Há dois aspectos importantes de sua política que Chávez apresenta como passos em direção ao socialismo:

As nacionalizações de empresas estrangeiras, que analisamos em outro artigo, e as “empresas mistas”. No entanto, tratam-se de feitos completamente normais no sistema capitalista, onde muitas vezes existe a necessidade de uma associação entre o Estado burguês e as empresas privadas, ou que o Estado tome conta de algum setor da economia porque assim o aconselha o rumo dos negócios em um determinado momento.

Se levássemos o critério chavista a fundo, deveríamos dizer que todos os países latino-americanos têm “elementos socialistas” porque possuem empresas estatais. Haveria elementos inclusive nos países imperialistas. Na França, as ferrovias e grandes empresas como Citroen e Renault são estatais.

Tampouco as “Missões”, através das quais uma pequena parte da renda petroleira reverte-se em alguns benefícios para o movimento de massas, podem ser consideradas como uma expressão de um avanço rumo ao socialismo. Muitas vezes, o capitalismo utilizou esse mecanismo de “políticas compensatórias” para amortizar a luta de classes e manter o sistema como um todo. Neste sentido, as “Missões” são similares ao seguro-desemprego de muitos países europeus, aos subsídios aos desempregados na Argentina, ao Bolsa Família de Lula.
 
Duas Medidas indispensáveis
Até aqui, temos visto que as políticas aplicadas por Chávez não rompem o marco do capitalismo. Agora queremos nos referir a duas questões centrais para avançar realmente rumo ao socialismo, qualquer que seja o “modelo” que se tente aplicar.

A primeira é que uma economia que caminha rumo ao socialismo deve suprimir o eixo ao redor do qual funciona o capitalismo (a busca do lucro por parte dos burgueses) e substituí-lo por uma planificação econômica estatal e centralizada, organizada para satisfazer as necessidades dos trabalhadores e das massas. Para que este plano possa funcionar, é necessário que o Estado tenha expropriado e assumido o controle dos principais ramos da economia, porque, caso contrário, a burguesia e o imperialismo combaterão e boicotarão permanentemente as diretivas dessa planificação.

 A possibilidade de integrar as empresas imperialistas e os grandes grupos nacionais à “construção do socialismo”, como propõe o chavismo, não passa de uma ilusão utópica, no melhor dos casos. Nenhuma classe ou setor social permite tranqüilamente que se retire seus privilégios. Pelo contrário, luta ferozmente para defendê-los e assim o demonstram todas as experiências históricas em que, com boa ou má fé, se tentou fazê-lo. 

Isso nos leva, então, à segunda questão central: não há forma de marchar rumo ao socialismo sem que, previamente, se tenha derrotado e destruído as Forças Armadas da burguesia. Elas são o pilar do Estado e do sistema capitalista, a última reserva encarregada de defender esse Estado e a propriedade capitalista quando todos os outros mecanismos tenham fracassado. Ocuparia muitas linhas enumerar todas as experiências histórias que demonstram esta afirmação, pela positiva ou pela negativa. Por isso, sem destruir as Forças Armadas burguesas e construir alguma forma de organização militar dos trabalhadores e das massas, não há nenhuma possibilidade de liquidar o capitalismo e iniciar a construção de um Estado de novo tipo. Isso nos leva a um problema central: é possível esperar que Chávez, primeiro um alto oficial das Forças Armadas e hoje seu máximo chefe, seja quem leve adiante sua destruição? Evidentemente não. Pelo contrário, vemos que sua política tem sido recompô-las e fortalecê-las, após a profunda crise que viveram depois do Caracazo, em 1989, que aumentou com o fracasso do golpe de 2002 para derrubá-lo. Por isso, Chávez perdoou os oficiais que encabeçaram esse golpe, concedeu um forte aumento de salários para os militares (afastando-os do nível de vida da maioria dos venezuelanos), ofereceu novas armas e recursos técnicos, etc.
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