Às 18h41 do dia 15 de agosto, a costa central do Peru foi sacudida por mais de dois minutos por um terremoto de 7.9 graus na escala Ritcher, com epicentro no mar da cidade de Pisco, distrito de Ica. O terremoto foi sentido com grande intensidade em Lima, provocando pânico generalizado, ainda que não tenham sido relatados danos significativos. No entanto, o impacto foi catastrófico em várias cidades de Ica e na província limenha de Cañete.

As últimas informações mostram que o desastre deixou 514 mortos e 1.090 feridos. Não se sabe o número total de desabrigados, embora muitas casas, a maioria nos bairros populares, caíram e houve corte geral de energia elétrica.
O sindicato dos médicos – que pouco antes havia iniciado uma greve de 72 horas por causa da intransigência do governo em atender às suas demandas, entre elas maior orçamento e recursos para a saúde – decidiu suspender a medida para garantir o atendimento das emergências.

Passividade criminosa
Numa mensagem à nação, o presidente Alan García decretou situação de emergência, principalmente no distrito de Ica. Mas foi uma reação apenas discursiva. Passadas mais de 24 horas do tremor não havia ainda operações de brigadas de resgate nem deslocamento especial de recursos para as zonas atingidas, sobretudo para o atendimento aos feridos, muitos dos quais agonizaram e morreram sem receber ajuda. Esta é a razão do aumento radical nas cifras de mortos em horas. Pior ainda, ao invés de agilizar a entrega de ajuda, o governo enviou forças repressivas para evitar o ataque aos caminhões das empresas que transportam alimentos para os desabrigados.

A situação dos centros médicos é calamitosa. Os hospitais entraram em colapso em poucas horas pelo fluxo extraordinário de feridos e se mantinham assim, com seus escassos recursos sem receber verbas especiais.

“Temos mortos espalhados por toda a cidade, há muitos feridos e não há ambulâncias, leitos nem medicamentos”, declarou o diretor do hospital de Chincha, cinco horas depois dos abalos. Nas praças públicas de Pisco e Chincha, são improvisados “leitos” ao ar livre.

O governo, inexplicavelmente, não respondeu ainda aos urgentes pedidos de hospitais de campanha para atender à especial entrada de feridos. Esta situação não tem nenhuma justificativa nos tempos atuais, em que se exibem cifras de riqueza econômica. Agora vemos que os alertas que lançou a Federação Médica do Peru sobre a precariedade dos hospitais eram totalmente corretos. O governo não reagiu durante meses de diálogo com os médicos e não reage inclusive agora diante da tragédia.

Presidente propõe paliativos
O terremoto pôs em evidência a incapacidade do Estado ante o desastre. A lentidão e descaso do governo só se explicam por sua política de austeridade que afeta, principalmente, os trabalhadores e os mais pobres. Será que em meio a essa tragédia o governo continuará empenhado em guardar recursos e fazer caixa para pagar a dívida externa ou para salvar as empresas?

Por mais que a emergência exija, Alan García descartou a criação de algum imposto para financiar a remoção dos escombros, a reconstrução das cidades, assim como a alimentação das vitimas.

Desculpando-se genericamente, como se todos no Peru ganhássemos iguais salários ou tivéssemos as mesmas condições de vida, García assegurou que “não é bom tirar dinheiro de alguns peruanos para dar a outros”. García cuida, na realidade, apenas dos bolsos das grandes empresas nacionais e estrangeiras que, tal como ele próprio propagandeou na sua gestão, vêm obtendo enormes lucros há quase cinco anos e, portanto, estão mais que em condições de pagar algum imposto de emergência cuja arrecadação seja destinada exclusivamente a atender a emergência do terremoto.

“Solidariedade” do governo
Entretanto, García segue fazendo cínicos chamados aos mais diversos setores da sociedade para atender às vítimas do terremoto. Aproveitando-se da correta e natural mobilização solidária dos trabalhadores e do povo em todo o país, García encobre sua total falta de atitude para atender ao desastre, assim como a decisão consciente de não repassar nenhum centavo da fatura às grandes empresas – como a Shougang Ferro do Peru, minera chinesa localizada na região de Ica – que hoje enchem os bolsos no país.

Assim, todos os chamados para que médicos, engenheiros, etc. voluntariamente se coloquem à disposição carecem do necessário financiamento estatal que deve fazer da ação dos voluntários uma ferramenta de solução das necessidades dos prejudicados e não adicioná-los ao problema, levando essas pessoas à aventura, sem comida nem lugar onde dormir.

Em nova atitude ridícula, García agora pede aos artistas do país que se “solidarizem” e visitem a região atingida para “cantar e fazer rir” os afetados.
Os próprios ministros pedem financiamentos extras para atender às necessidades. O vice-ministro da Saúde, José Calderón, declarou que é necessário realizar um choque de inversões em seu setor pela situação de risco na infra-estrutura dos hospitais de Lima e de outras partes do país.

O pedido é simplório, não trata de “reforçar” as estruturas de hospitais. É urgente reconstruir os hospitais – incluídos os de Lima – já que em sua totalidade foram seriamente abalados.

García terá diante de si duas alternativas para encarar esta situação: ou pedirá novos empréstimos que farão maior ainda e impagável a fraudulenta dívida externa, ou, somente se existirem milagres, promulgará os impostos às superfortunas mineiras e das demais transnacionais, que enriquecem às custas de nosso país, para financiar integralmente a reconstrução da região afetada e toda a infra-estrutura estatal de saúde golpeadas pelo terremoto.

Os trabalhadores e o povo sabemos qual será a opção que ele tomará. Organizemos a mobilização operária e popular para que a reconstrução das cidades afetadas e da infra-estrutura educacional e de saúde seja paga com o dinheiro das transnacionais e da dívida externa. É absolutamente criminoso manter as escandalosas isenções tributárias às grandes empresas transnacionais em nosso país. É igualmente assassino manter o pagamento da dívida, quando o mais necessário é dinheiro para atender as regiões afetadas.

Além da organização de brigadas solidárias que, financiadas pelo Estado, assumam tarefas de ajuda no local, a Confederação Geral dos Trabalhadores do Peru (CGTP) deve convocar já uma mobilização nacional contra a falta de ação de García, para que se concretizem essas medidas o mais rápido possível para, assim, atender de fato os prejudicados.

Post author Partido Socialista dos Trabalhadores (PST), do Peru
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