A Central dos Trabalhadores e Trabalhadoras do Brasil, CTB, foi fundada no dia 12 de dezembro num congresso em Belo Horizonte (MG). Participaram do evento a Corrente Sindical Classista (CSC), alinhada ao PCdoB, e um agrupamento ligado ao PSB denominado “Sindicalismo Socialista Brasileiro”.

Segundo a organização, 1.300 delegados de 480 entidades sindicais compareceram ao evento. O congresso foi, na verdade, o ato nacional de fundação da CTB, já anunciada na noite de abertura. Um único dia foi dedicado ao debate, todo ele em plenário. O último dia se resumiu a uma plenária de meio período, com discursos dos convidados e apresentação da diretoria da entidade, presidida pelo metroviário Wagner Gomes, de São Paulo.

A fundação da CTB mostrou a forma burocrática e anti-democrática com que tradicionalmente age o PCdoB. A decisão de romper com a CUT havia acabado de ser tomada, na VII Plenária Nacional da CSC, realizada em setembro. Em menos de três meses, o PCdoB organizou o congresso de fundação da entidade e aprovou, por unanimidade, sua carta de princípios, os estatutos e a direção. Um processo bastante diferente da Conlutas, cujo processo de organização e fundação levou mais de três anos.

No congresso foi votada também por unanimidade a filiação da CTB à Federação Sindical Mundial, aparelho controlado pelas direções castristas e chavistas. Uma única tese foi apresentada para debate e… aprovada também por unanimidade!

CTB e o governo
O surgimento da CTB certamente provocará questionamentos entre os ativistas. A nova entidade tem peso político importante. Rompe com a CUT criticando seu apoio ao governo, a ausência das lutas e sua burocratização. Votou um plano de ação que se choca com várias das políticas do governo Lula, mas, ao mesmo tempo, declarou seu apoio crítico, sistematizado na fórmula: “apoiar as medidas progressistas do governo Lula, mas também pressioná-lo para que avance nas mudanças”.

Justificando essa posição, declara que “a CTB defende uma tática diante do governo Lula que evite tanto a passividade acrítica da CUT como o voluntarismo esquerdista da Conlutas e da Intersindical. Nem chapa branca nem oposição sectária!” A CTB pretende então se posicionar entre as direções governistas e as novas organizações que surgem em oposição. Sem deixar, no entanto, de na prática apoiar o governo Lula.

Razões da ruptura com a CUT
Até a fundação da CTB, o PCdoB desenvolvia uma campanha contra a Conlutas, acusando-a de divisionista e de fazer o papel da direita no movimento sindical. Até então, o PCdoB ignorava o retrocesso vivido pela CUT e o processo de ruptura de um setor importante do movimento sindical e popular com suas direções tradicionais, a partir da chegada do governo Lula ao poder.

Por que então, o PCdoB muda sua tática? Essa virada na política responde a três questões essenciais: de um lado, ao avanço da crise no interior da própria central e à perda do espaço à esquerda no movimento sindical, principalmente após o surgimento da Conlutas e também da Intersindical. As principais lutas desenvolvidas pelos trabalhadores desde 2003 se chocaram com o governo e também com a direção da CUT.

De outro lado, responde à luta burocrática pelo imposto sindical (desconto anual de um dia dos salários de todos os trabalhadores) que agora será dividido entre as centrais sindicais que se legalizarem. Ainda na CUT, o PCdoB tentou negociar a sua participação no rateio do imposto, sem sucesso.

A defesa da estrutura sindical oficial, materializada no apoio à unicidade sindical definida em lei e ao imposto sindical obrigatório, coloca a CTB mais próxima dos setores mais conservadores do movimento sindical e à direita das próprias resoluções da CUT. Por fim, a organização da CTB também responde à necessidade de se criar uma base popular para uma eventual candidatura de Ciro Gomes (PSB) à presidência da República em 2010, como candidato do bloco parlamentar formado por PCdoB, PSB e PDT.

Ausência do debate sobre a transposição
O congresso da CTB ocorreu em meio à segunda greve de fome de dom Cappio e o evento simplesmente não debateu o tema. A ausência da discussão se explica principalmente pelo apoio ao governo Lula. Também tem a ver com o apoio do PCdoB à pré-candidatura de Ciro Gomes, um dos principais defensores da transposição.

Ciro está alinhado às grandes empreiteiras, latifundiários e representantes do agronegócio na região, os principais interessados na obra. O PCdoB tem mantido um silêncio cúmplice sobre o assunto e coloca a sua estratégia eleitoral acima das necessidades populares e da luta de um amplo setor de movimentos.

Proposta do Conclat
A CTB participará da Coordenação dos Movimentos Sociais (CMS), junto com a CUT, a UNE e o MST. A CMS tem demonstrado um poder de mobilização limitado pelo apoio dado ao governo, mas é composta pelas organizações que ainda têm mais peso entre os trabalhadores.

Dessa forma, o PCdoB pretende revitalizar a CMS, relocalizando sua política e tentando, junto com setores do MST, retomar o espaço perdido. Ao mesmo tempo, o Congresso da CTB fez um chamado a uma Conferência Nacional das Classes Trabalhadoras (Conclat). Com essa política, o PCdoB pretende tirar da defensiva as organizações governistas, que têm se negado a se somarem na luta contra as reformas e os ataques do governo.

Como parte dessas iniciativas, foram lançadas uma campanha pela redução da jornada de trabalho e a apresentação, em acordo com o governo, de projetos de lei que ratificam convenções da OIT (Organização Internacional do Trabalho) contra a demissão arbitrária e pelo direito de negociação no serviço público. O PCdoB pretende reeditar uma política de mobilização em apoio a projetos do governo, tirando de cena a luta contra as reformas previdenciária e trabalhista, hoje bastante identificada com as posições da Conlutas.

Romper com o governo
Sem romper com o governo Lula e enfrentar suas reformas, a CTB sofrerá o mesmo processo de degeneração e burocratização da CUT, ainda que tenha chegado, tardiamente, a um diagnóstico parcialmente correto do papel atual da CUT.
Esse teste estará colocado, mais cedo ou mais tarde, nas ruas, nas greves e nas mobilizações contra as políticas e reformas do governo Lula.

A Conlutas deve fazer unidade sempre que houver um programa mínimo e reivindicações dos trabalhadores a serem defendidas. Mas, ao mesmo tempo, deve exigir da CTB sua ruptura com o governo, pois sem desmascarar o principal responsável pela aplicação dos planos neoliberais em nosso país, não será possível construir as condições para vitórias efetivas de nossa classe.

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