Criança levanta a mão ao lado de outros alunos em sala de aula da escola Thomaz Rodrigues Alckmin, no primeiro dia de retorno das escolas do estado de São Paulo para atividades extracurriculares em meio ao surto de coronavírus (COVID-19) em São Paulo, Brasil Outubro 7, 2020. REUTERS / Amanda Perobelli

Rafaele Acioli e Luiz Carlos Machado, do Rio de Janeiro (RJ)

Dezenas de países já iniciaram a vacinação. Mais de 17 milhões de doses já foram aplicadas ao redor do mundo. Não à toa, são países ricos, como EUA, China e Israel, que lideram o ranking da vacinação. Enquanto isso, aqui no Brasil, há atraso na concretização de um plano nacional, fruto da política negacionista do Governo Bolsonaro e das disputas eleitoreiras entre o presidente e alguns governadores e prefeitos, com destaque para João Dória (PSDB), governador de São Paulo. Até agora, concretamente, temos apenas 10,8 milhões de doses e não há uma data concreta para o início da vacinação. O Ministro da Saúde, Eduardo Pazuello, lançou a pérola “vamos vacinar no dia D e na hora H”, mais uma nítida provocação ao povo brasileiro que sofre com a pandemia.

A segunda onda de Covid-19 segue se expressando com força. No Reino Unido, no último dia 4, foram registrados quase 60 mil novos casos, onde está sendo decretado um novo lockdown. Israel também enfrenta um novo surto da doença e fechou todo o sistema de educação desde o último domingo, 10. O número de casos aqui no Brasil segue aumentando e já passamos de 203 mil mortes.

Pressão por volta às aulas presenciais

Diante deste cenário, aqui no Brasil vemos uma pressão por parte dos governos pela reabertura das escolas e a volta das aulas presenciais mesmo antes da vacina. Não nos parece razoável essa volta diante da possibilidade real de fazer a vacinação em massa no país e garantir o mínimo de segurança para os trabalhadores, crianças e responsáveis.

Pelo menos 15 estados têm previsão de retomar as aulas presenciais, mesmo que sem formato definido. Em São Paulo, por exemplo, Dória autorizou aula presencial até em fase vermelha (pior fase). Esses governantes se dizem preocupados com a educação das crianças, mas se fosse assim não tratariam a educação com tanto desprezo como vimos ao longo dos anos. A prova disso é que, ao final do ano letivo de 2020, o percentual de alunos de escola pública no município do Rio de Janeiro que foram atendidas pelo ensino remoto foi baixíssimo. O plano para este problema consistia que o ano letivo de 2021 seria organizado pedagogicamente em biênio a serem divididos em unidades de aprendizagem contendo de 4 a 5 períodos no Ensino fundamental e o EJA.

Agora, com a transição do governo Crivella ao de Eduardo Paes, a Secretaria de Educação do atual governo emitiu um calendário escolar no dia 6 de janeiro de 2021 desconsiderando o plano que supostamente atenderia os alunos que perderam o conteúdo escolar de 2020, apontando a volta às aulas no dia 8 de fevereiro e sem nenhum plano para os alunos que não foram atendidos pelo ensino remoto, deixando esse problema nas costas dos professores regentes.

O calendário atual aponta somente seis dias de avaliação diagnóstica, praticamente uma aprovação automática para todos os alunos. A equipe escolar (direção, equipe de limpeza, professores e cozinha), foi convocada para voltar ao trabalho presencial no período de novembro a dezembro em regime de escalas para evitar aglomerações, sem alunos, sem plano de segurança, somente com máscaras descartáveis e face shields, mesmo assim muitas escolas voltaram a fechar na primeira semana de retorno por conta da quantidade de pessoas contaminadas. Ou seja, não há como medir o tamanho da contaminação com a presença dos alunos e sem plano de segurança que é para o que estamos caminhando em fevereiro deste ano.

Na verdade, o interesse dos governantes é abrir ainda mais a economia para não prejudicar os lucros dos patrões. A manutenção das escolas fechadas durante a pandemia é um obstáculo. Por isso, usam uma série de argumentos de senso comum para tentar emplacar a reabertura das escolas e a volta das aulas presenciais mesmo antes da vacina. Há dados que indicam que, no Reino Unido, as instituições de ensino foram responsáveis por três vezes mais surtos de Covid-19 do que os próprios hospitais.

Os ataques seguem

Além do retorno das aulas presencias antes da vacinação, os governos seguem implementando uma série de ataques aos trabalhadores da educação. Em primeiro lugar, continuam a demitir os trabalhadores contratados, deixando milhares de famílias sem renda, ainda mais agora que Bolsonaro e Guedes cortaram o auxílio emergencial.  Usando o medo das demissões e mesmo daqueles que estão sem emprego, diversos governos colocam os trabalhadores contratados como os primeiros a retornar para as aulas presenciais para, assim, dificultar a resistência contra este ataque. Em inúmeros municípios os salários e o 13º estão atrasados, tanto dos trabalhadores da ativa quanto dos aposentados, é o caso do município do Rio de Janeiro. Há situações bizarras como a suspensão de concurso já realizado com profissionais empossados há meses. Está sendo assim no município de Volta Redonda, interior do Rio de Janeiro. Neto, prefeito da cidade, se ampara na Lei de Responsabilidade Fiscal para perpetrar tal atrocidade.

Agilizar a vacinação para garantir o retorno das aulas presenciais o quanto antes

A vacinação já devia ter começado em todo país. E o maior culpado pelo aumento no número de contaminados e mortos é o Governo Bolsonaro. Assim como é o maior culpado em ainda não podermos pensar em reabrir as escolas. É preciso começar a vacinação o quanto antes! É a vida dos trabalhadores e trabalhadoras que está em jogo. É preciso dar fim as disputas eleitoreiras como acontece entre Bolsonaro e Doria. Nenhum dos dois está preocupado com a vida da população e nem mesmo com a educação de nossos jovens e crianças.

Medidas

– Vacinação para todos garantido pelo SUS. Agilizar a vacinação para podemos reabrir as escolas o quanto antes. Até lá, todas as escolas fechadas!

– Manutenção do emprego. Nenhum trabalhador demitido!

– Salários e 13º em dia. Não aos atrasos!

– Manutenção do auxílio emergencial

– Cesta básica ou auxílio alimentação para os estudantes

É perfeitamente possível realizar todas essas medidas. Para isso, é necessário tirar daqueles que tem mais. É necessário suspender o pagamento da dívida, que na verdade é um mecanismo de transferência de recursos públicos para o bolso de meia dúzia de banqueiros e grandes empresários, e, significa quase metade do orçamento do país. Dar fim à lei de Responsabilidade fiscal. Em especial nesse momento de pandemia os recursos do país devem ter como prioridade a vida dos trabalhadores e do povo pobre.

A questão é que Bolsonaro, assim como os governadores e prefeitos, governam para os ricos e poderosos, esse é o capitalismo, e por isso, não vão aplicar essas medidas. Por isso, os trabalhadores devemos nos organizar e lutar para defender nossos interesses. Devemos colocar para Fora Bolsonaro, Mourão e Guedes, fazer uma Revolução social nesse país e construir um governo dos trabalhadores, sem patrões e sem corruptos, apoiado em conselhos populares construídos nos locais de trabalho, moradia e estudo.