Priscila Lírios

No dia 18 de janeiro, as ruas de Cusco são tomadas por cores, tambores, hinos e acordeom. Infelizmente, não se tratava de uma festa, mas sim da luta da população quíchua contra as mineradoras ilegais.

Mineradoras como Vlacemy Group seguem explorando o solo sagrado de Qoyllorit´i que, para as populações Nación Urubamba, Anta, Tahuantinsuyo, Ayacucho, e nação K´ero, entre outras tantas, tem um significado histórico e cultural desde o século XVIII.

Desde o século XVIII as populações saem em peregrinação pelo solo sagrado, hoje denominado Qoyllorit´i, nome de um menino quíchua que, conforme a narrativa cultural da população indígena, virou imagem em pedra quando perseguido. Desde este fato, o lugar do acontecimento virou um território sagrado, onde se acendem velas e comunidades locais e próximas acampam e realizam festas durante 3 dias.

O solo sagrado, considerado desde 2004 como patrimônio cultural pela Unesco,  vem sofrendo com mineradoras ilegais que, segundo a população, contamina a água e o solo. O rio Chambira  também é vítima de contaminação, mas esta contaminação acontece pelo derramamento de petróleo. O rio se encontra na província de Loreto, próxima à população indígena Urarina. Neste rio opera a empresa petroleira Pluspetrol Nortes S.A que frequentemente contamina o rio, não havendo uma fiscalização que impeça este derramamento.

O ato do dia 18 de janeiro terminou na praça de armas, com uma plenária aberta que contou com o governo Edwin Licona Licona, de Cusco, o presidente Ollanta Humala e o representante da Irmandade do Conselho das Nações Señor de Qoyllorit ´i. Licona Licona firmou, junto aos moradores das regiões atingidas, um acordo de interromper as obras destas mineradoras, porém este acordo tem o prazo até o mês de julho para ser cumprido. Além disso, a afirmação do governo não garante a paralisação de outras indústrias como a do petróleo, que segue contaminando e prejudicando a população que habita proxímo ao rio.

Alguns casos de solo contaminado já chegou a matar moradores das regiões próximas a Qoyllorit´i segundo o laudo de um médico local que foi acusado e responde processo judicial por descrever no atestado de óbito de um morador a causa real de sua morte. Assim, a população indígena vive recuada e ameaçada pelas mineradoras ilegais. Também á casos de alguns ativistas que pagaram com a própria vida, vítima de jagunços que a mando de seus patrões matam as lideranças, como foi  o caso do presidente de Las Rondas Campesinas e Vice-Presidente da Frente de Defesa, Hitler Ananías Rojas Gonzalez, de apenas 34 anos.

Frente aos últimos acontecimentos, alguns dos ativistas locais estão inseguros quanto a afirmação do acordo. A população não acredita mais nas promessas do presidente Ollanta Humala do partido PNP. Seu programa neoliberal enganou a população pobre e indígena do Peru com promessas que nada tinham a ver com o plano de austeridade que o governo vem aplicando para garantir os lucros de mineradores, petroleiros e banqueiros. Humala segue cortando violentamente as verbas publicas até então destinadas à saúde e educação.

Uma entrevista com Atípa um ativista local, deixa evidente a insegurança que a população vive com o atual governo e o presidente Ollanta, que estará deixando a presidência este ano. Umas das inseguranças do ativista Atípa é que a filha de Alberto Kenya Fujimori, que já foi presidente do Peru na década de 90, venha a governar. Keiko Fujimori é do partido Fuerza Popular, partido da corrente direitista e conservadora assim como PPK ( Pedro Pablo Kuczynski), outro candidato também em disputa presidencial.

A população aponta três nomes ditos da esquerda nas eleições: Yehude Simon conhecido pelo massacre Amazônico de Baguá, Veronika Mendoza, que não tem um programa de ruptura com o neoliberalismo e Gregório Santos, presidente regional de Cajamarca, que no momento está em cárcere por combater empresas de minerações.

A população quíchua e peruana seguem lutando nas ruas por seus direitos, enquanto os corruptos governos ,empresas, mineradoras internacionais, tentam manipular a consciência das população que foi enganada por  Ollanta Humala, que para o povo era uma alternativa de esquerda.

Assim, seguem as contradições hoje ainda instaladas na esquerda, pois as alternativas são no âmbito da reforma e pós-moderna, que às vezes critica o plano neoliberal, mas não rompe com ideias reformistas.

A única saída contra os planos de austeridade que a população quíchua e peruana vem enfrentando é romper com o neoliberalismo, com as direções burguesas de partidos reformistas que não apresentam uma saída socialista e revolucionária.