O caráter genocida e os ferozes ataques do exército israelense sobre a Faixa de Gaza, a Cisjordânia e o Líbano colocam na ordem do dia a necessidade de realizarmos grandes mobilizações unitárias em solidariedade aos povos palestino e libanês, exigindo o fim das atrocidades e a imediata retirada das tropas. Atividades deste tipo já vêm ocorrendo em diversas cidades do mundo e os militantes da LIT têm impulsionado e participado ativamente de todas elas.

Porém, neste artigo, queremos abordar um tema muito mais profundo que, certamente, é um divisor de águas entre os que hoje realizam manifestações conjuntas: a necessidade de destruir o Estado de Israel como condição para que haja paz na Palestina e no Oriente Médio.

Em edições anteriores do Correio Internacional (leia a edição fevereiro de 2006), analisamos que o Estado de Israel foi fundado a partir de duas características fundamentais. Por um lado, trata-se de um enclave colonial, ou seja, é o resultado do roubo do território histórico dos palestinos por parte de colonos judeus provenientes de diversas partes do mundo, que se utilizaram, majoritariamente, de métodos terroristas para desalojar os residentes locais.

Este roubo foi impulsionado pelas potências imperialistas (a Inglaterra, num primeiro momento; os EUA, depois) e pelo sionismo internacional. Em 1947, a ONU legalizou a usurpação, que foi ampliada posteriormente.

Por outro lado, este enclave colonial se transformou em um “Estado policial”, armado até os dentes, a serviço do imperialismo. Em outras palavras, é uma verdadeira “fortaleza” cujo poderio militar está dirigido, em primeiro lugar, contra o povo palestino. Também é uma constante ameaça à luta dos povos árabes. Não é uma casualidade que Bush sempre se refira a Israel como “seu aliado estratégico” no Oriente Médio.

Este caráter do Estado sionista (enclave colonial e militar do imperialismo) é a principal fonte da situação de conflito militar permanente no Oriente Médio. Não se trata – como nos querem fazer acreditar o imperialismo e os amigos do sionismo – de conflitos que nascem do “ódio dos povos” e de sua impossibilidade de “viver em paz”.

Devido a sua própria essência, Israel só pode subsistir como um Estado racista, repressor, genocida e em base à permanente agressão militar. A atual agressão simultânea na Palestina e no Líbano é uma clara demonstração disto. Até mesmo aqueles que defendem a existência de um Estado judeu, como o argentino Adolfo Pérez Esquivel – Prêmio Nobel da Paz em 1980 –, hoje afirmam que Israel é um “Estado terrorista” (Clarín, 14/7/2006).

Por uma Palestina laica, democrática e não racista
Por estas mesmas razões, reafirmamos que a paz não será possível no Oriente Médio sem que o Estado de Israel seja destruído. Como também nunca haveria qualquer chance de paz sem a destruição do Estado racista do apartheid, na África do Sul, ou sem a destruição do domínio colonial francês na Argélia, na década de 60.

Nas décadas de 60 e 70, a então recém-fundada Organização pela Libertação da Palestina (OLP) – que unificou a maioria das organizações políticas desse povo – levantou, de modo absolutamente correto, a necessidade de destruir o Estado de Israel para que fosse possível a recuperação de seu território histórico e a construção de uma Palestina laica, democrática e não racista.

Uma Palestina para a qual os milhões de refugiados e imigrados palestinos poderiam retornar e onde todos os judeus que estivessem dispostos a conviver em paz poderiam permanecer. Da mesma forma como, durante séculos, os judeus viveriam no mundo árabe. Esta reivindicação da OLP transformou-se em um patrimônio comum da esquerda mundial.

A capitulação
Infelizmente, Yasser Arafat e a direção da OLP abandonaram esta palavra de ordem na década de 80, adotando a proposta de “dois Estados”. Ou seja, a aceitação da existência do Estado de Israel e a criação de um “mini Estado palestino”, inviável geográfica e economicamente. No mesmo momento, as velhas direções nacionalistas burguesas, como a de Nasser, do Egito, também pactuaram com Israel.

O abandono desta reivindicação fundamental por parte da OLP foi acompanhado, também, e lamentavelmente, pela maioria da esquerda mundial, que adotou as posições do “sionismo de esquerda” e, desta forma, capitulou novamente às propostas do imperialismo europeu.

Esta capitulação por parte das correntes árabes nacionalistas, laicas e de esquerda abriu espaço para que as organizações fundamentalistas islâmicas – que mantiveram a exigência da destruição de Israel e convocaram a luta contra ele –, como o Hamas e o Hizbollah, ganhassem influência de massas.

No entanto, estas correntes propõem que, uma vez destruído o Estado de Israel, seja construído, na Palestina, um Estado de caráter teocrático, um claro retrocesso em relação à proposta original da OLP. Este retrocesso não é responsabilidade das massas árabes, mas das correntes “progressistas” e de esquerda, que abandonaram luta.

Uma discussão concreta
A necessidade de destruir o Estado de Israel não é uma discussão abstrata ou teórica. É algo colocado pela realidade e que demanda uma ação concreta, na medida em que há uma guerra em curso, com forças militares combatendo o exército sionista e atacando as cidades israelenses.

As organizações da esquerda mundial devem responder claramente às seguintes perguntas: estamos a favor de que a atual guerra se desenvolva até derrotar completamente o exército sionista e o Estado de Israel? Estamos a favor de que as ações contra a população do enclave colonial israelense – por parte do Hizbollah, do Hamas e da Jihad Islâmica – aumentem e sejam cada vez mais efetivas? Estamos a favor, ou não, de exigir dos governos árabes, quaisquer que forem suas características, que intervenham nesta guerra para facilitar a derrota do Estado de Israel?

Aqueles que responderem negativamente a estas questões deixaram de ser revolucionários para, nas palavras de Lênin, transformarem-se em “meros pacifistas pequeno-burgueses”. De nossa parte, reiteramos a resposta afirmativa a cada uma destas questões. Estamos juntos com as massas palestinas, libanesas e árabes na defesa da destruição do Estado de Israel. Contudo, diferentemente das correntes fundamentalistas islâmicas, fazemos esta defesa dentro da mesma perspectiva que existia na raiz da OLP: a criação de uma Palestina laica, democrática e não racista.
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