Redação

Na manhã deste sábado, 14, o Congresso da CSP-Conlutas se dedicou ao debate sobre o balanço dos 11 anos da CSP-Conlutas e as perspectivas para o futuro da entidade. Compuseram a mesa do painel Preta Lu, do Quilombo Urbano, Mauro Puerro, professor da rede pública de São Paulo, Eblin Farage do Andes- Sindicato Nacional e Luiz Carlos Prates, o Mancha, do Sindicato dos Metalúrgicos de São José dos Campos (SP).

Sob diferentes visões, todos expressaram o grande acerto da fundação, construção e consolidação da entidade como alternativa de direção para a classe trabalhadora no país, assim como o caráter independente da central e a sua proposta de reunir as categorias tradicionais da classe, o movimento popular, indígena e quilombola, assim como as entidades  de luta contra as opressões.

A gente que milita no setor popular sabe que precisa fazer unidade com os setores dos trabalhadores, mas existe um setor dos trabalhadores que não estão nas estatísticas, mas cujas perdas eles pagam com as próprias vidas, e que são obrigados a pegar suas flechas para se defenderem, como vemos com o Moquibom, os indígenas“, afirmou Preta Lu, que também marcou a importância de se fortalecer um movimento negro independente dos governos.

Presenciamos nos 13 anos de governo do PT as alianças com lideranças do hip hop, como a  CUFA, enquanto denunciávamos a ocupação militar do Haiti, a CUFA mandava pessoas como  MV Bill pra fazer propaganda do governo“, denuncia.

É necessário ressaltar a importância de defender um grande acerto da nossa central foi defender o caráter sindical e popular. Deve ser defendido e mantido pra organizar a classe de conjunto, assim como organizar os setores que lutam contra a opressão, tendo como prioridade a ação direta“, opinou Mauro Puerro. “Nossa central tem outro acerto de origem, que é de nascer como central sindical e popular, que  junta mulheres, negros, quilombolas, indígenas,  LGBT’s, a superação da ordem do capital  passa necessariamente pela superação de toda forma  de opressão“, afirmou Eblin. Já Mancha destacou que a “CSP-Conlutas se consolidou como pólo mais avançado, minoritário mas com grandes acertos políticos, e um deles foi a manutenção da própria CSP-Conlutas“.

Debates
A partir desses acordos fundamentais, uma série de debates se abrem sobre o balanço do último período e a política que a central deve ter diante da atual realidade. Um setor, expresso na mesa principalmente por Mauro Puerro, parte de uma visão da conjuntura de que houve um golpe da direita contra o governo Dilma para aprofundar os ataques contra os trabalhadores. O movimento estaria na defensiva e, diante disso, a CSP-Conlutas deveria se jogar em iniciativas de frente única com outros setores, o que para eles a central deixou de fazer no último período.

Defender o caráter de frente única da central é uma tarefa decisiva, de todos nós”, disse. “É decisivo que saiamos daqui e construamos um forte dia 10 de novembro, assim como a  reunião no dia 11 em Brasília, para que possamos destravar as lutas da classe trabalhadora, e  também construir um campo político para construir uma alternativa a Lula 2018 e uma  alternativa à direita“, defendeu.

Já outro setor, expresso na mesa por Mancha, não considera que houve um golpe no país, mas a queda de um governo que perdeu sua base social pelos próprios ataques que desferiu contra os trabalhadores e a população, e reivindica o papel da CSP-Conlutas num momento em que quase a totalidade do movimento sindical foi cooptada pelo então governo Lula. “No governo Lula, a CSP-Conlutas manteve independência implacável ao contrário de outras centrais que se jogaram nos braços do governo em troca do imposto sindical“, afirma. “Foi a central que se manteve independente do governo durante todos esses anos“, completa.

Mancha lembrou da atuação da CSP-Conlutas durante as Jornadas de Junho de 2013, tendo sido a única central a chamar a mobilização junto com o massivo movimento que tomava as ruas de todo o país. A pressão sofrida pela central não é o do isolamento e autoproclamação, como afirmam alguns setores utilizando os mesmos argumentos que a CUT usou quando da fundação da Conlutas. “Depois da queda de Dilma, houve uma pressão tremenda porque tinha muita gente que, naquele momento, queria que entrássemos na Frente Povo Sem Medo, para ir aos atos pela volta de Dilma“, diz.

O dirigente lembrou que, durante uma reunião que participou da FPSM enquanto ela se formava ainda no governo Dilma, defendeu que fosse independente dos governos, o que não foi aceito pelos seus integrantes. Respondendo ao que seria uma recusa da central em buscar a unidade com outros setores, Mancha afirma que “tivemos uma política incansável pela unidade de ação”, referindo-se à articulação pela base na construção do dia de paralisação dos metalúrgicos no dia 29 de setembro de 2016 que “detonou os processos posteriores, como o  dia 15 e 30 de março, e a Greve Geral de 28 de abril“.

Diante disso, a política defendida por alguns setores como a integração a frentes como a Frente Povo Sem Medo e a plataforma VAMOS, que tem como estratégia as eleições de 2018 em torno a Lula, descaracterizaria o caráter independente e classista da CSP-Conlutas que a permitiu se firmar como pólo alternativo de luta.

Mas, embora a central tenha se jogado para construir a unidade de ação durante esse período que criou as condições para que os trabalhadores realizassem uma das maiores, se não a maior, Greve Geral da história, também é verdade que há muito o que avançar. “Achamos que precisamos entrar nas fábricas, porque quem detém as chaves da produção é a classe operária, temos que nos aproximar cada vez mais da classe operária, e pra fazer isso tem que discutir, temos que ser tolerantes“, defendeu.

Mancha ressaltou a importância da democracia operária como método de funcionamento da central. “Temos aqui 18 posições políticas, mas quem decide é a base, não são as correntes políticas ou os acordos das organizações por cima“, disse.