O evento também está sendo utilizado como pretexto para uma nova política de repressão. Não foram coincidência as ações da polícia nas favelas do Complexo do Alemão, que mataram 50 pessoas e deixaram mais de 70 feridos. A repressão é estimulada pelo governo estadual com a chamada “promoção por bravura”. Trata-se de uma lei que concede gratificações salariais para policiais que demonstrem “bravura”. Na prática, estes benefícios têm sido utilizados para recompensar policiais que assassinaram suspeitos de crimes, independentemente das circunstâncias.

Entre as vítimas das ações policiais, está o jovem esportista e jogador de futebol Leandro da Silva David, de 16 anos. Ele foi baleado dentro de casa quando tomava café da manhã. A irmã do garoto, Jane da Silva David, acusa a polícia pelo assassinato. “Ele foi atingido por balas de fuzil da Polícia Militar. As pessoas acham que todo mundo é vagabundo, traficante, mas aqui também tem morador” disse ela, indignada.

Ao contrário do que diz o governo, o objetivo das ações policiais no Rio não é apenas combater narcotraficantes, mas também reprimir a população de acordo com uma política de higienização da cidade. Isso significa que o plano considera toda a população da comunidade ocupada como uma força hostil e, portanto, alvo da repressão. Os civis inocentes assassinados em tais operações passam a ser considerados “danos colaterais” inevitáveis, como disse o governador do Rio, Sérgio Cabral (PMDB).

Esse modelo é uma cópia do que as tropas brasileiras fazem na ocupação do Haiti, onde soldados invadem e ocupam favelas, deixando rastros de sangue e destruição.
Por outro lado, a grande imprensa aplaude a repressão da população pobre e realiza uma sistemática campanha para ganhar o apoio do setor da população mais amedrontado com a criminalidade.

Lula já anunciou que pretende estender as ações de repressão para outras localidades. Além de manifestar apoio à chacina no Alemão, dizendo que não se combate o crime com “pétalas de rosa”, o presidente anunciou que as ações no Rio inauguram o novo modelo de repressão para todo o país. O chamado PAC da Segurança anunciado pelo governo prevê a ocupação de comunidades pela Força Nacional de Segurança em várias partes do país.

Onze regiões metropolitanas receberiam as tropas num primeiro momento. A força nacional reforçada atuaria nas periferias de São Paulo (SP), Vitória (ES), Belém (PA), Recife (PE), Maceió (AL), Salvador (BA), Porto Alegre (RS), Curitiba (PR) e Brasília (DF).
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