Relatório confidencial ao Congresso dos EUA aponta “situação de risco” na capacidade de intervenção militar em outros países. Com intervenção no Haiti, Brasil ajuda imperialismo a manter tropas no Iraque“A concentração de tropas e armas norte-americanas no Iraque e Afeganistão limita a capacidade do Pentágono de enfrentar outros eventuais conflitos armados”, disse o general Richard B. Myers – chefe do Estado-Maior conjunto dos EUA e oficial da patente de mais alto escalão militar do país – no Congresso dos EUA nesta segunda-feira, 2 de maio, sobre relatório confidencial produzido pelo Pentágono. Thom Shanker, jornalista do New York Times em Washington, recebeu uma cópia do relatório – entregue por um oficial do governo – e teve acesso a declarações de oficiais civis e militares do Pentágono que pediram anonimato, paralelamente à audiência no Congresso. As assertivas do documento comprovam que – do ponto de vista político, econômico e, especialmente, militar – há impossibilidade por parte do exército norte-americano de intervir noutros países em conflito, como o Haiti. Desta forma, comprova-se que as recentes visitas dos Secretários de Defesa e de Estado dos EUA – Donald Rusmfeld e Condoleezza Rice, respectivamente – ao Brasil, tecendo loas à liderança brasileira nas forças de ocupação da Organização das Nações Unidas (ONU) no Haiti, vão muito além do elogio fácil.

O general Myers admite que grandes operações de combate em outras partes do mundo, “caso sejam necessárias”, teriam duração provavelmente mais longa – longe da perspectiva de “guerra-relâmpago” da primeira intervenção no Iraque no início dos anos 90 – e levariam a baixas militares (e civis) mais numerosas. A redução nos estoques de armas de precisão durante a invasão do Iraque e o desgaste das unidades de reserva foram aspectos ressaltados na análise da limitação do Pentágono em vencer outros conflitos “com a rapidez prevista no passado”.

O relatório deste ano também reconhece que as Forças Armadas norte-americanas estão operando sob nível de risco superior ao do ano passado, ainda que em nenhuma das instâncias atinja o nível de alerta máximo. Apesar de divergir amplamente das declarações do presidente norte-americano George W. Bush à imprensa, à qual afirmara que os EUA têm “bastante capacidade”, oficiais militares negaram qualquer possibilidade de contradição. “Os dois comentários são consistentes, porque ninguém nas Forças Armadas se sente limitado, de qualquer maneira, em sua capacidade de responder a contingências”, responderam ao jornalista. “O que a avaliação de risco discute é a natureza da resposta”.

O relatório, elaborado sob o impacto da Doutrina Bush de “guerra preventiva”, indica a um só tempo as dificuldades das forças armadas dos EUA em combater a resistência iraquiana e a disposição do aparelho de Estado norte-americano em atender de forma “eficaz” ao discurso “anti-terrorista” e à ideologia de combate aos “Estados delinqüentes” produzido pelo Pentágono e pela Casa Branca.

Ao mesmo tempo o relatório aponta avanços na coordenação dos esforços militares com as autoridades civis – as quais “desempenham papel crítico no bloqueio de possíveis ataques terroristas contra os EUA” – e o acúmulo de experiência em “manter e sustentar um nível elevado de esforço em campanha” a partir do Iraque, mediante a reorganização de forças para criar mais unidades com possibilidade de ação no exterior.

O documento propõe uma fase “de transição”, com a reestruturação geral do Exército e o deslocamento de ainda mais tropas para atuar no exterior. Por um lado, pode-se concluir que apresentação do relatório ao Congresso eventualmente resulte – dependendo das disputas internas da burguesia norte-americana, da relação de forças sociais e do nível de organização e consciência do movimento antiguerra nos EUA – em mais verbas destinadas às intervenções militares no exterior. Por outro, que a adesão ativa de governos sub-imperialistas como o de Lula e da própria ONU às “missões de paz”, tendem a se tornar cada vez mais importantes como sustentáculos auxiliares do imperialismo norte-americano. Atualmente os EUA dispõem de 138 mil soldados no Iraque, além de 17 mil no Afeganistão. Myers finaliza afirmando que a capacidade norte-americana de “projetar poder, em qualquer parte do mundo, continuará superior a de todos”.

A resistência iraquiana, cercada de solidariedade internacional, responderá ao relatório de Myers desde as ruas de Bagdá.

  • Leia mais:

    New York Times, 03/05/2005

    Washington Post, 24/04/2005

    Al Jazeera, 11/04/2005