No dia 12 de novembro, o ambientalista Francisco Anselmo Gomes de Barros, o Franselmo, morreu após atear fogo ao próprio corpo em protesto contra a instalação de usinas de álcool na região do Pantanal, no Mato Grosso do Sul.
O ato do ambientalista ocorre pouco mais de um mês depois da greve de fome do bispo Dom Luís Cappio, contra a transposição do Rio São Francisco e a favor de sua revitalização. Não é coincidência que ações extremas como essas sejam realizadas por esses ativistas. A causa das ações é a política criminosa do governo de lidar com questões ambientais partindo de uma visão mercadológica, que apenas busca beneficiar grandes empresas e seus lucros.

Usinas no Pantanal
O projeto que tramita na Assembléia Legislativa do Mato Grosso do Sul permitirá que usinas e destilarias sejam instaladas a um quilômetro dos rios, o que representa um enorme risco de contaminação dos rios com o vinhoto, resíduo resultante da produção do álcool, e degradação do solo pelas lavouras de cana-de-açúcar.
Em 1982, a Assembléia Legislativa do estado proibiu destilarias na bacia do Alto Paraguai, onde fica a planície pantaneira. A aprovação da lei 328 foi fruto de uma grande luta na época, encabeçada pela Fuconams (Fundação para Conservação da Natureza de Mato Grosso do Sul), uma ONG criada no fim da década de 70 por Franselmo.

Desde agosto deste ano, o governador de Mato Grosso do Sul, José Orcírio dos Santos, o Zeca do PT, tenta derrubar essa lei. O governador petista é o principal defensor dos projetos e, contra todas as análises de especialistas e ambientalistas, diz que não haverá danos ao meio ambiente.

Outros projetos
Além disso, há outros projetos em tramitação que envolvem a degradação da área pantaneira. Eles também são defendidos por Zeca do PT, que não mede esforços para beneficiar grandes empresas em detrimento da degradação do meio ambiente. Há propostas para instalação de um pólo para processar minério de ferro, um pólo para retirar fertilizantes e gás de cozinha do gás natural boliviano, uma usina termelétrica e uma hidrovia. As propostas envolvem riscos de explosões, contaminação com substâncias químicas, vazamentos de insumos para rios, poluição atmosférica e desmatamento.

Para a construção da hidrovia, que serviria para escoar a produção nos pólos (gás-químico e minero-siderúrgico), seria necessário retirar rochas, alterar curvas e a profundidade de trechos do Rio Paraguai. Segundo o secretário-executivo da coalizão de ONGs Rios Vivos, Alcides Faria, essas obras vão acelerar a vazão do rio, o que alteraria os ciclos de cheia e de seca na planície alagável. “O Pantanal, com as características atuais, poderá desaparecer”, disse o ambientalista.

Falsa polêmica
Após a morte de Franselmo, a ministra do Meio Ambiente, Marina Silva, se apressou em dizer que é contra o projeto de instalação de usinas na região e soltou uma nota do ministério lamentando a morte do ambientalista. À primeira vista, parece que se estabelece uma polêmica entre o ministério e o governador petista.

Entretanto, como explicar que tal tomada de posição apenas tenha se dado após a morte de Franselmo? Enquanto a polêmica passava longe dos noticiários, o ministério não se preocupou em opinar, permitindo que Zeca fizesse seu lobby em Mato Grosso do Sul.

Na verdade, Marina foi obrigada a dar uma resposta, diante da exposição do fato, já que o projeto é um verdadeiro escândalo. Apesar de isso ter custado sua vida, Franselmo conseguiu chamar a atenção de todos para o projeto e exigir uma resposta pública do ministério.

Não há polêmica entre o governo e Zeca do PT. Além dos casos do Pantanal e da transposição do Rio São Francisco, atualmente, o governo federal aguarda a aprovação no Senado do projeto de gestão de florestas públicas, um verdadeiro plano para privatizar as áreas verdes do país. O PL 477 consiste na autorização para qualquer empresa explorar áreas da floresta amazônica por até 60 anos. Está claro que o governo Lula governa para as elites, para as grandes empresas e latifúndios, ainda que isso signifique a degradação do meio ambiente.
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