Soraya Misleh, de São Paulo

Se no mundo inteiro a situação dos mais oprimidos e explorados se mostra mais dramática diante dos milhares de casos e mortes causados pelo novo coronavírus, essa realidade é agravada para os palestinos por causa da ocupação sionista. Há 72 anos, desde a Nakba (a catástrofe com a criação do Estado de Israel em 15 de maio de 1948), eles enfrentam a limpeza étnica deliberada e a colonização que se expande a passos largos. Agora, precisam encontrar formas de sobreviver à COVID-19 num quadro em que todos os direitos humanos fundamentais são violados.

O número de infectados cresce a cada dia e também os crimes sionistas diante desse grave quadro. Nos territórios ocupados em 1967, os dados oficiais apontam 134 casos. Cento e dezenove desses casos estão na Cisjordânia, em que soldados das forças de ocupação estariam cuspindo nas maçanetas de carros palestinos para contaminá-los. Enquanto isso, seus colegas destruíam, no dia 26 de março, uma clínica de emergência médica em construção na aldeia de Khirbet Ibziq, ao norte do Vale do Jordão. Esses são apenas dois exemplos.

Gaza e presos políticos

Em Gaza, são 15 casos, e o temor é de calamidade. Na estreita faixa, seus 2 milhões de habitantes enfrentam bloqueio desumano e bombardeios israelenses frequentes há 13 anos. O cenário é devastador nesta que é a área mais densamente povoada do mundo: em função do cerco sionista criminoso, a maioria depende de ajuda humanitária para sobreviver. Setenta por cento estão desempregados; os índices de pobreza são dramaticamente elevados; 96% da água que era potável está contaminada; e a energia elétrica dura apenas quatro horas por dia.

Toda a infraestrutura está destruída pelas ofensivas israelenses, e a não possibilidade de reconstrução, já que nada entra ou sai sem que Israel permita, levou Gaza a ter apenas 40 leitos e 15 respiradores para atendimento a emergências médicas. Falta tudo, desde medicamentos até materiais de laboratório. E Israel, diante da COVID-19, voltou a bombardear Gaza no dia 28 de março.

Essas ações criminosas se somam a outras, como nos cárceres israelenses, nos quais 5 mil presos políticos palestinos, incluindo mulheres e crianças, amontoam-se em celas superlotadas e sujas. Ali são contabilizados oficialmente, até o momento, quatro casos de COVID-19. Organizações denunciam que Israel tem aproveitado para ampliar a punição coletiva. Intensificam-se medidas restritivas e a negligência médica.

FARSA
Fake news de Israel

Enquanto o Estado sionista seguia em sua desumanização cotidiana, circulava há cerca de dez dias a fake news de que já teria desenvolvido a vacina para a COVID-19, a qual estaria disponível até maio próximo. A imagem de salvador de vidas diante da pandemia global se apresenta como propaganda ideal para encobrir seus crimes. A COVID-19 desvela sua face brutal e coloca na ordem do dia a urgência da solidariedade internacional. Palestina livre, do rio ao mar, mais do que nunca, é questão de vida ou morte.

CAMPOS
Refugiados e palestinos de 1948

Também se encontram numa situação de extrema vulnerabilidade e risco os 5 milhões de refugiados palestinos em campos nos países árabes – impedidos do direito legítimo de retornar para suas terras, de onde foram expulsos desde a Nakba. Conforme a Agência das Nações Unidas para Assistência aos Refugiados Palestinos (Unrwa), já há notificações de COVID-19 em cinco campos.

Na Palestina ocupada em 1948 (que o mundo chama de Israel), dados indicam que um em cada cinco infectados pelo novo coronavírus é palestino. Por essa informação, seriam cerca de 60 diante dos quase 6 mil casos confirmados no total. Submetidos a mais de 50 leis racistas, não têm o mesmo acesso a testes e tratamento – Israel se define como um Estado-nação judeu. Em dezenas de aldeias beduínas no Negev (Naqab, em árabe), nem mesmo ambulâncias são enviadas.

Outra mostra do racismo sionista é que enquanto determina a quarentena a seus cidadãos, milhares de palestinos que enfrentam o controle em check point para servir de mão de obra barata no Estado sionista tiveram “permissão” para se alojar em Israel por pelo menos dois meses – na verdade, uma medida compulsória, já que não poderão retornar à sua casa no período, se quiserem manter o emprego. A determinação é resultado de um acordo com a gerente da ocupação, a Autoridade Palestina (AP), sob o pretexto de impedir a transmissão de um local para outro. A tal da cooperação mútua tem sido elogiada pela mídia tradicional, mas não passa de mais uma ação entre tantas que demonstram o servilismo da AP.