Em 2008, no auge da crise financeira mundial, o então presidente Lula destinou R$ 4 bilhões às montadoras. Como era de se esperar, essa política de ajuda encheu os bolsos das grandes multinacionais. Essa é a realidade das montadoras de carros e caminhões instaladas na região Sul Fluminense, no estado do Rio de Janeiro.

Os lucros da Peugeot cresceram 69% em 2010. A empresa de origem francesa, instalada há dez anos no município de Porto Real (RJ), vendeu 174.400 carros no ano passado, um recorde histórico desde sua implantação no país. Isso fez com que ela abocanhasse uma fatia grande no mercado, passando a ser a quinta entre as maiores vendedoras. Se comparada às montadoras instaladas no Brasil a partir da década de 1990, a Peugeot passa a ser a primeira. Para se ter uma noção da exploração, são produzidos 32 carros por hora, e a empresa quer aumentar esse número para 60 em 2011.

A Man Latin America produzia um caminhão por dia em 1996. Hoje, produz 300. A empresa, de origem alemã, é a fabricante dos caminhões e ônibus da Volkswagen. A Man está há 30 anos instalada na cidade de Resende (RJ). É a primeira na venda nacional de caminhões e vice-líder no mercado de ônibus desde 1993. No ano passado, suas vendas cresceram 42% com relação a 2009. Mas nada disso se reflete no salário e na Participação dos Lucros e Resultados (PLR) de seus trabalhadores.

Para as montadoras, tudo; aos trabalhadores, nada!
Diante dos números apresentados, é revoltante saber da proposta apresentada pelos patrões. A Man ofereceu medíocres 1,5% de aumento real nos salários em 2011, PLR de R$ 4.400 e um abono de R$ 1.700. Esse valor chega a ser menor do que o oferecido no ano passado.

A Peugeot ainda não apresentou uma proposta oficial, mas já indica que seguirá o mesmo caminho da montadora alemã. A cada dia que passa, os metalúrgicos do Sul Fluminense vão chegando a uma triste constatação: patrão não tem coração, só conta bancária!

No dia 8 de fevereiro, a Man levou à apreciação dos trabalhadores a proposta de PLR e reajuste salarial: 2.094 votaram contra, e 70 a favor. Mais de 95% dos operários deixaram o recado nas urnas. Há uma indignação crescente no chão da fábrica, e já se cogita parar a produção. No final da semana passada ocorreu, espontaneamente, o atraso de uma hora na entrada de um turno.

Os metalúrgicos da Peugeot observam atentos o movimento que está ocorrendo na montadora vizinha e começam a se mobilizar.

Sindicato na contramão
Infelizmente, o sindicato dos metalúrgicos, dirigido pela Central dos Trabalhadores do Brasil (CTB), ligada majoritariamente ao PCdoB, não vem fazendo a sua parte. Pelo contrário, parece que joga no time do adversário.

A Peugeot lançou um jornal comemorativo aos dez anos de existência na região. Numa de suas páginas, em destaque, está uma propaganda do sindicato homenageando a empresa por seu “grande feito econômico”. Até o momento, o sindicato não mexeu uma vírgula para colocar a campanha salarial e a luta por uma PLR justa em campo.

A oposição metalúrgica, ligada à CSP-Conlutas, está apoiando os trabalhadores em sua luta, exigindo que a direção do sindicato rompa com essa política de colaboração com as empresas, levando à frente as reivindicações dos operários até as últimas consequências, inclusive preparando as condições para uma futura greve unificada da categoria. Esse é o caminho da vitória!