Redação

Texto conjunto assinado por companheiros de Araraquara, Bauru, Fernandópolis, Jaú, São Carlos e São José do Rio Preto

O rápido crescimento dos contágios, dos óbitos e o aparecimento de novas variantes da Covid-19, como a variante brasileira P1 do Amazonas que aumenta em 10 vezes a presença do coronavírus em doentes, somada a demora na vacinação e ao colapso no sistema de saúde, estão forçando os governos municipais a decretarem o lockdown. Foi o que aconteceu em Araraquara, no interior de São Paulo. Essa medida começa a ser considerada em diversos municípios do estado e do país.

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O lockdown (bloqueio total) busca reduzir ao máximo o deslocamento das pessoas para conter a proliferação do vírus. Entretanto, o fim do auxílio emergencial e o não fechamento dos serviços não essenciais, alto índice de desemprego e de informalidade, o aumento da miséria e da carestia, do preço dos alimentos, da luz, da água, do aluguel e do combustível, empurram a classe trabalhadora e o povo pobre a quebrar o isolamento, tão necessário nesse momento de descontrole da pandemia.

Nesse sentido, o trabalhador fica no meio de um duplo cenário de sofrimento: ou ele vai trabalhar e corre o risco de morrer pela Covid-19, ou ele fica em casa e corre o risco de morrer de fome, sem condições de se sustentar. Essa contradição, própria do sistema capitalista, se baseia nos lucros e interesses dos megaempresários e multimilionários, em detrimento da vida e dos interesses dos trabalhadores e trabalhadoras que produzem e reproduzem as riquezas do mundo.

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O município de Bauru, por exemplo, registra 417 mortes e caminha para 30 mil contaminados. O número de sequelados sequer é levantado. Refém dos negacionistas e dos interesses burgueses, para pagar os favores de campanha, o governo municipal tenta a todo custo manter a classe trabalhadora exposta ao vírus.

Jaú caminha para 300 mortes pela Covid-19, com uma fila de espera para atendimento hospitalar, que chega a 6,12% de mortalidade. Apesar do discurso “fique em casa”, o prefeito mantém os trabalhadores expostos, sem um decreto que afaste do trabalho os grupos de risco e permita o trabalho remoto para os não essenciais.

Araraquara, que foi notícia nacional pelo terrível cenário, decretou lockdown sem dar condições para que a população permanecesse em casa. É preciso que os governos garantam renda, salário e emprego, para que de fato essa política cumpra seu papel de conter a proliferação do vírus.

São Carlos já registra 10.238 casos positivos de covid, 137 óbitos e uma taxa de ocupação dos leitos do SUS de UTI para covid-19 de 86,4%.

Em São José do Rio Preto, passamos a marca de 1.100 mortos pela Covid-19. O Hospital de Base, que atende a 102 municípios da região e mais de 2 milhões de habitantes, têm 133 leitos exclusivos para a Covid-19, dos quais 124 estão ocupados, portanto, uma ocupação de 93% dos leitos de UTI e sem possibilidade de expansão. O colapso do sistema de saúde está prestes a acontecer não só no Hospital de Base, mas também, na Santa Casa e nos hospitais privados da cidade.

Esse colapso também se aproxima das Santas Casas de Votuporanga, de Fernandópolis, de Jales, de Santa Fé, como também, do Hospital Escola de Catanduva. Em toda a região temos de 80% a mais de 90% de ocupação dos leitos, ainda que tenhamos mais leitos do que 6 ou 7 estados do país. No entanto, esses leitos estão se esgotando e a perspectiva é que nos próximos dias, não haja possibilidade de atender à população, pois estaremos em colapso em toda a região.

A política genocida de Bolsonaro e necessidade da manutenção do auxílio emergencial para um Lockdown de verdade

Enquanto Bolsonaro incentiva o negacionismo para encobrir sua política genocida fazendo propaganda anti-vacina, Dória (PSDB-SP) tenta se diferenciar no discurso mas na prática permitiu o retorno às aulas presenciais, colocando em circulação centenas de milhares de estudantes e profissionais da educação, fazendo aumentar a contaminação e as mortes no estado. Além disso, o governador entrou na justiça para negar o auxílio alimentar para os alunos da rede estadual e, agora, determina um lockdown fake, sem o auxílio emergencial e suporte para os setores mais vulneráveis. Proíbe a circulação na madrugada e mantém livre o horário em que os trabalhadores são obrigados a se exporem a contaminação para garantir o lucro do grande empresariado que, inclusive, aumentou durante a pandemia.

O lockdown, no entanto, não pode simplesmente surgir de uma canetada e sem considerar a situação material das pessoas, principalmente daquelas que vivem com muito pouco. Exigimos que os governos municipais, estadual e federal parem com a política genocida em curso e apliquem medidas que, de fato, salvem vidas e não o lucro da burguesia.

Para se ter noção real da necessidade do auxílio emergencial, precisamos observar os números de pessoas que receberam o auxílio. Em Araraquara foram 58.225 pessoas, o que representa 24,42% da população. Em Bauru, 99.831 pessoas receberam o auxílio (26,2% da população total da cidade), em Fernandópolis foram 19.738 (30,7% da população), em Jaú foram 35.187 (23,16% da população total), em São Carlos 63.215 pessoas receberam o auxílio emergencial (24,84% da população total) e em São José do Rio Preto foram 130.983 beneficiários em 2020, representando 28% da população total.

 

A opressão como expressão da barbárie capitalista e a necessidade de construirmos uma sociedade socialista

A crise sanitária aprofundou as desigualdades de classe, de gênero e de raça no país. Aumentaram ainda a violência doméstica, política e institucional. Infelizmente, continuamos em 5º lugar em número de feminicídios no ranking mundial e em 1º lugar em assassinatos de mulheres trans e travestis. Mesmo as mulheres estando na linha de frente do combate à Covid-19, seguem acumulando as tarefas do serviço doméstico, de cuidado e de saúde. São, entretanto, as primeiras a perderem o emprego. Dos 14 milhões de desempregados do país, 65% são mulheres. Não à toa a rejeição ao governo Bolsonaro, cresceu muito entre os oprimidos, em especial, entre as mulheres negras e pobres.

Por isso não é possível esperar as eleições de 2022 nem aceitar que a vacina seja usada para fins eleitorais. O setor mais golpeado da nossa classe, junto com outros setores duplamente oprimidos, sente mais a crise capitalista e os ataques dos governos burgueses. E por isso também devemos convocar a classe trabalhadora a se organizar a partir das bases de seus locais de trabalho e moradia para tirar, agora, Bolsonaro, Mourão e todos os que nos exploram e oprimem, e possamos de fato garantir renda, emprego e vacina para superarmos a pandemia.

Aqui e no mundo o agravamento da situação da pandemia e da crise econômica põem em cheque governos e o próprio sistema capitalista. A luta contra as opressões é uma tarefa dos trabalhadores e das trabalhadoras de todo o mundo. Por isso, construímos uma ferramenta revolucionária em nível mundial. Por isso é fundamental construir o PSTU no Brasil, uma alternativa socialista e revolucionária e, construir em conjunto, a Liga Internacional dos Trabalhadores – Quarta Internacional (LIT-QI), para abater a barbárie do capitalismo e reconstruir um mundo socialista.

 

Lockdown imediato para salvar vidas e implementação de políticas públicas de proteção à renda, aos empregos e à subsistência

1 – Que os governos municipais, estadual e federal retome e garantam o Auxílio Emergencial, especialmente para os desempregados e trabalhadores informais, para garantir o direito ao isolamento até o controle da pandemia.

2 – Criação de um Banco de Alimentos onde o poder público adquira o excedente de produção da agricultura familiar para distribuição às famílias vulneráveis.

3 – Isenção do IPTU e cobranças de energia e água para desempregados e trabalhadores informais.

4 – Lockdown para todos (comércio, indústrias, serviços públicos não-essenciais). Devem funcionar apenas os setores essenciais. E que as fábricas sejam utilizadas para fabricação de materiais para ajudar a salvar vidas.

5 – Proibir as demissões, suspensão de contratos e reduções de salários.

6 – Que as prefeituras requisite a totalidade dos bens e serviços de saúde (público e privado) necessários para salvar vidas.

7 – Garantia de condições de trabalho aos profissionais da saúde. Que sejam garantidas aos profissionais da saúde todas as condições para que os mesmos possam exercer suas atividades com segurança.

8 – Vacina para todos, já! É dever dos governos garantir a saúde da população. A vacina é única medida eficaz para combater o vírus. Quebra de patentes já para ampliar a vacinação o mais rápido possível.