No dia 26 de julho, teve início uma grande revolta estudantil em Vitória da Conquista (BA), com milhares de secundaristas e universitários tomando as ruas de para protestar contra o reajuste da tarifa de ônibus. Mesmo diante do cenário de corrupção que assola o governo Lula e o PT, o prefeito petista José Raimundo Fontes autorizou o aumento de 20% na tarifa. Como o último reajuste, que ocorreu 45 dias após a sua reeleição – há oito meses –, foi de 11%, o custo da passagem passou de R$ 0,90 para R$ 1. Com essa nova autorização, a Prefeitura do PT e seus aliados (PCdoB, PSB, PV) tentaria impor um aumento de quase 34% à tarifa em menos de um ano.

Sem dúvida, isso foi mais do que suficiente para uma indignação generalizada por grande parte da população. Um dia após o anúncio na imprensa, as manifestações tiveram início, com estudantes secundaristas da Escola Agrotécnica Sérgio de Carvalho, que logo tiveram a adesão das outras dezenas de colégios da cidade que, juntos, começaram a paralisar os ônibus. Daí em diante, a UJS e o PCdoB – partido que dá sustentação ao governo – se apoderaram do ato e passaram a impedir o uso do microfone por parte dos demais estudantes e de outras forças políticas. Brigas, empurrões e palavrões não faltaram por parte dos stalinistas para impor um limite às críticas a Prefeitura, ao governo Lula e ao PT.

Combatendo as práticas governistas e denunciando em todos os espaços a corrupção e as reformas neoliberais do governo do “mensalão”, a militância do PSTU, juntamente com outros setores da esquerda (P-SOL, Oposição Operária, Labor, movimento anarco-punk) e algumas entidades estudantis (grêmios e o DCE da Uesb), desde o início, propôs a radicalização do movimento, como a ocupação da Prefeitura, boicote ao transporte coletivo convencional, acesso aos ônibus pela porta da saída, etc. Mas, o aparato governista do PCdoB, dos seus secretários municipais, dos mandatos de seus parlamentares, das entidades que dirige (Sindicato dos Bancários, APLB) e da CUT chapa branca, entrou em campo para asfixiar toda e qualquer voz anti-governista, pondo, por exemplo, num dos dias de mobilização, três carros de som para sobrepujar a fala combativa de alguns companheiros num outro carro de som.

Como de praxe, na calada da noite, entidades fantasmas, como a União dos Estudantes da Bahia (UEB) e a União Municipal dos Estudantes Secundaristas (UMES), e governistas, como a UBES, todas ligadas à UJS, sem autorização dos estudantes, trataram de fechar um “acordo” com a Prefeitura de aumento parcelado, ou seja, reajuste provisório da tarifa em 10% agora e o restante ficando por conta do Conselho Municipal de Transporte analisar logo após a sua instalação. Por outro lado, o DCE da Uesb e outros grêmios estudantis combativos se recusaram em legitimar o “acordão” com a Prefeitura e voltaram às ruas para denunciar a traição da UJS e do PCdoB.

Após terem se retirado das mobilizações, na segunda-feira (01), iniciado o ato, que logo de início reuniu mais de 3 mil manifestantes, a UJS retornou a fim de implodi-lo. Tiveram uma grande derrota quando chamaram os estudantes para uma marcha até a Prefeitura e estes se recusaram, preferindo ficar na assembléia proposta pelo DCE. Insistiram em permanecer e, após meia hora de tensionamento para decidir quem iria presidir, inviabilizaram a realização da assembléia, dispersando os estudantes com músicas e tendo o apoio indireto da chuva, que contribuiu com a dispersão. No oitavo dia de manifestação, os grêmios ligados a UJS passaram a impedir os estudantes de saírem das escolas e foram à imprensa local dizer que os atos haviam terminado. Diante do refluxo, a alternativa foi o recuo para fortalecer a base do movimento, denunciando toda a traição da UMES/UBES/UEB/UJS e do PCdoB.

MALAS DO PT

Há nove anos à frente da administração municipal, o PT de Vitória da Conquista (BA), a exemplo do PT nacional, não pára de se envolver em situações espinhosas. Após ter que enfrentar toda a fúria dos trabalhadores e da juventude que se rebelaram contra o reajuste arbitrário da tarifa de ônibus, um dirigente do partido, o professor da Universidade Estadual do Sudoeste da Bahia (Uesb), José Geraldo Reis, teve sua mala recheada de dinheiro roubada quando retornava de ônibus da capital do Estado, Salvador. Segundo informações da imprensa (A TARDE, 28/07/2005), a quantia roubada era superior a R$ 20 mil. Para piorar o que já é minimamente estranho, o dirigente petista não prestou queixa à polícia, elevando ainda mais o grau de suspeição com relação à origem do dinheiro. O petista encontra-se desaparecido e a direção do partido se contradiz a todo o momento, ora dizendo que o dinheiro pertencia ao professor, depois se limitando em dizer que era fruto das economias do dirigente e que tinha como finalidade o pagamento de honorários advocatícios da última campanha eleitoral.

Para completar o cenário de desconfiança, Vitória da Conquista, há quase uma década governada pelo PT, há pouco mais de um ano teve a implantação de uma agência do famigerado Banco Rural, instituição financeira onde se realizava os saques das contas de Marcos Valério para o pagamento do “mensalão”. Esses são mais um dos inúmeros episódios que não param de surgir como uma avalanche cujo desaguadouro é o mar de lama do PT.