hoje em Diadema. Para Romildo, essa experiência ilustra bem como deve ser a atuação de um parlamentar socialista. “É preciso fazer muita denúncia, apresentar projetos que atendam as necessidades dos trabalhadores e sempre discutir tudo com as categorias, com os moradores dos bairros. É pra mobilizá-los que usamos o mandato.”, explicou. E concluiu: “O mandato socialista precisa ter independência de classe e compromisso com os trabalhadores.”.

“Me senti fortalecida com a plenária”
Nestes primeiros dias de mandato, a professora Amanda Gurgel já deu uma clara demonstração de como será a atuação socialista do PSTU em Natal. Nas sessões extraordinárias da semana passada, Amanda denunciou e votou contra a proposta da Câmara que aumentou o número de cargos comissionados dos vereadores. A professora apresentou um projeto substitutivo proibindo a criação de mais 80 cargos desnecessários, mas a maioria da Câmara foi contrária. “A cidade neste caos em que se encontra, com o ano letivo encerrado mais cedo, a saúde numa calamidade, e a mesa diretora da Câmara de Natal convocou uma sessão extraordinária simplesmente para aprovar um aumento de cargos comissionados dos vereadores. Um desrespeito.”, criticou Amanda, durante a plenária.

A vereadora afirmou também que o mandato estará a serviço das lutas dos trabalhadores por saúde e educação públicas de qualidade, transporte e em defesa das mulheres que sofrem com o machismo. Amanda lembrou que sua atuação na Câmara não será indiferente diante da violência machista e disse que o mandato irá lutar, junto com as mulheres, pela criação de delegacias especiais e casas-abrigo. “Em briga de marido e mulher, nosso mandato vai, sim, meter a colher.”, avisou.

Ao final de sua exposição, a professora agradeceu a presença dos apoiadores e fez um convite para que todos seguissem participando do mandato, ajudando a mobilizar os trabalhadores e a elaborar os projetos que serão apresentados na Câmara. Amanda anunciou, inclusive, a criação de grupos de trabalho dos quais os trabalhadores deverão participar para discutir propostas sobre diversos temas da cidade. “Me senti fortalecida com a plenária. As pessoas demonstraram que continuam com essa indignação, com a chama da indignação acesa. Demonstraram isso nessa plenária quando se dispuseram a fazer parte dos grupos de trabalho. E isso é bom demais.”, comemorou a vereadora.

Participação popular
A primeira plenária do mandato da vereadora Amanda Gurgel foi bastante representativa. Participaram do evento trabalhadores de diversas categorias, como professores, profissionais da saúde, rodoviários e petroleiros. Destaque ainda para os moradores do Conjunto Nova Natal, onde Amanda é professora. Várias entidades também compareceram à plenária, a exemplo da Assembleia Nacional dos Estudantes – Livre (ANEL), centros acadêmicos da UFRN, Coletivo Feminista Leila Diniz e os Sindicatos dos Trabalhadores da Saúde e Educação de São Gonçalo do Amarante (Sindsaúde e Sinte).

Durante a plenária, muitos trabalhadores e trabalhadoras fizeram declarações de apoio ao mandato, deram sugestões de iniciativas e se dispuseram a participar da elaboração dos projetos. A professora de Língua Portuguesa, Ricaline da Costa, foi uma delas. “Sou professora, mas quero participar do grupo de trabalho da saúde porque sou usuária do SUS e acredito que devemos lutar para que ele seja de qualidade para todos.”, disse. Ricaline foi filiada ao PT por dez anos, mas deixou o partido depois de muitas desilusões. Na plenária, ela aproveitou para dizer que estava se filiando ao PSTU. “Acredito na política defendida por este partido e pela professora Amanda.”, declarou.

Depoimento emocionante também deu o técnico em segurança do trabalho da Petrobrás, Ionaldo Morais. Militante do PCdoB por 20 anos, Ionaldo rompeu com o partido e se aproximou da campanha da professora Amanda Gurgel. “Eu ouvi as palavras 'revolução' e 'socialismo' bem mais vezes nesta plenária do PSTU do que em 20 anos como militante do PCdoB. Eu acho que o mandato de Amanda é algo especial, que pode dar uma nova motivação para os trabalhadores.”, afirmou.

O petroleiro disse ainda que a defesa da causa ambiental deve estar na pauta política das esquerdas e sugeriu que a proposta fosse incorporada pelo mandato da professora Amanda Gurgel. “Há um grande desafio hoje para as esquerdas, que é incorporar a luta em defesa do planeta sem negligenciar as lutas tradicionais dos trabalhadores. Não podemos mais admitir que essa luta seja conduzida por ONGs ou por partidos que se dizem verdes. A defesa do planeta é uma pauta urgente do socialismo.”, analisou.

A plenária foi encerrada com a formação dos grupos de trabalho sobre educação, saúde, transporte, cultura e mulheres, que terão a função de elaborar projetos para o mandato com base nos problemas enfrentados pelos trabalhadores e a população. No próximo dia 23 de fevereiro, o grupo de educação já irá realizar o primeiro seminário temático. E no sábado de Carnaval, dia 9, sairá a segunda edição do Cuscuz Alegado, bloco inspirado no discurso da professora Amanda Gurgel.