Plínio, antes de mais nada, parabéns pelo desempenho no debate da Band. Aquilo estava uma chatice enorme. O Serra não pode bater no governo para não perder votos, a Dilma tem as limitações mais que conhecidas como debatedora. Você, ao contrário, teve uma presença importante. Questionou todos eles em defesa de bandeiras caras a todos nós como reforma agrária e redução da jornada de trabalho. Com suas tiradas irônicas, deu um ar mais divertido àquela mesmice sonolenta.

Vivemos um monstruoso boicote da mídia que impede que outras candidaturas sejam conhecidas pelo grande público. Por isso foi muito importante ter alguém de esquerda como você nesse debate, com todos os outros na direita.

Não queria, no entanto, me somar ao coro bastante grande dos que só te elogiam. Como dizia Nelson Rodrigues, toda unanimidade é burra. Vai então aqui, depois do elogio, dois reparos.

O debate não foi “democrático”
O primeiro foi você ter classificado o debate como “democrático” logo em sua fala inicial. Todos sabem -e você também- que não houve democracia. Excluíram no campo de esquerda tanto o PCB como o PSTU. As emissoras têm obrigação de convidar os partidos com representação parlamentar, como o PSOL. Mas podem, se quiserem, convidar outros partidos, e não o fizeram.

Não pode ser que o PSOL fique satisfeito por estar incluído, deixando de protestar pela exclusão do resto da esquerda. Creio que teria sido mais justo ter falado sobre isso no debate, ao contrário de elogiar a democracia que não existiu. Essa, aliás, é uma reivindicação concreta: creio que seria importante fazer isso nos próximos debates.

A ausência do socialismo
O segundo tema é a ausência do socialismo de todo o debate. O único que poderia defender isso seria você, o que não aconteceu. O motivo é claro: esse não é seu programa. De acordo com sua entrevista na Folha de S. Paulo (01/08/2010): “Eu não pretendo implantar o socialismo no Brasil e nem é a pretensão do meu partido agora. Vou fazer uma proposta dentro do marco do capitalismo. As únicas formas socializadas que vamos ter são a saúde e a educação”.

Você defende um programa de redução da desigualdade social no marco do capitalismo, um capitalismo com rosto humano. Esse foi um dos motivos fundamentais pelo qual o PSTU e o PSOL não chegaram a uma aliança nessas eleições. Nós discordamos dessa proposta e defendemos um programa socialista.

Não acreditamos em reforma do capitalismo, embora lutemos por reformas parciais. As grandes empresas não estão dispostas a reduzir sua taxa de lucros. Ao contrário, brigam com todos os recursos que têm- o que inclui disputas eleitorais e golpes- para aumentar os lucros e não reduzi-los. No momento atual da globalização, podem simplesmente mudar as empresas para outro país.

Como você seguramente se lembra, a redução das desigualdades no marco do capitalismo foi a proposta do PT por 19 anos, antes de chegar à presidência. Esse é o famoso programa “democrático e popular”. Por anos e anos se educou a vanguarda brasileira que era possível governar junto com a burguesia progressista para reduzir a pobreza. Ao chegar ao governo, o PT passou simplesmente a administrar o capitalismo. Hoje, depois de dois mandatos de Lula, pode-se ver o resultado dessa estratégia.

Nós vamos defender nessa campanha eleitoral um programa socialista. Não acreditamos que estamos à beira de uma revolução, e menos ainda que através das eleições possamos chegar ao socialismo. O motivo pelo qual estamos defendendo um programa socialista não é nenhum desses. Nós simplesmente acreditamos que a revolução socialista é a estratégia correta, e vamos aproveitar a eleição para discutir isso com os trabalhadores. Não vamos ficar, evidentemente, só receitando fórmulas abstratas. Vamos trazer o programa estratégico para propostas simples em relação aos salários, emprego, saúde e educação.

Não queria terminar esse texto sem voltar a te cumprimentar pelo debate, apesar de, obviamente, não poder me solidarizar com o programa que você defendeu.