Trabalhadores também lutam por uma “Compesa 100% estatal”

Os trabalhadores da Companhia Pernambucana de Saneamento (Compesa) estão em campanha salarial. Após três meses de enrolação, em audiência de mediação realizada no Ministério Público do Trabalho, a Compesa apresentou uma proposta considerada rebaixada pela categoria.

Foi apresentado um reajuste seguindo apenas o índice do INPC, de 8,34%, dividindo o pagamento até 2016. A categoria reivindica um aumento de 13,28% retroativo a maio e pago ainda esse ano. Além disso, negou cláusulas importantes para corrigir diferenças salariais e pagamento de hora extra em turnos de revezamento, bem como pretende retirar direitos já conquistados.

Na prática, a Compesa fez um convite à categoria para ir à luta. Isso porque, tal como vem acontecendo em nível nacional, os trabalhadores estão sendo penalizados por crises que não tiveram culpa.O governo Dilma (PT), por exemplo, vem atacando de várias formas a classe trabalhadora.

Diante da crise econômica,Dilma cortou verba nas áreas sociais, prejudicando inclusive a área de saneamento. Recentemente, criou o Programa de Proteção ao Emprego (PPE) que permite a redução de salários em troca da redução da jornada de trabalho. Essa medida se soma a outros ataques, como ao seguro-desemprego, pensão por morte e abono do PIS, além do PL das terceirizações.

O governo Paulo Câmara (PSB) segue com essa mesma lógica. Também cortou verbas e vem atacando direitos dos trabalhadores, prejudicando os serviços públicos e apertando o orçamento das famílias em Pernambuco. Não foi à toa, portanto, a demora em apresentar uma proposta de aumento salarial aos trabalhadores da Compesa.

A diretoria da empresa segue apenas a orientação do governo estadual. Contudo, mesmo nesse cenário negativo da economia, a Compesa teve um lucro líquido de R$ 116,7 milhões em 2014 que superou em 30,79% o resultado de 2013. Mas para onde está indo esse dinheiro?

Com os vários escândalos nacionais de corrupção, a Compesa não ficou imune e há muitas perguntas sem respostas. A Justiça Federal em Pernambuco determinou o bloqueio de bens das construtoras Queiroz Galvão e Galvão Engenharia e também de diretores da Compesa, sendo um deles o atual presidente da companhia.

A investigação é sobre um superfaturamento da obra do Sistema Pirapama, o maior sistema de abastecimento de água de Pernambuco e um dos maiores do Brasil, segundo a própria estatal. A população pernambucana merece esclarecimentos sobre essa situação e que os culpados sejam punidos.

Para além das questões salarias: Por uma Compesa 100% estatal!
A luta dos compesianos é também por melhores condições de trabalho.  Há setores que não tem cadeira para sentar, água potável beber e até papel higiênico, muitas vezes, falta. Há casos de falta de instrumentos de trabalho e equipamentos de segurança. A sobrecarga, por falta de funcionário, também é uma realidade. E quem reclama é perseguido, leva advertência ou suspensão.

Essa situação de precarização do trabalho faz parte de um pacote de interesses políticos bem definidos. A questão é que direitos fundamentais estão sendo transformados em mercadoria, deixando de lado o papel social que a estatal deve cumprir, priorizando quem pode pagar mais caro pelo “produto”.

A Compesa é responsável pelo abastecimento de água e pelo esgotamento sanitário. Empresa de economia mista vinculada ao Governo de Pernambuco, seu faturamento está indo para o bolso da iniciativa privada, como é o caso da Parceria Público Privada com a Odebrecht. Uma empresa denunciada por corrupção na Operação Lava Jato, a Odebrecht é responsável pelo esgotamento sanitário da região metropolitana e do município de Goiana.

Ao mesmo tempo, vários setores estão terceirizados, até os considerados como atividade fim. Muitas empresas contratadas, inclusive, sem a estrutura necessária para atuar com qualidade e respeitar direitos trabalhistas.

Por isso, mesmo com tanto dinheiro, é comum ver notícias sobre a Compesa e não é para dar parabéns aos serviços prestados. Falta d’água, calendários de abastecimento não respeitados, qualidade da água questionável, vazamentos de água, esgoto estourado ou demora no atendimento às reclamações, são alguns exemplos.

Para garantir a prestação de serviço com qualidade à população é preciso uma forte valorização profissional e o fortalecimento do caráter público da empresa.  Por isso, é fundamental a luta contra a privatização e as terceirizações na companhia, incluindo aí, a exigência de uma auditoria no contrato com a Odebrecht.

Por uma direção sindical que defenda os trabalhadores
Além de lutar contra o governo e a direção da empresa, os trabalhadores da Compesa foram obrigados a lutar contra a traição da direção do sindicato. Vinculado à Central Única dos Trabalhadores, a diretoria vem fazendo o jogo da Compesa, chegando a afirmar que a categoria não queria negociar.

Nas assembleias, chegaram a não colocar propostas para votação, mas a categoria resistiu e passou por cima da direção, conseguindo aprovar paralisações e o estado de greve. Nesta quinta-feira, 30, acontece nova assembleia para definir os rumos do movimento.

A saída para os compesianos está na organização dessa luta pela base para pressionar o sindicato a defender os interesses dos trabalhadores. A luta será dura, mas é preciso continuar com garra e apostar numa forte greve. Por isso, é fundamental buscar unidade com todos os setores, chamando apoio dos movimentos sociais.

O PSTU se solidariza à luta dos trabalhadores da Compesa que vai além da campanha salarial, em defesa de uma Compesa 100% estatal, com serviços de qualidade e trabalhadores valorizados.