Entre os dias 23 e 27 de março, os petroleiros realizaram uma importante greve nacional. Estes operários que em 1995 protagonizaram um dos enfrentamentos mais importantes da luta de classes voltaram ao cenário nacional realizando novos enfrentamentos. A greve pode indicar uma mudança importante no ânimo da classe trabalhadora brasileira. Além disso, a luta dos petroleiros mostra que somente as greves e mobilizações podem garantir os direitos dos trabalhadores.

Esta greve demonstra sem dúvida que a classe operária está no centro do cenário nacional. Em meio à crise econômica, são os operários que estão à frente dos principais conflitos.

A greve contou com 80% de paralisação no setor operacional. Nos setores administrativos, variou de 30% a 70%. A mobilização se destacou pela unidade construída na base entre petroleiros terceirizados e ativos e entre aposentados e jovens petroleiros.

A greve petroleira foi nacional. Os petroleiros cortaram os turnos em todo o país em refinarias no Rio Grande do Sul, Paraná, Rio de Janeiro, Minas Gerais, São Paulo, Bahia e Amazonas, plataformas terrestres e marítimas na Bacia de Campos, Espírito Santo, Rio Grande do Norte e Amazonas, além de terminais.

Apesar de as principais reivindicações serem sindicais, principalmente porque a direção da FUP (Federação Única dos Petroleiros, ligada à CUT) tentou manter o governo Lula sempre fora do foco, esta foi a primeira greve de uma categoria que apresentou reivindicações em defesa dos trabalhadores terceirizados. Como a estabilidade no emprego e melhores condições de segurança no trabalho.

Além disso, várias assembleias dos trabalhadores aprovaram reivindicações políticas de exigências a Lula, como a da Petrobras 100% estatal e a de que todo o petróleo tem que ser nosso.

Muito mais poderia ter sido conquistado
A greve teve principalmente vitórias econômicas, como o aumento da PLR, seu pagamento integral no dia 5 de maio, um acréscimo de R$ 2 mil para todos (refletindo um crescimento de 15% na proposta inicial para o piso, onde está a maioria dos ativistas e dos trabalhadores) e o pagamento de hora extra no 1° de maio para o pessoal do turno e sobreaviso.

Mas os dias parados serão todos descontados, um por mês e sem reflexos trabalhistas. Sobre os interditos proibitórios impetrados pela empresa e a estabilidade e segurança dos terceirizados, as formulações ainda são vagas e serão formadas comissões para estudá-las.

No meio da greve, a direção da Petrobras ameaçou com punições os grevistas que “tivessem cometido excessos”. No final da greve, a empresa não apresentou nenhuma garantia de que estas punições não vão ocorrer. Apresentou apenas uma declaração oral de que “esta não uma é prática da empresa”. Mas a Petrobras já puniu trabalhadores que participaram em movimentos anteriormente. Também mentiu quando se comprometeu a pagar a primeira parcela da PLR em janeiro.

Na greve, os petroleiros poderiam ter arrancado estas reivindicações, pois o movimento estava muito forte. Por isso, o Base-Conlutas defendeu a continuidade da greve até que os petroleiros conquistassem suas reivindicações. Temos a mais absoluta certeza de que, se a greve continuasse, se unificasse com o restante dos trabalhadores do país no Dia Nacional de Lutas, em 30 de março, e realizasse atividades políticas como a caravana a Brasília, arrancaríamos pelo menos os dias parados e o compromisso expresso de que não haveria punições.

Isso somente não ocorreu porque a direção da FUP quis proteger o governo Lula e a direção da Petrobras, que estavam encostados contra a parede e seriam obrigados a fazer concessões.

No entanto, a greve foi vitoriosa de maneira geral. Nela surgiram uma nova vanguarda e novos piqueteiros. Novos enfrentamentos virão e os trabalhadores estarão mais conscientes e com experiência quanto aos objetivos de sua direção.
Em muitas assembleias os trabalhadores concordaram conosco, mas tinham insegurança em continuar a greve com a direção dividida. Mesmo assim, em muitas delas se votou que, havendo punições, voltaria a greve. Em uma assembleia em Macaé (RJ), a votação pela continuidade da greve teve mais de 80 votos contra 120.

Controle operário
Um dos pontos fracos da greve foi o fato de a direção da empresa ter preparado os grupos de contingência que ocuparam plataformas, refinarias e terminais. Estes “pelegos” e chefes garantiram por algum tempo e em alguns lugares a produção. Ainda que com grandes riscos para a segurança.

Temos que preparar uma próxima greve em que os trabalhadores possam ficar em seus locais de trabalho para que haja o controle operário da produção pelos sindicatos e organizações nacionais, pois assim a direção da empresa será obrigada a ceder mais rápido.

Continuar a luta pela estatização total da Petrobras
A vitória da greve petroleira tem que ser encarada como um primeiro passo, pois a luta não para aqui. Segue agora uma luta dos petroleiros da Petrobras, dos terceirizados e do conjunto da sociedade.

Somente uma Petrobras totalmente estatal poderá garantir condições de segurança e trabalhado e garantia de emprego para todos os trabalhadores. Também só assim se poderá assegurar que a produção esteja a serviço da população mais carente do país.

Por isso, os sindicatos devem seguir a deliberação da assembleia dos petroleiros de Campinas (SP) e organizar uma grande caravana a Brasília para exigir do presidente Lula a completa estatização da Petrobras, no marco de uma grande campanha nacional.

Preparar a campanha salarial de setembro
Outro desafio dos petroleiros será o de organizar a campanha salarial de setembro. O dirigente do Sindipetro – SE/AL Clarkson Messias explica: “Nós petroleiros, aposentados, terceirizados ou próprios, temos que exigir novamente da FUP e da FNP que iniciem já a campanha salarial de 2009, levantando as demandas da categoria. Debatendo o balanço desta greve, seus ensinamentos e como derrotaremos a burocracia da empresa e do governo”.

Segundo o sindicalista, entres as principais reivindicações estão a reposição das perdas para toda categoria inclusive para os aposentados; periculosidade pra valer; pagamento do extra turno; inclusão dos pais no plano de saúde – MAS; licença-maternidade de 180 dias e paternidade de um mês e único plano de previdência – o Petros BD.

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