Até a crise econômica afetar o crédito no Brasil, a indústria automobilística no país crescia e as grandes montadoras multinacionais aqui instaladas tinham lucros recordes. Tal situação contrastava com a realidade das matrizes nos EUA, onde empresas centenárias se afundavam em crescentes prejuízos, dependendo das remessas de lucros de suas filiais.

O aumento da produtividade e os lucros das multinacionais dos automóveis nos países periféricos há muito tempo supera o dos EUA. Antes, as multinacionais aproveitavam apenas os baixos salários dos trabalhadores dos países semicoloniais, mas tinham fábricas obsoletas. No início dos anos 80 no Brasil, por exemplo, a produção de um veículo demorava de 5 a 10 dias. No entanto, as multinacionais passaram a um grau maior de internacionalização da produção, utilizando-se de plantas industriais em países semicoloniais também para exportação para outros países. Para isso, modernizaram as fábricas, que passaram a oferecer carros semelhantes aos dos mercados imperialistas.

Tal modernização implicou também no rebaixamento cada vez maior dos salários. Com isso, as multinacionais conseguiram que os operários dos países semicoloniais dêem muito mais lucros que os trabalhadores norte-americanos.

De acordo com a empresa de consultoria automotiva Habour Consulting, a produtividade do Brasil supera em muito a dos EUA, mesmo após uma série de reestruturações que a indústria norte-americana sofreu nos últimos anos. Segundo o estudo, a montadora mais produtiva dos EUA em 2006 foi a Toyota, que conseguia produzir um carro no tempo médio de 29 horas.

Números impressionantes
A GM, maior montadora do mundo, produz nos EUA um carro a cada 32,36 horas. Para se ter uma idéia, no Brasil um automóvel demora 22 horas para ficar pronto. Na planta da montadora em Gravataí (RS), inaugurada em 2000 e uma das mais modernas do mundo, um carro permanece apenas 12,5 horas na linha de produção. A fábrica é apontada como referência pelo próprio presidente mundial da empresa, Fritz Henderson. “É, sem dúvida alguma, uma unidade exemplar no que diz respeito aos índices de produção com qualidade e também em produtividade”, afirmou Henderson, durante cerimônia que comemorou a marca de um milhão de carros produzidos na fábrica, em maio deste ano.

Além disso, a jornada de trabalho no Brasil é maior que a dos outros países. Enquanto a jornada semanal no país é de 44 horas, nos EUA é de 42 horas, na Alemanha de 40 horas, na França de 38,6 horas e na Espanha, 35 horas. A produtividade é maior, assim como o tempo de serviço. O salário, no entanto, é bem menor. Nos EUA, o custo médio de um trabalhador da GM é de 73 dólares por hora, contando tanto salários quanto demais benefícios como plano médico.

A tendência das multinacionais em todo o período de globalização foi de rebaixar o nível salarial ao nível dos países em que se paga menos. Isso incluiu os operários dos países imperialistas. Os novos trabalhadores norte-americanos que entram hoje na linha de montagem recebem até 10 dólares por hora de trabalho. Mesmo rebaixados, no entanto, estes salários estão bem acima dos metalúrgicos dos países periféricos.

No Brasil, o salário médio de um operário de uma grande montadora está entre 6 e 12 dólares por hora. Na China é de em média 3 dólares, valor que pode chegar a 6 no Leste Europeu. Na Índia, é de apenas 1 dólar.

É essa combinação de modernização e aumento da exploração que possibilitou que os lucros das montadoras no Brasil e outros países semicoloniais estejam subindo, enquanto os das matrizes caem.

No mesmo terceiro trimestre de 2008 que a GM dos EUA teve um prejuízo de 2,5 bilhões de dólares, os lucros da empresa na região que engloba América Latina, África e Oriente Médio foram de US$ 514 milhões (crescimento de 140 milhões em relação ao terceiro trimestre de 2007). A Ford, que nesse período perdeu 2,9 bilhões de dólares nos EUA, lucrou na América do Sul (com destaque maior para o Brasil), 480 milhões, quase 100 milhões a mais que no mesmo momento do ano anterior.

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