Resultado mostra que a população apóia a retomada da Vale pelo Estado; apenas 28,2% são contráriosA organização da campanha contra a privatização fraudulenta da Companhia Vale do Doce, entregue em 1997 ao capital privado, avança e tem tudo para ganhar as ruas no próximo período. Durante a plenária nacional da Assembléia Popular realizada dias 16 e 17 de junho em Brasília, que reuniu amplos setores do movimento sindical e popular, como o Jubileu Sul, a Conlutas, a Intersindical e o MST, foi aprovado um calendário de lutas em que um dos principais temas é a campanha pela reestatização da Companhia.

Pelo calendário definido na Plenária, o próximo grande passo na campanha será a realização em todo o país de um plebiscito popular sobre a privatização da Vale. O plebiscito será organizado pelas entidades dos movimentos sociais e populares, devendo recolher milhões de votos sobre o polêmico tema. A exemplo dos plebiscitos anteriores, este ocorrerá na Semana da Pátria, de 1 a 7 de setembro.

Desta forma, a votação popular sobre a privatização da Vale deve ganhar expressão de massa, servindo para denunciar a fraude e chamar à população à ação, a exemplo do que ocorreu nos plebiscitos anteriores. Em setembro de 2000, o Plebiscito Popular sobre a Dívida recolheu mais de seis milhões de votos contra o pagamento dos juros da dívida pública. Já em 2002, a Campanha contra a Alca recolheu mais de 10 milhões de votos contra o Acordo de Livre Comércio.

População apóia reestatização
Agora, no entanto, a campanha deverá encontrar já um apoio maciço entre a população. Segundo pesquisa realizada pelo Instituto GPP entre os dias 19 e 22 de maio, com 2 mil pessoas, 50,3% dos entrevistados disseram ser favoráveis à reestatização da Companhia Vale do Rio Doce. Apenas 28,2% se mostraram contrários à medida. A pesquisa foi encomendada pelo DEM (ex-PFL), sendo realizada em 17 estados. Logicamente, seu resultado não foi alardeado.

Esse resultado demonstra o enorme avanço da consciência anti-privatização ocorrido no último período. Tal percepção ficou clara nas últimas eleições presidenciais, em que o PT derrotou o candidato tucano Geraldo Alckmin realizando uma campanha atacando as privatizações realizadas por FHC. Apesar de na prática não combater as privatizações e, muito pelo contrário, avançar no processo de desmonte dos serviços públicos, o PT teve que recorrer ao discurso para agradar a população, cuja experiência com anos de neoliberalismo já transparecia.

Desta forma, a venda da Companhia Vale do Rio Doce se tornou ícone das fraudes que rondaram todo o programa de desestatização de FHC. A empresa foi vendida em 97 por R$ 3,3 bilhões, sendo que seu valor real superava os R$ 10 bilhões. A empresa hoje está cotada em quase R$ 100 bilhões. Só o lucro da empresa hoje supera os R$ 10 bilhões. Além do subfaturamento, várias irregularidades marcaram a venda da Vale. O Bradesco por exemplo, foi ao mesmo tempo avaliador e comprador da empresa.

Campanha ampla
No entanto, a campanha pela anulação do leilão que entregou a Vale não é uma mobilização isolada. Por isso, as perguntas no Plebiscito tratarão também sobre a política econômica neoliberal levada por Lula e a reforma da Previdência. As perguntas definidas para o Plesbiscito são as seguintes:

1 – Você concorda que a Companhia Vale do Rio Doce, patrimônio construído pelo povo brasileiro e privatizada em 1997, deva continuar nas mãos do capital privado?

2 – Você concorda que o governo continue priorizando o pagamento dos juros da dívida pública deixando de investir em trabalho, saúde, educação, moradia, saneamento, reforma agrária, água, energia, transporte, ambiente saudável?

3 – Você concorda que a energia elétrica continue sendo explorada pelo capital privado, com o povo pagando até 8 vezes mais que as grandes empresas?

4- Você concorda com a proposta de reforma da Previdência que retira direitos dos trabalhadores?