O governo colombiano anunciou no dia 2 de julho o resgate de Ingrid Betancourt, seqüestrada desde 2002, de três reféns americanos e outros 11 seqüestrados que estavam sob o poder das Farc (Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia). A operação foi muito mal explicada. Evidências indicam a participação do imperialismo norte-americano e de Israel na operação, realizando treinamentos e suporte de inteligência para o exército da Colômbia.Uma rádio suíça divulgou que o governo teria pago um resgate pelos reféns.

A liberdade de Ingrid está sendo utilizada como uma forte peça de propaganda por Álvaro Uribe. Seu resgate ajudará o presidente colombiano em sua tentativa de buscar um terceiro mandato – questionado pela Corte Suprema do país, que acusa a medida de “ilegal”. A propaganda também esconde o escândalo dos congressistas ligados aos paramilitares.

A colombiana Rosa Cecilia Lemus é professora e militante da Corriente Sindical Unidad, organização sindical que atua no movimento de educação. Em meio ao Congresso da Conlutas, ela falou ao Opinião sobre os assassinatos de dirigentes sindicais pelos paramilitares e também sobre a libertação de Ingrid.

Opinião – Quais são as denúncias de repressão do governo a sindicalistas?
Rosa Cecília Lemus – A repressão ao movimento sindical existe há muito tempo. Os dois últimos governos e agora o de Álvaro Uribe produziram cifras escandalosas. Os mesmos paramilitares que apoiavam o governo começaram a fazer denúncias depois que recorreram a um programa do governo chamado “Justiça e Paz”. Assim, começaram as estimativas do número de vítimas da violência. O procurador nacional da Colômbia diz que o número de mortes causadas pelos paramilitares é de cerca de 11 mil. Mas o Movimento Contra os Crimes de Estado, que reúne um setor das famílias das vítimas, estima uma cifra superior a 15 mil. Entre esses mortos estão dirigentes camponeses, indígenas e sindicalistas. Só neste ano foram assassinados 40 sindicalistas.

O governo diz que os bandos paramilitares se desmobilizaram, mas isso não é certo. Os paramilitares seguem sendo dirigidos das prisões. Também mudaram de nome, como “Agulhas Negras”. Porém continuam sendo as mesmas Autodefesas Unidas da Colômbia (AUC), a maior organização de paramilitares do país.

Fale um pouco da colaboração do imperialismo com o governo Uribe.
Rosa – A colaboração do governo dos EUA é total. Assim como a colaboração de Uribe com o governo norte-americano. Na América Latina, Uribe é campeão da política de “combate ao terrorismo” nos termos expostos por Bush, ou seja, de guerra contras as Farc. Mas os paramilitares não são chamados de terroristas.

Por isso há incursões militares, bombardeios contra povoados, fumigação contra plantações de coca etc. Há também uma forte ajuda econômica para o Plano Colômbia. Uma parte do dinheiro é usada para fortalecer o aparato militar. Outra é para comprar informantes, pagar recompensas pelas cabeças dos dirigentes das Farc. Algo que foi visto com a recompensa ao assassino de Ríos, do secretariado das Farc, que foi assassinado pelo seu próprio segurança.

A libertação de Ingrid Betancourt fortaleceu Uribe e sua tentativa de obter um terceiro mandato?

Rosa – O terceiro mandato de Uribe está sendo impulsionado há muito tempo. Seus apoiadores, inclusive, estão recolhendo assinaturas em um abaixo-assinado para sua reeleição. Mas, no meio disso, eclodiu uma crise muito forte entre as instituições depois que começou a ficar claro que os crimes dos paramilitares transformaram a Colômbia em um cemitério, com milhares de pessoas assassinadas. Além disso, o congresso do país tem por volta de 35% dos parlamentares comprados pelos paramilitares. Recentemente foi descoberto que muitos foram comprados para votar pela reeleição de Uribe.

Não estava na Colômbia quando Ingrid foi libertada. Mas, pelo que sei das notícias, parece que houve um resgate militar. Isso fortalece muito o governo Uribe, ainda mais num momento em que as Farc sofreram golpes terríveis. A política de Uribe é de derrotar militarmente as Farc. O resgate mostra um exército fortalecido, enquanto a guerrilha está em retrocesso e cada vez mais encurralada.

O resgate de Ingrid foi uma cortina de fumaça para esconder toda a crise institucional que o país vivia. Para os trabalhadores, significa o fortalecimento de um governo anti-operário.
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