Paralisação em São José dos Campos (SP)
foto: Sindmetal/SJC

Dia nacional de paralisações poderia ter sido ainda maior caso não houvesse boicote da CUT

O dia nacional de luta e paralisações convocado pelas centrais sindicais para esse dia 30 de agosto sacudiu o país. Paralisações, totais ou parciais, cortes de estradas e avenidas, além de manifestações públicas, marcaram essa data mostrando que, quase três meses após a explosão dos protestos que tomaram conta do Brasil, persiste a disposição de luta do povo e, em especial, entre os trabalhadores. A jornada de mobilizações segue, assim, o dia 11 de julho, que viu a entrada em cena da classe trabalhadora nas manifestações, com suas organizações e métodos de luta, apontando para o crescimento das mobilizações.

O 30 de agosto foi marcado por mobilizações de categorias de peso, como metalúrgicos, mineiros, trabalhadores da construção civil, petroleiros, servidores públicos e a juventude. A adesão de trabalhadores do transporte público fez parar por algumas horas pelo menos sete capitais: Fortaleza, Salvador, Natal, Belo Horizonte, Porto Alegre, São Luís e Palmas. Em São José dos Campos, interior de São Paulo e importante pólo industrial, pelo menos 27 mil operários de 25 fábricas paralisaram, incluindo os metalúrgicos da General Motors. Metalúrgicos no interior de Minas também cruzaram os braços, assim como os mineiros do complexo da CSN.

Os petroleiros também pararam, paralisando refinarias como a de Cubatão.  O Comperj (Complexo Petroquímico do Estado do Rio de Janeiro) também parou. Em Santos, os manifestantes bloquearam a entrada para a cidade, incluindo a rodovia Anchieta. Operários da construção civil tiveram importante participação, como em Belém e Fortaleza. O dia 30 ainda teve paralisações importantes no funcionalismo, tanto federal como os servidores estaduais e municipais de várias regiões, principalmente os trabalhadores da educação.

A jornada de mobilizações unificou não só as categorias, grande parte delas que estão iniciando agora ou já estão em campanha salarial, como também os vários processos de lutas que ocorrem em várias partes do país. No Rio Grande do Norte, por exemplo, os trabalhadores da Saúde, da Educação e da segurança pública realizam uma forte greve que conflui no movimento “Fora Rosalba”, exigindo a destituição da governadora que está jogando o estado no mais absoluto caos.

Mais ou menos o que também ocorre no Rio de Janeiro, que também vive uma forte greve da educação que acontece em meio à série de manifestações contra o governador Sérgio Cabral (PMDB) e a violência de sua polícia, expresso principalmente na palavra-de-ordem que se espalhou pelo país: “Onde está Amarildo?”.

Junho segue vivo
Assim como ocorreu no dia 11 de julho, é quase impossível que alguém nesse país não tenha sentido ou pelo menos visto pela imprensa as conseqüências desse dia de mobilizações. Elas mostram que a disposição de luta continua mais viva do que nunca quase três meses após a onda de manifestações que tomou conta do país. E revela ainda que os problemas pelos quais a população foi às ruas também persistem.

“Os trabalhadores foram às ruas nesse dia cobrar do governo e dos empresários a mudança desse modelo econômico, o fim do fator previdenciário, o fim desse PL 4330 das terceirizações, o fim do leilão do petróleo, enfim, a mudança dessa política em que o governo atende todas as reivindicações dos bancos e do empresariado e piora as condições de vida do povo brasileiro“, afirma José Maria de Almeida, o Zé Maria, dirigente da CSP-Conlutas e do PSTU.

Boicote da CUT
Infelizmente, a direção da CUT, que já vinha sinalizando um freio às mobilizações devido a uma movimentação do governo federal, que prometeu abertura de negociação em torno de algumas reivindicações para desviar e acabar com os protestos, não moveu sua base e em alguns lugares boicotou as paralisações e manifestações. Na região do ABC, a central não se mobilizou para parar os metalúrgicos. Ainda em São Paulo, onde dirigem os bancários, nem uma assembleia foi realizada para uma paralisação da categoria. No Rio de Janeiro, boicotaram a manifestação unificada que reuniu 3 mil pessoas.

Infelizmente, essa postura da CUT para evitar um maior desgaste do governo federal impediu que o dia 30 de agosto fosse ainda maior.

Papel da CSP-Conlutas
Por outro lado, é impossível analisar esse dia de paralisações sem falar sobre o papel cumprido pela CSP-Conlutas. Mesmo minoritária, a central teve importância fundamental nessa jornada de lutas, parando não só as categorias que dirige como os operários da construção civil de Fortaleza e Belém, ou metalúrgicos de São José e do interior de Minas, mas, por exemplo, através de oposições sindicais, como os companheiros que ajudaram a paralisar os trabalhadores rodoviários em Recife.

É importante agora apontar a continuidade da luta, pressionando as direções das centrais para que mobilizem suas bases, não aceitando acordos rebaixados como o que o governo quer impor ao trocar o fator previdenciário pelo fator 85/95.  Fundamental ainda, nesse processo, fortalecer alternativas reais de luta, como a CSP-Conlutas e a ANEL, cuja importância esse dia 30 mostrou.

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