Teve início nesta segunda-feira, 14, a primeira greve petroleira com parada de produção desde 2001. A paralisação foi marcada para durar até sexta-feira, 18. O movimento atinge 33 plataformas e navios de perfuração da Bacia de Campos, no Norte Fluminense (RJ). Não está descartada a continuidade da greve após o dia 18 caso a Petrobras não atenda às reivindicações.

O motivo da manifestação é uma exigência que já vem sendo feita há pelo menos dez anos. Os petroleiros querem o pagamento do dia de desembarque. Hoje, os trabalhadores permanecem 14 dias embarcados na plataforma. No 15º dia, o do desembarque, eles permanecem à disposição da empresa antes de irem para suas casas, porém sem receber.

Além disso, há uma luta pela PLR que unifica toda a categoria em nível nacional. Os sindicatos ligados à Frente Nacional dos Petroleiros (FNP), dentre os quais o Sindipetro-RJ, vão avaliar a participação na greve com base nessa reivindicação.

Na quarta-feira, também acontece uma assembléia dos petroleiros do Rio de Janeiro. Eduardo Henrique, diretor do Sindipetro-RJ, disse que “a idéia é construir um calendário comum, que unifique a categoria em todo o país”. A greve da Bacia de Campos, então, poderá se transformar numa mobilização nacional de plataformas, refinarias, terminais e setores administrativos.

Empresa faz de tudo para impedir greve
A Petrobras está agindo com intransigência contra os trabalhadores. Para impedir a comunicação dos operários que estão nas plataformas, onde não funcionam celulares, a estatal cortou o acesso à internet.

Além disso, tentou manter alguns petroleiros nas plataformas contra a vontade deles, o que configura cárcere privado. Isso fez com que o Sindipetro-NF ingressasse na Justiça com um pedido de habeas corpus.

A Petrobras também ingressou com um interdito proibitório junto ao Tribunal Regional do Trabalho para impedir o acesso dos grevistas às salas de controle. A política de ameaças e intimidações da empresa é um claro ataque ao direito de greve e de organização sindical dos trabalhadores.

Greve já causa prejuízo
A intransigência da Petrobras não é à toa. Ainda no primeiro dia de greve, a extração de óleo da Petrobras foi reduzida em 63 mil barris. Segundo o jornal Gazeta Mercantil, essa redução causou uma perda de US$ 6 milhões a US$ 12 milhões. Esse valor seria suficiente para pagar o 15º dia dos petroleiros por um ano.

Até sexta-feira, as perdas podem atingir US$ 60 milhões. A Bacia de Campos tem 42 plataformas e é responsável por cerca de 80% do petróleo produzido em todo o Brasil. Segundo avaliação do Sindipetro-NF, 7,5 milhões de barris de petróleo poderão deixar de ser produzidos durante a greve.

Petrobras coloca em risco a vida de trabalhadores
Para tentar manter a produção e não ceder às exigências dos petroleiros, a Petrobras conseguiu, na Justiça, liminar para implementar um plano de contingência. Isso significa deslocar trabalhadores de outros setores para operar nas plataformas.

Segundo informou um trabalhador, os grevistas estão sendo desembarcados das plataformas. Em seu lugar, estão trabalhando gerentes, engenheiros e coordenadores, entre outros. Eles não estão habilitados para operar. Essa situação coloca em risco a vida dos trabalhadores e os equipamentos da estatal.

Além disso, esses substitutos estão em número muito abaixo do número de petroleiros que operam normalmente. Isso gera uma pressão para produzir mais em menos tempo e sem o treinamento adequado.

O Sindipetro-NF informou que também não há nesse contingente da empresa responsáveis por segurança, como brigada de incêndio e pessoas capacitadas a resgatar os trabalhadores em caso de acidente.

Mais lucro, mais exploração
A Petrobras tem atingido lucros recordes. Em 2006, o governo Lula comemorou e fez alarde porque o Brasil conquistou a auto-suficiência em Petróleo. No entanto, nada disso serviu para melhorar a situação dos petroleiros. Pelo contrário, as condições de trabalho estão cada vez piores.

Durante o governo Lula, a terceirização da mão-de-obra aumentou. Em 2005, eram 153 mil terceirizados contra 126 mil em 2003. Esses trabalhadores têm salário arrochado e menos direitos trabalhistas em relação aos petroleiros concursados. Os que ousam reivindicar são punidos. Basta ver o caso das demissões na Revap, em São José dos Campos (SP). Já os trabalhadores concursados são apenas 46 mil.

Nas plataformas, os petroleiros operam sob tensão permanente. Durante 15 dias, eles ficam nas plataformas, longe de casa e da família.

A insegurança é constante. Somente em 2008, já aconteceram pelo menos oito mortes. A última registrada foi no dia 10 de julho, na Bacia de Campos. Alessandro Paulo da Cruz, 37 anos, foi atingido na cabeça por tubo e morreu na hora. Ele era terceirizado.

O controle estatal é cada vez menor: mais de 60% do capital da Petrobras é privado e quase 50% das ações pertencem a empresas estrangeiras. Assim, a empresa é responsável por grande parte da fuga de capitais do país. Enquanto isso, recusa-se a atender as reivindicações de seus trabalhadores.

Estes são apenas alguns argumentos que mais que justificam a greve petroleira. Como empresa de controle estatal, a Petrobras tem de atender, em primeiro lugar, aos interesses dos seus trabalhadores e da população. É, portanto, responsabilidade do governo federal garantir os direitos dos petroleiros.

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