Em 2002, o Paraguai tem vivido sucessivas crises políticas. Sua proximidade com Argentina já não é somente geográfica, mas também política e socialmente. A convulsão do país vizinho faz eco cada vez mais forte por aqui.

O ano começou com a crise oriunda do seqüestro, por parte do governo, de dois dirigentes do movimento de massas, Juan Arron e Anuncio Martí, militantes do Movimento Pátria Livre, que ficaram desaparecidos por 17 dias até serem resgatados de maneira espetacular por, nada mais nada menos, suas próprias irmãs. Esse fato levou a uma onda de protestos no mês de fevereiro que culminou com um ato em Assunção onde havia cerca de 2.500 pessoas.

Em fins de maio e começo de ju-nho, novamente, uma onda de manifestações varreu o país, culminando em cortes de estradas por 17 dias, enfrentamentos com a polícia em uma mobilização predominantemente camponesa, na qual 30 mil pessoas barraram os projetos de privatizações e a lei antiterrorista que tramitava no parlamento. Agora, em 15 de julho, uma nova onda, com características mais violentas, varreu várias cidades do país tendo como epicentro Ciudad Del Este.

O saldo inicial dessa última onda de protestos são dois mortos e pelo menos US$ 1 milhão em bens destruídos ou saqueados nas 36 horas em que duraram os enfrentamentos.

A situação do país é caótica. O Estado já não conta sequer com dinheiro para pagar seus funcionários e espera desesperado um empréstimo de emergência para saudar as dívidas do mês de junho com estes, atrasando inclusive salário dos trabalhadores da saúde e justiça que já haviam realizado várias paralisações nos últimos meses. Some-se a isto o lento estrangulamento da economia da Ciudad Del Este em virtude das restrições cada vez maiores do governo brasileiro ao contrabando. E, finalmente, a exigência de ajuste feita pelo FMI tem levado o Paraguai a uma crise sem saída, ao colocar o país à beira do colapso.

Frações burguesas disputam o papel de gerentes do imperialismo

No campo burguês, dois setores lutam para serem os gerentes gerais da crise paraguaia: o Partido Colorado, que domina o cenário político há mais de 50 anos, e Lino Oviedo, um general anão com complexo de Hitler e que hoje conta com o apoio inclusive de um setor do Partido Liberal.

Os protestos do dia 15 foram com certeza organizados pelos “oviedis-tas”. Estes protestos não contavam com mais de 5 mil pessoas em todo país (é bom lembrar que o Paraguai tem aproximadamente 5 milhões de habitantes), mas o grau de violência que elas chegaram realmente foi surpreendente. Um dos motivos prováveis é que sua composição social era extremamente lumpem. Estavam nos piquetes e barricadas principalmente desempregados, barraqueiros, etc. Os camponeses em geral não aderiram, a não ser em casos muito isolados. Igualmente, a juventude estudantil ficou de fora. Todos esses setores reagiram contra as manifestações por que, para eles, Oviedo não é a saída.

Em alguns lugares inclusive, como no Alto Paraná (Departamento cuja capital é Ciudad Del Este), “manifestantes” ameaçavam invadir um dos mais importantes assentamentos do país, El Triunfo, reconhecido por sua combatividade e por ser um “celeiro” da esquerda camponesa.

É inegável que, ainda que minoritário, um setor aderiu às mobilizações não por ser “oviedista”, mas por estar farto do Governo Macchi, dos “colorados”, dos roubos, desmandos, arbitrariedades. A falência da maioria das instituições do Estado, envolvidas em roubos, seqüestros e corrupção faz a gente comum crer que qualquer coisa é melhor que a situação atual.

As organizações de esquerda e o movimento social em geral não apóiam as iniciativas do “oviedismo”. Nem tampouco apoiaram o Estado de Sítio, que vigorou no país por dois dias, e a violenta repressão, que foram absolutamente desproporcionais, tendo em vista as dimensões do protesto, ao atingir todos indiscriminadamente.
Post author Lupus,
do Partido dos Trabalhadores do Paraguai
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