Estamos na maior crise econômica dos últimos 80 anos. No entanto, no Brasil parece que nada acontece. O governo conseguiu, com o apoio da mídia, convencer a maioria dos trabalhadores de que “o pior já passou”. Por isso, Lula bate recordes de popularidade. Mesmo crises políticas da dimensão do episódio Sarney parecem não “colar” no presidente. É possível que Lula consiga levar essa situação até as eleições de 2010? Quais são as tarefas para as lutas de hoje? Para entender isso é preciso analisar a situação da crise mundial.

A maior crise econômica internacional em 80 anos
Desde o final do ano passado, existe um debate entre os economistas burgueses e reformistas sobre o caráter da crise e a sua dinâmica. Eles dizem que se trata de uma crise financeira ou de uma recessão comum, e a partir daí discutem a “forma” da crise (se em U, em V, etc.). E buscam sinais de uma recuperação rápida, falando sobre os “brotos verdes” do novo período de crescimento.

Nós, ao contrário, dizemos que estamos perante a maior crise internacional em 80 anos. O auge da globalização (década de 90 e início deste século) já se foi. Entramos numa crise cíclica de superprodução combinada com o estouro da gigantesca bolha financeira internacional. Esse processo pode terminar numa depressão igual ou pior que a de 1929. Ou ainda numa perspectiva de dez ou vinte anos de ciclos com crescimentos mais frágeis e crises maiores.

Isso não exclui a possibilidade de estabilizações momentâneas, períodos de calmaria relativa, com a redução na velocidade da queda ou mesmo de recuperações parciais. Até em 1929, após uma queda brusca inicial, ocorreu uma volta por cima parcial. Logo depois a economia voltou a cair cada vez mais até 1933, quando houve outra recuperação parcial, e nova queda em 1936-1937. A saída da longa crise só veio com a Segunda Guerra.

Agora vejamos o que está ocorrendo nos países imperialistas. Os primeiros dois trimestres da crise (último de 2008 e primeiro de 2009) foram de queda livre. A redução do PIB nos EUA foi de 6,2% no quarto trimestre de 2008 e de 5,7 % no primeiro trimestre deste ano. Na Europa, foi de 1,5% e 2,5% nos mesmos períodos. A produção industrial desabou nos EUA 19,1% no primeiro trimestre, seguida por nova queda em abril (0,5% em relação a março) e outra em maio (1,1% em relação a abril).
A concordata da GM é o símbolo do retrocesso da indústria automobilística, típica de uma depressão semelhante à de 1929. Na zona do euro, em que já tínhamos visto uma queda na produção industrial pesada no primeiro trimestre, a situação se agravou, com retrocesso de 21,6% em abril, outro índice claro de depressão.

Como observa o economista José Martins, hoje existe uma queda na produção industrial nos Estados Unidos e na Alemanha (principal economia da Europa) semelhante à ocorrida no início de 1929. Na Itália, na França e no Japão, os índices são piores que os daquela época. O comércio mundial já caiu 15 pontos, frente à queda de quatro em 1929.

A burguesia sabe da ameaça de uma depressão. Por isso, ao contrário de 1929, em que se deixou correr a crise sem grande intervenção dos estados, foi feita uma gigantesca operação de salvamento dos bancos, inédita na história. Foram injetados no sistema financeiro cerca de 13 trilhões de dólares. Isso freou a quebradeira e permitiu a retomada dos empréstimos interbancários. No entanto, ainda não foi possível normalizar o crédito aos consumidores e empresas, seu objetivo fundamental. Pior ainda, existem novas quebras financeiras em vista, mais uma vez de derivativos e agora também de cartões de crédito.

A grande injeção de dinheiro dos governos trouxe, por outro lado, a possibilidade de um colapso no sistema financeiro, ao ampliar o déficit público nos EUA e fragilizar ainda mais o dólar. O déficit americano já é de 1,84 trilhão de dólares. A Oficina de Orçamento do Congresso dos EUA avalia que os juros da dívida vão saltar de 172 bilhões de dólares neste ano para mais de 800 bilhões nesta década. Ou seja, os juros serão maiores do que qualquer déficit antes de 2008. O governo dos EUA conseguiu evitar momentaneamente a quebradeira dos bancos. Mas abriu a possibilidade de um colapso internacional nunca visto com a derrocada do dólar.

Por outro lado, a “estabilização” momentânea permitiu uma onda especulativa internacional, com os capitais (alguns deles saídos das operações de resgate dos governos) buscando alguns mercados de retorno rápido.

A “estabilização” permitiu também uma campanha política de que o pior já tinha passado. Agora, essa campanha se choca com a realidade. Basta ver os dados do desemprego: 467 mil novos desocupados nos EUA em junho (322 mil em maio), que já somam 6,5 milhões de demitidos nesta crise. Na Europa, 3,4 milhões de pessoas perderam o trabalho desde maio de 2008. Na Espanha, o desemprego já atinge 18,7%, um índice “latino-americano”.

Na realidade, depois da queda livre de seis meses no início da crise, houve uma diminuição do ritmo, que coincidiu com os planos de estabilização. Esses períodos não podem apagar a caracterização global da crise. Pode ser que realmente estejamos evoluindo para uma depressão como a de 1929. E pode ser também que a economia evolua para dez ou vinte anos de crescimentos frágeis e crises mais fortes.

O que descartamos pelos próximos anos é a retomada de um auge global como no pico
da globalização. Teremos um período longo de crises, com a consequente instabilidade política, até que o capitalismo queime o capital excedente e imponha novos parâmetros de superexploração, ainda piores que os determinados pela globalização.

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