Na tarde desta quinta-feira (24), no auditório da Apeoesp no centro de São Paulo, ocorreu a Plenária sobre a Crise da Água em São Paulo, com a participação de entidades e movimentos sociais.

 A mesa da atividade – composta por Helena Silvestre, representando o Movimento Luta Popular, Claudionor Brandão, representando os lutadores da USP, Camila Lisboa, representando o Sindicato dos Metroviários, e Marzeni Pereira, da Sabesp – tratou de sugerir ações concretas para combater esta tragédia anunciada, sem perder de vista a responsabilização do governador Geraldo Alckmin pela crítica situação hídrica que vivemos.  

A participação de Marzeni da oposição do Sintaema (Sindicato dos Trabalhadores em Água, Esgoto e Meio Ambiente do Estado de São Paulo), o sindicato que representa os trabalhadores da Sabesp, teve importância por trazer à tona dados que nos alertam para os diversos campos a serem prejudicados com a falta de água. E intervenções realizadas após a discussão, também levantaram a necessidade de unidade entre os trabalhadores, que poderão ser alvos do desemprego, consequente da falta de abastecimento, e os movimentos sociais que lutam contra a criminalização, uma vez que é muito provável a repressão aos atos de protesto contra a falta de água.  

Para Brandão, é necessário organizar uma linha de frente única para as mobilizações, e cita a revolta já relatada em outras cidades do estado de São Paulo. “Fatalmente vai acontecer aqui na capital também, na medida em que a situação se agravar, e é preciso que haja uma direção organizada, para o movimento ganhar corpo, e que este tema vire pauta das causas populares”.  

As privatizações da estatal Sabesp foram colocadas em pauta por Camila Lisboa, que citou também a urgência de denúncia do governo por improbidade administrativa. “Já existe uma situação de racionamento. Isso nos traz indignação, mas precisamos transformar este sentimento em mobilização. O caso de Itu é muito categórico e tudo isso poderia ter sido evitado, mas o compromisso com a privatização e o período eleitoral foi maior”, frisou.  

E se as cidades interioranas já estão assim, as periferias da capital paulistana já vivem o caos do desabastecimento há muito tempo. Helena relata que há dias não há água na Ocupação Esperança, em Osasco, e que muitos bairros nos arredores também não recebem água. “Precisamos incorporar melhor este tema com a perspectiva da luta direta em nossas pautas habituais. E é necessário encarar o problema mais de fundo, para além de responsabilizar o governador, pensar a reforma agrária e sobre como o agronegócio afeta o sistema de águas no país”, adiciona a companheira, que citou também receber diversos relatos casos de diarreia e intoxicação na ocupação e na região.

Marzeni, da oposição do Sintaema, revelou que a estatal já fecha os reservatórios no período entre 17h e 5h da manhã. “Se não fizesse isso, já teria acabado a água. Só falta o governo assumir, pois está mais do que óbvio para todos que já está faltando água”.  

Já existe uma situação de rodízio acontecendo. O Sistema Cantareira secou e está em -15%. O nível de operação já passou disso. Quando no final de novembro passarem a distribuir a segunda cota do volume morto, a situação de Piracicaba e Campinas deve piorar, pois o abastecimento será prejudicado. O Sistema Alto do Tietê tem 8% hoje, que deve durar por cerca de 40 dias. Se não chover até janeiro, o risco não é o de faltar água, é de acabar água mesmo, e não ter água para ninguém. Não será mais possível fazer rodízio”.  

Desde janeiro, a crise já estava constatada, e com as pressões da população e dos movimentos organizados, denúncias que comprovam a improbidade administrativa do governado Alckmin não param de surgir, inclusive com relatos públicos da presidente da estatal que confirmam a propaganda enganosa da situação sob controle. Segundo Marzeni, se houvesse planos de rodízio e racionamento desde o início, a situação de hoje seria muito diferente, e que o há por vir será ainda pior. “Tenho certeza de que, após o segundo turno, o governador, que já não precisará mais ajudar o Aécio, tomará medidas impopulares para conter a crise”, conclui.  

Como encaminhamento da plenária, foi sugerido fortalecermos o evento já convocado pelo movimento estudantil Juntos e por outros movimentos, organizado para acontecer no dia 1º de novembro, às 15h, no vão do Masp. 

 Além deste primeiro ato, as reuniões devem acontecer com regularidade para firmar agenda de mobilizações, a fim de convidar outras entidades para somar forças e confrontar a crise atual da falta de água.

 Este movimento unificado deve trazer para a sociedade mais informações e estabelecer um programa claro de reivindicações a serem exigidas ao governo, colocando em ação também uma Comissão Popular de Inquérito, com a assistência jurídica de advogados, para investigar o estelionato eleitoral promovido por Geraldo Alckmin, além de colocar peso em campanhas contra as previsíveis demissões nas empresas que sofrerão com a falta de água e a linha de produção.

LEIA MAIS
São Paulo: lata d’água na cabeça