Ademir da Guia, ídolo palmeirense

Danilo, do Palmeiras, chamou jogador adversário de ‘macaco’, mostrando como o futebol está longe de se livrar do racismo. Episódio deve indignar torcedores de todos os clubes, em especial os do Palmeiras, clube do negro divino, Ademir da GuiaNesta quinta feira, 15 de abril, mais um caso de racismo aconteceu no futebol. Danilo, zagueiro do Palmeiras, cuspiu no atleta Manoel, do Atlético Paranaense, e o chamou de “macaco”. Manoel prestou queixa na delegacia e Danilo responderá por “injúria racial”. O futebol à primeira vista parece um cenário de democracia racial. Boa parte dos grandes craques da bola são negros, inclusive o maior deles, Pelé. Mas casos de racismo em campo e nas torcidas tornam-se cada vez mais freqüentes.

No mesmo dia do jogo do Palmeiras, o zagueiro colombiano Breyner Bonilla, do Boca Juniors, afirmou que o atacante Esteban Fuertes, do Colón, o teria chamado de “negro de m…” e “morto de fome”. O colombiano chegou a chorar em uma entrevista de TV.

Semanas atrás, na Itália, o clássico entre Juventus e Inter de Milão foi marcado pelo racismo. Balotelli, um dos principais jogadores da Inter, é um atacante de excelente qualidade, filho de imigrantes africanos e nascido na Itália. Para muitos, ele estaria na seleção italiana, se fosse branco. Os torcedores da Juventus gritaram várias vezes no jogo: “Não existem italianos negros!”, uma clara mensagem racista para que o jogador não seja convocado para a Copa do Mundo.

E no Brasil, apesar do mito da igualdade racial que a mídia e os governantes insistem em apresentar, não é diferente. Casos como o desta partida são recorrentes e, infelizmente, costumam ser abrandados por clubes e empresários, terminando sempre em acordos.

Palmeiras: o time do negro divino, Ademir da Guia
O ataque de Danilo retoma o debate sobre o racismo no Palmeiras, um dos clubes de maior tradição do país, em um momento em que este passa por uma crise dentro e fora de campo.

Alguns torcedores dizem que o Palmeiras e sua torcida são historicamente racistas. No entanto, ainda que não possa se orgulhar como a torcida do Vasco da Gama, primeiro clube a jogar com atletas negros, o Palmeiras e seus torcedores não podem ser vistos assim.

Um dos maiores (talvez o maior) times da história do Palmeiras foi o de 1972. Conhecido como “a Academia”, o time que ganhou a tríplice coroa (campeonatos brasileiro, paulista e o torneio Rio-São Paulo) era comandado por um negro: o gênio do futebol Ademir da Guia. Ademir é sem dúvida o maior ídolo da história do Palmeiras, clube no qual foi titular por 16 anos.

Muitos não viram esse maravilhoso time jogar.. Mas com certeza qualquer palmeirense, ou admirador do futebol, ouviu muitas histórias desse futebol e de como esse time do Palmeiras foi responsável por popularizar o alviverde que tornou-se, junto ao Corinthians daquela década, um dos times mais populares entre os trabalhadores.

A grande massa de torcedores palestrinos tampouco reproduz esse racismo. Recentemente, em meio à crise com os resultados negativos, a diretoria anunciou a contratação do Antonio Carlos Zago para assumir o comando do time. Pra quem não se lembra, em 2006, quando era jogador do Juventude, Zago foi protagonista de uma absurda cena de racismo contra o jogador Jeovânio, do Grêmio.

Na ocasião, a maior torcida organizada do Palmeiras, de maneira correta, foi dura no recado à diretoria. Na apresentação do treinador, uma manifestação exigia: “Fora Zago Racista!”.

Zago e Danilo racistas
Um time de tamanha tradição e glórias não pode ter sua história manchada por casos como este. A camisa do Palmeiras não merece ser usada pelo racista Danilo. Tampouco o time em que jogou Ademir não pode ser comandado pelo racista Antônio Carlos Zago.

A mídia branca tenta tratar este ato de racismo como uma coisa natural, uma xingamento comum que ocorreu no calor da disputa de futebol. Mas isso não tem nada a ver com “defender a camisa”. Só quem sofre a opressão pode dizer qual o significado deste tipo de ofensa e a diferença que existe de um palavrão qualquer.

Sabemos que punições aos jogadores racistas não vão eliminar o racismo da sociedade. Somente uma sociedade sem classes vai estar livre da opressão, como a que sofrem os negros. Isso não significa que, sob o capitalismo, devamos nos calar. Ao contrário, é necessário manter um combate permanente ao preconceito e à opressão, no trabalho, nas escolas e também no futebol.

Independente do time de preferência de cada um, os apaixonados pelo futebol não devemos admitir casos como este! Racistas devem ser punidos. O futebol é principal paixão do brasileiro, do povo negro e pobre. Nossos estádios devem ser palco de dribles, gols, belas jogadas. Neles os racistas, machistas e homofóbicos não podem ter lugar! Nem nas arquibancadas, na beira do campo ou dentro dele.

* Apesar de admirar a história do Palmeiras, Robson torce para outro grande clube paulista

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  • Leia o artigo ‘Futebol e Racismo’, de Wilson H. Silva, no especial História das Copas, produzido em 2006