Rio de Janeiro 24 11 2019 Os jogadores do Flamengo chegaram ao centro do Rio de Janeiro, dando início à festa de consagração pelo título da Taça Libertadores da América foto Alexandre Vifdal/CRF
Wagner Damasceno, de Florianópolis (SC)

Wagner Damasceno, da Secretaria de Negras e Negros

Parabéns pela conquista da Libertadores e pelo Brasileirão deste ano!

O Brasil tem muitos times com grandes torcidas, que contam com a presença maciça de negros, e que possuem grandes ídolos negros em seus panteões, como é o caso do Corinthians, Santos, Vasco, Botafogo, Internacional, Bahia, Atlético-MG…

Mas é indiscutível que o Flamengo tem a maior torcida deste país e que é capaz de reunir, como nenhum outro time, a negrada de Norte a Sul do Brasil.

O Flamengo mostrou para o Brasil e para o mundo que, a despeito da polêmica entre os biólogos, o urubu segue sendo uma ave de rapina. Montou um time muito forte e que “executou os cara”, no Brasileirão e na Libertadores, com direito a uma virada épica sobre o River Plate.

Aliás, a última vez que um time brasileiro conquistou um Campeonato Brasileiro e uma taça Libertadores no mesmo ano. A última foi em 1963 com o Santos de Pelé, que terminou o ano Campeão do Mundo em cima do Milan.

Um tapa na cara dos xenófobos e racistas!
A chegada do técnico português Jorge Jesus ao Flamengo foi fundamental para dar coesão a esse enredo épico. Numa só tacada, Jorge Jesus afinou o time e mostrou com seu trabalho a mediocridade da maioria dos técnicos “medalhões” brasileiros.

Aliás, não faltou aquele “patriotismo barato” entre os técnicos e em boa parte da imprensa esportiva, quando o assunto era o técnico português.

Para defenderem os medíocres “medalhões”, jornalistas, técnicos e alguns dirigentes, apelavam para um discurso nacionalista tão barato quanto o do presidente Jair Bolsonaro, que diz que o Brasil está “acima de tudo”, mas vende as empresas públicas a preço de banana para as potências estrangeiras e ainda por cima bate continência para a bandeira estadunidense.

Afinal, quando o assunto é negociar jogadores brasileiros para os clubes europeus, árabes e chineses, não há nacionalismo nenhum da parte de técnicos, dirigentes, empresários e grande imprensa brasileira.

Jorge Jesus não aceitou isso calado e rebateu os ataques sofridos. Sua crítica ao preconceito xenofóbico se soma à luta do técnico do Bahia, Roger Machado, contra o racismo no futebol, a escassa presença de técnicos negros no comando de grandes clubes e na sociedade brasileira em geral.

As conquistas do Flamengo – que ainda pode ganhar o mundial, novamente, em cima do Liverpool – devem ser saboreadas por todos os seus torcedores! E alimentar a inveja dos rivais, onde me incluo!

Lima Peru 23 11 2019-Jogadores do Flamengo comemora o titulo da Libertadores da America 2019 jogou contra o River Plate e virou o jogo nos minutos finais.fo Alexandre Vidal /Flamengo

É pra tomar as ruas do Rio de Janeiro e antecipar o Carnaval!
Esse time de negros ousados já entrou pra história! E, para mim, o maior de todos eles foi o Bruno Henrique. Com destaques para o Gabigol, artilheiro matador, e o “coringa” Gérson!

Por fim, como em toda boa festa, há sempre aqueles penetras para lá de inconvenientes que querem tirar proveito da ocasião. A grandeza do Flamengo e de suas conquistas atraem oportunistas, como uma lâmpada acesa atrai os insetos numa noite quente.

É o caso do governador do Rio de Janeiro, Wilson Witzel (PSC), que tenta se promover como torcedor e até mesmo como parte responsável pelas conquistas do Flamengo.

Ainda tem o próprio Jair Bolsonaro que, literalmente, troca de camisa de clube como troca de partido. Tem, também, o seu ministro Sérgio Moro que, para melhorar a sua imagem após os escândalos de corrupção e manobras na condução da Operação Lava Jato, foi ao Maracanã junto com Bolsonaro assistir um jogo do Flamengo e vestiu o manto sagrado do clube.

A propósito, a “desenvoltura” de Sérgio Moro vestindo a camisa do Flamengo por cima do paletó lembrava um trecho da música “Candidato caô caô” do saudoso Bezerra da Silva: “Ele subiu o morro sem gravata; Dizendo que gostava da raça; Foi lá na tendinha; Bebeu cachaça e até bagulho fumou; Jantou no meu barracão e lá usou lata de goiabada como prato; Eu logo percebi é mais um candidato para a próxima eleição“.

No domingo, a PM do Witzel reprimiu covardemente os torcedores no centro do Rio de Janeiro, mostrando que o governador do RJ gosta da oportunidade de holofote que o Flamengo lhe oferece, mas que não suporta a sua torcida, com sua cor e sua raça, e odeia tudo o que esse clube representa.

“A festa na favela” entoada historicamente pela torcida do Flamengo, se choca com a terrível política desse mesmo governador facínora, que dá licença para a PM matar a juventude e o povo negro e trabalhador nas favelas cariocas.

Por fim, para a festa ficar ainda melhor, é preciso lembrar dos 10 jovens que morreram no CT do Ninho do Urubu, no início do ano, e de todos os feridos. Meninos pobres e negros que batalhavam para realizar seus sonhos.

É preciso redobrar as exigências de punição dos responsáveis por essas mortes e reparação para os seus familiares, já!

Os dirigentes do Flamengo são incapazes de fazer isso, pois, diferente dos torcedores, para eles todos os jogadores são apenas mercadorias. Mesmo este elenco fabuloso e campeão, é apenas mercadoria. E, como toda mercadoria, pode ser negociada ou descartada, caso julguem que não lhes serve mais.

Cabe aos milhões de torcedores essa exigência, mostrando mais uma vez que sabem honrar seus ídolos e seus mortos. Parabéns!