Os petroleiros da refinaria de Paulínia (Replan) deram um exemplo de resistência ao corte de direitos neste país. A Petrobras, assim como governos e patrões, vem querendo colocar a conta da crise nas costas dos trabalhadores. A empresa fez um ataque aos petroleiros, retirando o pagamento das horas-extras nos feriados. Em 1999, a empresa já havia comprado esse direito no país inteiro com exceção da Replan, graças a uma liminar conquistada pelos próprios trabalhadores. Como parte dos ataques da empresa, no início deste ano ela já descumpriu o acordo coletivo e não pagou o adiantamento da PLR.

Mas a categoria reagiu e realizou uma paralisação de 24 horas no dia 18 de fevereiro, mostrando disposição de luta. No dia 2, iniciou greve de cinco dias que acabou se estendendo até o dia 8. Com exceção de supervisores e chefes, a adesão da categoria foi massiva.

Juventude petroleira foi vanguarda na greve
Toda uma nova geração de petroleiros, mais conhecidos como “borrachos”, que entraram nos últimos cinco anos na categoria, estiveram à frente da organização da greve. Foram linha de frente nos piquetes nas 14 portarias e passaram dias e noites na frente da refinaria. O motivo principal que os movia estava na resposta de um deles: “não podemos aceitar que retirem nenhum direito, pois com a crise, a Petrobras vai querer tirar mais e mais”.

Mas se engana quem pensa que a mobilização não tinha suas raízes na experiência e na longa trajetória de luta dos mais velhos. Os “borrachos” diziam que tinham aprendido muitas histórias de luta com os mais experientes e que agora queriam fazer igual.

Solidariedade ativa na greve de 24 horas da construção civil
Quando os 6 mil trabalhadores terceirizados da Replan cruzaram os braços no dia 5 de março em solidariedade à greve dos petroleiros, se demonstrou de fato que a categoria petroleira, naquele momento, englobava todos os que trabalham e fazem mover aquela refinaria, sejam terceirizados, sejam efetivos.

Desde o início da greve, na portaria pela qual os terceiros entram, eles diziam: “quando o sindicato vai parar a gente também?”. A divisão que o capital coloca para os trabalhadores se desfaz nos momentos de luta e a classe se une quando é atacada.

FNP tem presença constante na greve
Durante toda a semana, os companheiros da Frente Nacional de Petroleiros (FNP) estiveram nas portas da refinaria e fizeram atrasos em suas bases se solidarizando ativamente com os grevistas da Replan. Apesar de o sindicato ser filiado à Frente Única dos Petroleiros (FUP), o que prevalecia ali era a importância da mobilização. Companheiros da Conlutas e do PSTU também participaram ativamente nos piquetes.

Intransigência da Petrobras obriga o movimento a recuar
Além de usar helicópteros para a entrada dos fura-greves, a Petrobras não avançou nada quanto às propostas para o movimento. Além disso, no domingo pela manhã, saiu uma decisão judicial favorável à empresa, impedindo a realização de piquetes ao preço de uma multa impagável e colocando o sindicato como co-responsável pela rendição dos pelegos que permaneciam há mais de uma semana dentro da refinaria. Diante disso, no domingo, às 19h, os petroleiros da Replan optaram pela suspensão do movimento.

Governo Lula, sócio majoritário da Petrobras
Apesar de o governo Lula ter poder para intervir nos assuntos da Petrobras, e mesmo tendo sido aprovada nas assembleias dos trabalhadores a exigência de que o governo interviesse, nenhuma manifestação foi feita por parte do governo. Na verdade, a política de Lula para a Petrobras tem sido a de privatização branca, ou seja, continua leiloando os poços de petróleo e mantém o capital privado como o grande detentor das ações (somente 38% delas pertencem ao Estado). Enquanto essa política entreguista permanecer, os petroleiros vão continuar sujeitos a mais retirada de direitos. Por isso, é fundamental que na luta dos petroleiros seja incorporada a bandeira da Petrobras 100% estatal.

O movimento foi suspenso numa grande assembleia. Apesar de os petroleiros não terem nesse momento conseguido dobrar a empresa, o clima não era de derrota. A maioria dos que estavam ali tinha feito sua primeira greve e conseguido obrigar os supervisores pelegos a ficarem por sete dias dentro da refinaria comendo “pão com ovo”.

Agora era o momento de recuar, mas com a perspectiva de continuar o movimento em nível nacional. A assembleia aprovou um calendário de mobilização que inclui o 1º de abril como dia nacional de luta e até mesmo os diretores do sindicato que pertencem à CUT votaram nessa proposta. Também foi aprovado por quase unanimidade que a FUP e a FNP têm de construir um calendário unificado para uma greve nacional petroleira.

Essa greve colocou os petroleiros da Replan como vanguarda na resistência contra a retirada de direitos. Com certeza, o sentimento que predominou foi o de que só a primeira batalha foi dada. Muita luta ainda há de vir.

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