Redação

Ocupação Pinheirinho, em São José dos Campos (SP), completa mais um anoO sábado dia 23 foi de festa na ocupação do Pinheirinho. Os moradores comemoraram os quatro anos desde 26 de fevereiro de 2004, quando várias famílias fizeram de um terreno abandonado o início de um sonho. A festa começou com um bolo de quatro metros – um para cada ano. Feito por moradoras do Pinheirinho, o bolo estava caprichado: cobertura, recheio de doce de leite e desenhos de pinheirinhos. A comemoração seguiu adiante com música e capoeira, com crianças.

O Pinheirinho tem 1,3 milhão de metros quadrados, quase 900 vezes o gramado do Maracanã. No centro desse enorme espaço, os moradores construíram um palco. Tudo acontece ali: reuniões, atos, assembléias. Foi onde a festa aconteceu e muitos discursaram. Sindicalistas e militantes que acompanharam a luta dos moradores, como os sindicatos de metalúrgicos e de químicos, a Conlutas e a Intersindical. Também estavam os partidos, como o PSTU de Zé Maria, Ernesto Gradella e Toninho, e o PSOL, representado por Plínio de Arruda Sampaio. Além de dezenas de ativistas que atenderam o convite e foram conhecer o Pinheirinho.

“A vida é difícil e já foi pior. Fico feliz em comemorar quatro anos de luta e muita resistência”, afirmou Valdir Martins, o “Marrom”, da coordenação da ocupação e do Must (Movimento Urbano dos Sem-Teto). A resistência da qual ele fala não é força de expressão. A prefeitura do PSDB e o ex-proprietário, o milionário Naji Nahas, já tentaram por diversas vezes desocupar o terreno.
O prefeito tucano insiste em expulsar os moradores do Pinheirinho e já enviou a polícia diversas vezes ao local. Os moradores foram às ruas e ameaçaram resistir. Nesses momentos, era comum mulheres afirmarem que preferiam atear fogo aos barracos a vê-los derrubados pela polícia.

Essa garra das mulheres é uma das marcas da ocupação. Quase 80% da coordenação é formada por mulheres. “Isso reflete o acampamento, onde a maioria é de mulheres. Chefes de família abandonadas pela família ou pelo marido e que hoje cuidam sozinhas dos filhos”, conta Toninho, da Conlutas. Uma realidade bem diferente da mostrada na novela Duas Caras, da Globo, que possui uma ocupação urbana. “Das vezes em que acompanhei a novela, vi que não tem muita coisa a ver com o Pinheirinho. Só a pobreza é igual. Mas aqui a população é quem decide as coisas, a maioria decide o que é melhor. Aqui não tem esse negócio de autoritarismo. Nós, da coordenação, orientamos, mas ninguém impõe nada não!”, afirma Waldirene de Paula, de 28 anos, há três anos no local. Além das assembléias, os moradores também se organizam em 14 grupos, que mantêm a vida do Pinheirinho em relação a temas como limpeza, atividades, cultura etc.

Mesmo sem esgoto e asfalto, muitas famílias vêm se juntar ao acampamento. Há um ano, já eram 1.380 famílias, quase 200 a mais do que em 2004. O sonho da moradia digna atrai cada vez mais, em uma cidade onde o déficit habitacional é de 20 mil casas. “O Pinheirinho é um desafio aberto contra o projeto de ‘higienização’ social projetado pelos tucanos. Essa idéia neoliberal e nojenta de ‘limpar’ as favelas, expulsando seus moradores para as áreas mais distantes possíveis. Vencer aqui é dar ao Brasil um exemplo de que a luta por moradia e condições dignas de vida não só é necessária e justa, mas também é possível”, afirma Marrom, da coordenação.

Post author Angélica de Paula, de São José dos Campos (SP) e Gustavo Sixel, da redação
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