Foto Marcelo Camargo/Agência Brasil

Enquanto o governo Temer transforma o país num grande feirão a céu aberto, com o patrimônio nacional em liquidação às multinacionais e o capital financeiro internacional, outro feirão acontece só que de forma ainda mais explícita. A poucos dias do prazo para o registro das candidaturas, partidos e candidatos se colocam à venda, compram e negociam vantagens entre si, sem nem a preocupação de disfarçar.

Na última semana, o leilão dos principais candidatos se deu em torno ao chamado “centrão”, o conjunto de partidos composto pelo DEM, PP, PRB, Solidariedade e PR. Após ser assediado por todas as principais candidaturas, a disputa ocorreu principalmente entre Ciro Gomes (PDT) e Alckmin (PSDB). Ambos de olho no que o “centrão” tem a oferecer: tempo de TV, dinheiro, apoio de políticos locais, entre outras vantagens. Alckmin, por fim, com o aparato do governo de São Paulo e a máquina comandada pelo PSDB, levou o apoio da baciada de partidos.

Tão logo foi anunciado o acordo, saiu parte do preço para o ex-governador paulista. O Solidariedade, comandado por Paulinho da Força, exigia a volta do imposto sindical. A história não pegou bem, Alckmin desmentiu, e logo teve que desmentir o desmentido. Um dos principais articuladores dessa operação de compra e venda foi ninguém menos que Valdemar da Costa Neto, presidente do PR, preso no escândalo do mensalão.

Esse blocão de partidos corruptos garante ao tucano, além de mais de R$ 854 milhões do fundo eleitoral, mais da metade do horário eleitoral. Isso representa um verdadeiro bombardeio durante a programação da TV, com 318 inserções de 30 segundos. Foi ainda uma vitória contra Bolsonaro, com o qual disputa o voto conservador mais “ideológico”, que naturalmente seria seu.

O capitão da reserva e deputado há mais de 30 anos amarga o isolamento e poucos segundos na televisão, além de sequer ter conseguido um vice. Chamou Magno Malta, do mesmo PR de Valdemar da Costa Neto, e ouviu um não. Chamou o general Heleno, do PRP de Garotinho, e ouviu outro não. Por fim, restou-lhe a folclórica Janaína Paschoal que, embora seja mais conhecida, é do mesmo partido de Bolsonaro e não agrega nada em termos de tempo de televisão.

Com o cinismo habitual, Bolsonaro (PSL) atacou Alckmin por ficar “com o pior que há na política“, como se ele também não representasse isso e, pior, como se ele próprio não tivesse namorado essas mesmas siglas.

Foto Fernando Frazão/Agência Brasil

O PT, por sua vez, tentou como vice do candidato a presidente que ainda vai definir (Fernando Haddad ou Jaques Wagner) o filho de José Alencar, o empresário Josué Gomes (também do PR coincidência?). Mas o PR se bandeou para o PSDB, Josué está cotado para ser vice de Alckmin e, se não aceitar, a vaga pode acabar sobrando para o ex-ministro de Lula, Aldo Rebelo (ex-PCdoB e atual Solidariedade).

Todos iguais
O blocão formado em torno a Alckmin foi comemorado por setores da burguesia, principalmente da imprensa paulista, ávida em viabilizar uma candidatura em meio à enorme crise política que coloca as eleições num cenário de extrema incerteza. Alguns se mostram preocupados, porém, com o currículo de nomes como Valdemar da Costa Neto em seu arco de alianças, como se o próprio tucano não tivesse metido em inúmeros casos de corrupção.

Essa ciranda partidária mostra como todas as principais candidaturas expressam o mesmo projeto político. Não é que o “centrão” seja a maior expressão do fisiologismo: todos são. Ou que seja mais corrupto que os outros. Quer um símbolo maior de corrupção que o MDB? Ou PSDB de Aécio Neves que continua senador, ou mesmo Alckmin que goza da benevolência da Justiça? São todos corruptos, e defendem um mesmo programa para o país: seguir os ataques perpetrados pelos governos Dilma e Temer, e nisso com a prioridade de aprovar uma reforma da Previdência para o ano que vem, além de continuar com a entrega do patrimônio nacional ao capital estrangeiro.

Dentro desse grande acordo nacional, o que determina a formação das chapas são negociatas espúrias, o loteamento do Estado, o velho toma-lá-da-cá, ou diretamente grana.

Os episódios dos últimos dias, porém, não parecem resolver o problema da burguesia nessa crise. Extremamente dividida, parece por hora improvável que consiga enfiar goela abaixo Geraldo Alckmin. O ex-governador paulista não só não decola como tem o pior índice de um candidato tucano às eleições presidenciais. Atingido pelas denúncias de corrupção (embora protegido pela Justiça) o apoio do “centrão” pode se tornar mais um fardo que um presente. Bolsonaro é ainda mais um problema e um fator de instabilidade que uma solução. Ciro Gomes tampouco parece uma candidatura mais confiável, ou seja, que restaure a estabilidade e legitimidade do regime. Aliás, nenhuma delas garante.

Esse feirão mostra ainda como a reforma política beneficiou os velhos partidos corruptos. Enquanto Alckmin e sua coligação com o PR do mensalão terão mais da metade do programa eleitoral, Vera do PSTU, único partido a não aparecer na lista da Odebrecht, terá meros 2 segundos na TV.