Detalhe da Manifestação que reuniu cerca de 6 mil pessoas no centro de Porto Alegre

No primeiro dia, também houve polêmica com a ANP e a discussão sobre o boicote ao Estado de IsraelO Fórum Social Mundial Palestina Livre, ou FSMPL, teve início oficialmente nesta quinta-feira, dia 29, em Porto Alegre, Rio Grande do Sul. Delegações de 36 países integram o Fórum que inclui cinco conferências, oficinas, seminários e diversas ações autogestionadas. As atividades do Fórum seguem até sábado, 1º de dezembro.

Uma grande passeata, que reuniu 6 mil pessoas no centro da capital gaúcha, marcou o início dos trabalhos. A manifestação teve forte presença dos profissionais da educação do estado, representada por uma coluna do CEPRS (sindicato da categoria no estado).

A CSP-Conlutas e o PSTU também marcaram presença no ato, portando bandeiras, faixas e cartazes em solidariedade à luta do povo palestino. Também chamou a atenção a saudação de Sara Al Suri, militante da revolução síria, que falou em nome da resistência síria contra o sanguinário ditador Bashar Al Assad.

Porém, antes da marcha, a polêmica entre organizações palestinas com a Autoridade Nacional Palestina (ANP) se expressou em uma das primeiras atividades do Fórum. Nabil Shaath, comissário de Relações Internacionais do Fatah e representante do presidente da ANP, enfrentou a revolta de um grupo de jovens palestinos que levantaram cartazes com os dizeres: “Eles não nos representam”. O grupo denunciou a política traidora da ANP como, por exemplo, a recusa da organização em defender o direito de retorno aos mais de 5 milhões de palestinos expulsos de sua terra natal por Israel.

O tema sobre o retorno dos palestinos expulsos também foi objeto de discussão de uma das mesas oficiais do Fórum. A mesa reuniu cerca de 80 pessoas, e contou com a presença de muitas organizações de jovens palestinos de vários países. Os oradores lembraram a essência colonialista e racista do Estado de Israel, polemizando, mais uma vez, com a política da ANP.

“É ofensivo quando Abbas diz que nós temos o direito de visitar nossa terra natal, mas não temos o direito de morar na cidade onde nascemos. É ofensivo para todos os 5 milhões de refugiados”, desabafou Soraya Misleh da Frente em Defesa do Povo Palestino de São Paulo. Já a professora Arlene Clemesha, diretora do Centro de Estudos Árabes da USP, lembrou que o tema dos refugiados deve ser assumido pela agenda do governo brasileiro e pelo Itamaraty nas discussões sobre a Palestina.

Outra atividade muito importante realizada no Fórum foi a mesa sobre ‘Sindicalismo e Palestina’, que organizou um debate com sindicalistas de cinco países sobre o papel dos sindicatos na solidariedade com a causa Palestina. A mesa reuniu sindicalistas do Brasil, EUA, Canadá e Escócia. A CSP- Conlutas esteve representada nesta mesa.

Boicote contra Israel
Já na manha desta sexta-feira, dia 30, foi realizada a Conferência sobre BDS(Boicote – Desinvestimento – Sanções) com vários debatedores. O evento foi seguido por uma plenária que debateu propostas de boicote a serem realizadas no Brasil. Um dos pontos mais debatidos foi a necessidade de exigir do governo Dilma o rompimento dos acordos comerciais do Brasil com o Estado Sionista, especialmente os acordos de compras de armamentos. A proposta de realizar essa campanha de exigência foi apresentada por Soraya Misleh, que coordenou os trabalhos da mesa.

Ao mesmo tempo, era realizada, na Assembléia Legislativa do Rio Grande do Sul, outra importante discussão no painel “Gênero e Resistência. Crítica ao feminismo colonialista, e a necessidade de solidariedade ativa às mulheres palestinas dentro de uma perspectiva anti-imperialista”. O painel contou com a presença da professora da San Francisco State University, Rabab Abdulhadi; com as americanas Rose Brewer e Angela Davis; a palestina Leila Khaled e Marisa Mendes, do Movimento Mulheres em Luta (MML). Marisa Mendes explicou que a luta do povo palestino não está dissociada da luta pela libertação da mulher. Também falou sobre a situação do Brasil, explicando que a eleição da primeira mulher à presidência da República não significou o fim do machismo no país.

Já no início da tarde, foi realizada outra importante oficina sobre “A questão palestina e as revoluções no mundo árabe”. O evento proporcionou um dos melhores debates realizados no Fórum, reunindo ativistas e revolucionárias da Síria e Palestina.

“Muitos jovens palestinos apoiaram com entusiasmo as revoluções e se envolveram em atividades de solidariedade. Os protestos também tiveram em nossa luta a sua inspiração. A luta da palestina é inseparável das revoluções árabes”, afirmou Najlaa, ativista palestina na Cisjordânia. Já Sara Al Suri, ativista da revolução síria, explicou a indissociabilidade das lutas travadas em todo Oriente Médio e Norte da África: “Há, hoje, um palestino em todo revolucionário sírio”.