Arthur Bispo, de Passo Fundo (RS)

É preciso retomar o isolamento social no Rio Grande do Sul para combater o crescimento da Covid-19

Na tarde desta quinta-feira, 23, foi revelado o maior escândalo relacionado ao combate do coronavírus no Rio Grande do Sul. Um surto de Covid-19 na linha de produção da JBS de Passo Fundo, que era conhecido por todas as instâncias sanitárias, expôs mais de 2 mil trabalhadores à doença por semanas, sem nada ser feito de concreto.

Supostamente, o prefeito Luciano Azevedo (PSB) e o governador Eduardo Leite (PSDB) estariam entre aqueles que se preocupam com a vida acima do lucro, em oposição ao governo Bolsonaro que desdenha e sabota qualquer medida mínima de prevenção ao coronavírus. A aparente diferença se desfez no ar em questão de horas. O Judiciário, instituição burguesa por excelência, também ignorou por dias a Ação Civil Pública do Ministério Público do Trabalho (MPT) que pediu a interdição da empresa. Só nesta sexta-feira, 24, a unidade da JBS foi interditada.

Em nenhum informe epidemiológico do Comitê de Orientação Emergencial de Passo Fundo foi descrito que, dos 70 casos confirmados na cidade, 19 casos são no frigorífico. Na mesma unidade, existem mais 15 casos suspeitos, dois óbitos de familiares dos trabalhadores e 78 afastados com síndrome gripal, segundo Priscila Schvarcz, procuradora do trabalho do município. Tampouco os informes da Secretaria Estadual da Saúde haviam mencionado a grave situação no local.

Para o PSTU, a interdição da fábrica por 14 dias defendido pelo MPT e pelo Conselho Municipal de Saúde, é uma medida limitada, pois são milhares de trabalhadores de Passo Fundo, mas também de Marau, Ibirapuitã, Soledade, Ronda Alta, dentre outras cidades da região. É preciso testar todos os trabalhadores e suas famílias, garantir a licença remunerada integral e impor a quarentena de todas as empresas de setores não essenciais nas cidades da região imediatamente.

As cidades de Marau e Passo Fundo, locais de origem da maioria dos trabalhadores, possuem índices de contaminação superiores aos do estado e do país. Ninguém saberia explicar a razão, até a revelação do surto na JBS. As denúncias ao MPT mencionam que a empresa nunca forneceu luvas e máscaras adequadas, não havia distanciamento no refeitório e quem exigia equipamentos de proteção individual adequados foram demitidos.

É até absurdo imaginar que o Sindicato da Alimentação de Passo Fundo, ligado à CUT, tenha feito tais denúncias ao MPT, mas não tivesse paralisado o local de trabalho. Foi necessário o governador Leite “vazar” a informação para que os que sabiam viessem a público. Os operários italianos que cruzaram os braços nas montadoras apontam o caminho: é preciso parar tudo para preservar as vidas de quem realmente trabalha e produz as riquezas do país.

Os limites do Comitê de Orientação Emergencial

Formado no final de março, o COE é coordenado pela Secretaria de Saúde da Prefeitura de Passo Fundo, que reúne a 6ª Coordenadoria Regional de Saúde, Conselho Municipal de Saúde, hospitais e instituições de ensino da cidade. Este organismo tem centralizado as informações da Covid-19 e referendando cientificamente os decretos municipais que isolaram parcialmente a cidade por três semanas.

Porém, os decretos recentes flexibilizaram as medidas e permitiram a abertura de setores não essenciais mediante regras específicas, fato ocorrido após as recentes pressões de parte dos empresários que realizaram uma carreata contra o isolamento social. O COE sabia do surto na planta da JBS e não alertou a população, quantas pessoas podem ter sido contaminadas por não saberem do risco? Nunca saberemos se não exigirmos políticas públicas do governo Bolsonaro, algo nunca feito pelo prefeito ou por seus assessores do COE.

São as trabalhadoras e os trabalhadores de Passo Fundo que estão mais expostos à pandemia, sejam os que atuam na linha de frente dos serviços essenciais (saúde, segurança, transporte, mercados, farmácias, etc.), quanto aqueles que tiveram que sair do isolamento social devido ao recuo nas medidas de prevenção na cidade e no estado.

O PSTU propõe que os sindicatos, movimentos sociais e suas organizações políticas acelerem a formação de um Comitê Popular Municipal que responda à crise na perspectiva dos trabalhadores. Que paute a necessidade de medidas rígidas de prevenção por local de trabalho, exija testes em massa para os casos suspeitos e medidas econômicas para garantir os empregos, os salários e a subsistência digna para todos enquanto for necessário o isolamento social.

  • Quarentena e testes rápidos para todos os trabalhadores e suas famílias;
  • Licença remunerada integral e estabilidade no emprego de 1 ano;
  • Isolamento social de todos os setores não essenciais em Passo Fundo e na região norte do Rio Grande do Sul;
  • Pela criação de um Comitê Popular Municipal para combater a Covid-19

Arthur Bispo é cobrador de ônibus e militante do PSTU