Depois de elogios a Lula, oposição de direita recua de ataques ao governoDiante de farta evidência acumulada nesses 150 dias de crise, a CPI dos Correios foi obrigada a reconhecer o que todos já sabiam: os recursos utilizados para pagar o mensalão foram desviados dos cofres públicos. A denúncia, com tom de reconhecimento, partiu, no último 3 de novembro, do relator da Comissão de Inquérito, o deputado Osmar Serraglio (PMDB). Só após mais de cinco meses de investigação, com provas e evidências surgindo quase diariamente, a CPI resolveu evitar maior desmoralização e desmentiu a versão de que o caixa 2 do PT viria de empréstimos bancários contraídos por Marcos Valério.

Os documentos apresentados pela CPI desmontam a farsa articulada entre o Planalto, o PT e Marcos Valério, segundo a qual toda a crise política se resumiria no financiamento ilegal de campanhas eleitorais. De acordo com documentos bancários, pelo menos R$ 10 milhões dos recursos distribuídos pelo operador do mensalão, Marcos Valério, foram desviados do Banco do Brasil. A revelação joga uma pá de cal na tese dos empréstimos supostamente firmados por Valério junto ao BMG, argumento que nem mesmo a recém-falecida velhinha de Taubaté poderia acreditar.

BB: Nem parece Banco
O esquema do assalto petista ao dinheiro público era realizado por uma movimentação financeira envolvendo a empresa Visanet, o Banco do Brasil, o BMG e as empresas de Marcos Valério. De acordo com a CPI, a empresa de cartão de crédito Visanet, ligada ao BB, repassou R$ 35 milhões para a conta da DNA.

Um mês depois, a DNA repassa R$ 10 milhões para uma conta do BMG, cujo favorecido era o próprio banco. Quatro dias depois, o BMG realizava um empréstimo com a mesma cifra para uma empresa que tinha Marcos Valério como sócio. Esses são os recursos que, segundo o empresário, foram repassados ao PT. O responsável pela liberação deles teria sido o então diretor de marketing do banco, Henrique Pizzolato, ex-diretor da Previ e um dos principais arrecadadores da campanha eleitoral de Lula.
Em oito meses, o governo Lula repassou cerca de R$ 73 milhões do Banco do Brasil para a DNA, que seriam pagamentos adiantados de serviços. Essa é apenas a ponta do iceberg do mensalão. Além dos Correios, o envolvimento dos fundos de pensão e demais estatais no esquema de desvio continua nebuloso.

Farinha do mesmo saco
As investigações não se aprofundarão na descoberta de todas as fontes do mensalão. Até porque isso implicaria no envolvimento de praticamente todos os partidos de direita. Denúncia publicada pela revista Carta Capital atesta que o esquema de desvio de dinheiro público pelas agências do empresário mineiro não começou no governo Lula, mas já funcionava no governo tucano. Contratos fraudados no governo FHC teriam garantido à empresa de Marcos Valério, a SMPB, cerca de R$ 40 milhões (valores atualizados), entre pagamentos sem comprovação, fraudes e superfaturamento. Destes, pelo menos R$ 10 milhões teriam ido direto para a campanha do então candidato a governador pelo estado de Minas em 98, Eduardo Azeredo (ex-líder do PSDB).

Enquanto a oposição de direita insiste na denúncia estapafúrdia dos dólares supostamente enviados por Fidel em garrafas de rum à campanha do PT, o governo Lula, tendo à frente o Ministro da Justiça Márcio Thomaz Bastos, barra qualquer tentativa de aprofundamento das investigações, como por exemplo sobre a origem dos recursos mandados para Duda Mendonça no exterior. Já na Câmara, o “comunista” Aldo Rebelo coordena a pizza e trabalha para que a crise se estabilize.

Direita: oposição para americano ver
Na semana em que Bush veio conferir de perto a performance de seu quintal, a oposição de direita tentou elevar o tom do discurso e cogitou até mesmo impeachment, palavra sempre utilizada com a máxima precaução. Mas, como desde o início da crise, o discurso de PSDB e PFL não passa de oposição para americano ver. Alegando ser vítima de grampos telefônicos e arapongagem do Planalto, o líder tucano Arthur Virgílio chegou a afirmar que daria uma “surra” em Lula. O deputado ACM Neto, cuja família entende muito bem de grampos, foi na onda e elevou os ataques ao governo.

No entanto, à medida que se agravam as denúncias, as provas aparecem e o governo se vê mais encurralado, nos bastidores do Congresso o acordão avança sem maiores problemas. O processo de cassação de José Dirceu, apesar da CPI ter aprovado o relatório sugerindo o fim do mandato, se arrasta há meses. Já o caso do deputado Sandro Mabel (PL) é ainda mais estarrecedor. O relatório aprovado por unanimidade pelo Conselho de Ética da Câmara defende simplesmente o arquivamento do caso. Os 14 integrantes do Conselho, parlamentares do PSDB, PFL, PMDB e até mesmo do P-SOL (Chico Alencar e Orlando Fantazzini) ignoraram as denúncias contra Mabel, que coordenou a distribuição do mensalão entre o PL e o PP, e votaram pela sua absolvição.
Portanto, a verborragia da direita pretende apenas desgastar Lula até 2006, sem sobressaltos. E, após Bush tecer rasgados elogios ao governo brasileiro, PSDB, PFL e até mesmo a Ordem dos Advogados do Brasil, recuaram no discurso e descartaram a possibilidade de impeachment. Na verdade, fazem o que o chefe mandou.

Fora todos!
Por isso, o PSTU defende o “Fora Todos”. As instituições da democracia burguesa desgastam-se a cada novo escândalo. É preciso, mais do que nunca, repetir e intensificar as mobilizações contra o governo e o Congresso corruptos, construindo nas ruas uma alternativa de poder a esse regime dos ricos.

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