No sábado, 6 de junho, o Congresso da Assembleia Nacional dos Estudantes Livres (ANEL), em parceria com a Comissão de Presos e Perseguidos Políticos da ex-Convergência Socialista, promoveu uma mesa com a presença de perseguidos políticos da ditadura.

Participaram dela Celso Brambilla, ex-dirigente da Liga Operária, preso e torturado pela ditadura; Sebastião Neto, ex-coordenador do Movimento de Oposição Metalúrgica de São Paulo e hoje coordenador do IEEP (Intercâmbio, Informações, Estudos e Pesquisas); Mariúcha Fontana, ex-dirigente estudantil da corrente Novo Rumo e da Convergência Socialista e hoje do conselho de redação do jornal Opinião Socialista e Fausto Pinheiro, ex-dirigente do Alicerce da Juventude Socialista e hoje dirigente da Oposição Bancária do Ceara.

Os participantes contaram aos jovens estudantes presentes ao Congresso da ANEL a experiência de lutar contra uma ditadura e a importância das lutas dos trabalhadores e da aliança operário-estudantil para derrubar aquele regime de terror.

Aliança operário-estudantil
Brambilla contou como ele, José Maria de Almeida e Marcia Bassetto, foram presos e torturados simplesmente porque estavam realizando uma panfletagem no 1º de maio de 1977 na região do ABC e, de maneira muito emocionante, como foram as mobilizações dos estudantes, com suas manifestações e passeatas, que os libertaram e de fato garantiram as suas vidas, pois poderiam ter sido mortos nos porões da ditadura.

Sebatião Neto, por sua vez, falou do Projeto Investigação Operária, que estuda os mecanismos de repressão e perseguição política durante a ditadura civil-militar contra os trabalhadores metalúrgicos e militantes de São Paulo, e do livro e vídeo que lançaram sobre investigação operária que mostram a cooperação entre empresários, militares e pelegos contra os trabalhadores na ditadura civil-militar.

O livro também recupera o histórico do DOPS, criado em 1924 para controlar os trabalhadores, e mostra a permanência da Lei de Segurança Nacional de 1935 até os dias de hoje e a estrutura sindical basicamente inalterada desde a década de 30. Os documentos, em sua maioria do Arquivo Público do Estado de São Paulo e do Arquivo Nacional, oriundos do DOPS-SP e do SNI demonstram a plena cooperação da equipe de interventores no Sindicato dos Metalúrgicos de São Paulo com a ditadura. O DOPS foi uma espinha dorsal do sistema repressivo, mas há uma demonstração clara de que vários órgãos do Estado faziam parte de um sistema de controle e repressão aos trabalhadores – inclusive aquelas que deveriam defender seus interesses, como a Delegacia Regional do Trabalho.

Mariúcha Fontana contou sua experiência como dirigente estudantil na luta contra a ditadura e depois como o movimento estudantil cumpriu um papel histórico e essencial ao formar uma unidade de ação com os trabalhadores para derrubar o regime. A experiência da realização de um Congresso da UNE perseguido e criminalizado pelo governo, diferente de agora que serve somente para defender o governo Dilma. Ela própria se juntou aos trabalhadores quando foi trabalhar na CMTC, Companhia Metropolitana de Transportes Coletivos e ajudou na organização e na luta da classe. Fez um destaque especial ao papel da imprensa alternativa que, por fora do regime e dos grandes meios de comunicação, como a Rede Globo (que apoiava a ditadura), foram um instrumento fundamentais para fazer propaganda antiditatorial.

Fausto Pinheiro, hoje bancário em Fortaleza, falou de sua experiência como secundarista dirigente do Alicerce da Juventude Socialista na Zona Sul de São Paulo, e de como participaram e organizaram as lutas operárias e as mobilizações dos desempregados em 1983. Particularmente em 4 de abril daquele ano quando houve saques e pilhagens no centro de São Paulo, com o Palácio dos Bandeirantes cercado e suas grades derrubadas. Os protestos se espalharam por 40 quilômetros de ruas. Os conflitos deixaram um morto, 127 feridos e 566 detidos.

Ditadura não acabou
Após a explanação inicial, a intervenção foi aberta ao plenário quando vários jovens falaram sobre a importância desta luta, inclusive da participação de muitos de seus pais. Segundo eles, para os trabalhadores e os jovens ainda existia uma ditadura no Brasil, uma ditadura de classe, por trás do chamado “Estado Democrático de Direito”, com prisões de manifestantes e processos de criminalização. Destaque especial para a intervenção Mateus Gomes, o Gordo, que contou como está o seu processo de criminalização no Rio Grande do Sul, levado a frente pelo governador Tarso Genro que posa de grande democrata.

Todos chegaram a um acordo que derrubar a ditadura foi muito importante para garantir um mínimo de democracia para a organização dos setores explorados da sociedade, como publicação de materiais e realização de reuniões públicas (o próprio congresso da ANEL), mas que ainda há muito que se lutar para ter um estado onde os jovens trabalhadores possam se manifestar livremente. Por isso debates como aquele que estava se realizando são muito importantes.

Com certeza, a parceria da ANEL com a Comissão de Presos e Perseguidos Políticos da ex-Convergência Socialista vai continuar e novos debates e novas manifestações vão ocorrer.

Por verdade, memória e justiça que só vai ser conseguida com punição exemplar para os agentes de Estado que cometeram crimes e reparação de todos os lutadores e entidades sociais que foram prejudicados pela ditadura.