Às vésperas da visita, protestos contra ocupação são proibidosNo dia 28, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva realizou sua segunda viagem ao Haiti. Por trás das frases de “cooperação” e “ajuda humanitária”, o objetivo do governo brasileiro é reforçar a ocupação colonial do país. Uma ocupação que completa quatro anos e cuja liderança é exercida pelas tropas brasileiras. Cerca de 1.200 soldados brasileiros estão no Haiti, além das tropas de Argentina, Bolívia, Uruguai e Chile.

A ocupação visa satisfazer os interesses do imperialismo norte-americano na região. Os trabalhadores haitianos recebem o pior salário de todo o continente. Por isso, querem transformar o Haiti em uma zona franca, onde se produziriam mercadorias baratas para exportação.

Tanto é assim que Lula foi acompanhado de empresários brasileiros, interessados na construção de barragens para uso em irrigação e geração de energia elétrica.

Protestos proibidos
Pouco antes da visita, o governo haitiano proibiu qualquer tipo de protesto contra a ocupação. A organização sindical Batalha Operária (Batay Ouvriye) denunciou que foi impedida de realizar manifestações e foi ameaçada de repressões: “O protesto foi categoricamente negado pela polícia nacional! Nem mesmo um protesto um pouco mais afastado, no parque onde se encontra o palácio, foi aceito”, afirma um boletim da organização.

Não é a primeira vez que o governo haitiano, apoiado pelos soldados brasileiros, proíbe protestos no país. Após a rebelião popular contra a inflação dos alimentos que sacudiu o Haiti em abril, o governo proibiu até mesmo os atos do 1° de Maio.

Pão e circo
Na sua primeira visita ao Haiti, em 2004, Lula tentou acalmar a população com circo. Levou a seleção brasileira para jogar no país. Dessa vez, foi utilizada outra manobra para conter a insatisfação da população haitiana com a ocupação. O governo brasileiro distribuiu 150 toneladas de alimentos na capital do país, Porto Príncipe.

Num país em que o desemprego supera os 60% e comer apenas uma vez por dia é cada vez mais comum, a distribuição de algumas cestas é claramente insuficiente. A medida pode apenas garantir mais tranqüilidade à visita de Lula e aliviar por alguns dias a fome das pessoas que receberam os alimentos.

Novos abusos
Um dia antes de Lula visitar o Haiti, mais uma denúncia de abuso sexual por parte dos soldados da ONU apareceu. A ONG Save the Children divulgou um relatório com casos de violência sexual contra crianças em locais onde existem “missões humanitárias”.

O relatório diz que as tropas de paz da ONU “são uma fonte particular do abuso em várias localidades, especialmente no Haiti e na Costa do Marfim”.
Essa situação não é nova. Em novembro do ano passado, 108 soldados do Sri Lanka pertencentes à força da ONU no Haiti foram mandados de volta a seu país por abuso sexual, inclusive de crianças.

É preciso aumentar a campanha para exigir do governo Lula a retirada das tropas do Haiti. O povo haitiano não precisa dos coturnos da ONU. Precisa de independência para decidir seu destino. A presença das tropas nunca foi ajuda humanitária. Pelo contrário, representa uma ocupação a serviço do imperialismo e das multinacionais.
Por isso, a Conlutas realizou atos no dia 28, no Rio de Janeiro e em Brasília, contra a ocupação militar.

Post author Marisa Carvalho e Jeferson Choma, da redação
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