Em março se completou cem anos do nascimento de Carolina de Jesus, escritora mineira que ficou conhecida por retratar o dia-a-dia dos moradores da periferia. Mas infelizmente, cem anos depois, o que está nas ruas não é a comemoração de uma grande escritora negra em nossa cultura, mas sim as lágrimas de toda a classe trabalhadora. Cláudia da Silva Ferreira, 38 anos, faxineira, mãe de quatro filhos e que cuidava de mais quatro sobrinhos, apareceu em um vídeo na Internet sendo arrastada por uma viatura da PM carioca. Uma cena forte nos primeiros segundos do vídeo, um ser humano sendo tratado como um objeto que não sente dor.

Segundo a PM, Cláudia esteve entre tiros trocados entre a polícia e traficantes e, quando baleada, foi “resgatada” e levada ao hospital. Mais uma falácia dessa polícia assassina que sobe os morros com fuzis apontando para a nossa juventude e os trabalhadores. O marido da vítima, em uma declaração ao jornal Extra Globo, desmente a versão da polícia: “Os policias se amedrontam com seis reais e um copo de café, que era o que ela tinha nas mãos. Todo mundo viu que não houve tiroteio. Tanto que a comunidade desceu na mesma hora para protestar. Se tivesse troca de tiros, ela teria sido alvejada na frente e atrás”, afirma Alexandre. Na viatura, o corpo de Cláudia foi arrastado por cerca de 250 metros, o desfigurando totalmente.

Em solidariedade a Cláudia, moradores de Madureira, Zona Norte do Rio, realizaram um protesto denunciando mais um crime da PM. Alguns manifestantes levaram o uniforme de Cláudia reafirmando que mais uma trabalhadora foi “confundida” pelas balas de Cabral. “Ela é trabalhadora e não era envolvida com nada de errado. Quando foi morta estava indo na padaria comprar pão e com o café na mão. A polícia acabou matando ela no meio da rua”, conta a amiga da vítima, Ineri Brandão.

Os policias foram presos para averiguação e estão detidos no batalhão da PM, mas isso não é sinal de que Cabral e sua polícia se arrependeram do que fez. Pelo contrário, se o governador quisesse mesmo que não houvesse mais casos como o de Cláudia, retiraria imediatamente dos morros suas UPP’s que, desde quando foram implantadas, só inflige dor ao povo pobre e preto.

A forma como Cláudia foi tratada nos remete muito a épocas de escravidão, onde nossos ancestrais escravizados eram tratados como objetos. Homens e mulheres, pelo fato de serem negros, eram “coisificados” pelo senhor de escravo, e como objetos, eram torturados, mutilados, acorrentados e arrastados, como se não tivesse uma vida ali naqueles corpos. Cenas cruéis como essas infelizmente estão longe de ser apenas um relato nos livros de história, são o dia-a-dia de todos os negros e negras trabalhadores.

Acreditamos que o caso chocou a todos os ativistas do movimento negro, que em muitos casos não conseguiram ver o vídeo inteiro por tamanha atrocidade. O país da “Copa das Cores”, como Dilma (PT) anuncia, é o país em que nossas “mães pretas” são arrastadas pelas ruas. Se Dilma quiser mesmo se comprometer com o combate ao racismo, que comece a expulsar as UPPs dos morros. E mais, cobramos que Cabral seja punido com prisão.

Esse novo episódio de barbárie policial reforça ainda mais a importância do I Encontro do Setorial de Negros e Negras da CSP-Conlutas, que ocorre no próximo dia 23 de março em São Paulo. O tema do encontro é justamente “Chega de racismo, violência, exploração e dinheiro para a Copa”.

Nós, da Secretaria de Negras e Negros do PSTU, nos solidarizamos com a família de Cláudia pois acreditamos que quando uma trabalhadora morre, pesa no peito de toda a classe. As lágrimas de um trabalhador são as lágrimas de toda a classe e de todos os negros e negras.

  • Pelo fim do genocídio da juventude negra e às nossas mães pretas
  • Fora Cabral!
  • Desmilitarização e fim da PM!
  • Dilma, deixe de falação! Aos governantes racistas e assassinos queremos prisão!
     

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