Taftanaz, desde sempre, foi um vilarejo marcado pela pobreza. Após a erupção da revolução síria, ele também tornou-se um vilarejo marcado pela tragédia. De seus 15 mil habitantes, quase dois terços tiveram que fugir devido à guerra civil. De suas casas, foram poucas as que não acabaram destruídas por bombardeios. O vilarejo não possui água potável, canais confiáveis de comida ou garantia de luz elétrica.
Mais Taftanaz tem, todas as semanas, cópias atualizadas do jornal Palavras Revolucionárias.

Redigido por um comitê popular do vilarejo, que contrabandeia o jornal à Turquia onde suas edições são impressas, ele é depois distribuído ativamente por militantes locais. Além de notícias do front militar, são publicadas matérias a respeito da moral revolucionária e histórias da revolução francesa.

Após a derrubada do Estado sírio no vilarejo, ocorrida logo no começo do levante popular, tudo em Taftanaz, a exemplo de seu jornal, é dirigido pelos chamados Tansiqiyyat, ou em português, Conselhos Populares. Seus delegados, formados por camponeses, comerciantes e trabalhadores em geral, são escolhidos diretamente pelo povo. Em um país onde a presidência é passada de pai para filho, a democracia popular de Taftanaz é o maior exemplo da marcha acelerada da revolução.

Responsáveis por todos os aspectos coletivos dos vilarejos, bairros ou cidades libertas, os inúmeros Tansiqiyyat da revolução síria são a maior prova da capacidade do povo pobre e trabalhador de governar sua própria vida. Eles constituem, na sua essência, a maior conquista do processo revolucionário que vem varrendo o Oriente Médio.

Uma aula de heroísmo
Após mais de 18 meses de uma destruidora guerra civil, os sírios vem dando ao mundo uma lição de coragem, força e persistência revolucionária. Portando apenas fuzis e alguns lança-granadas, o povo armado tem resistido bravamente aos assassinos da ditadura. Ao longo deste período, ao menos 30 mil pessoas, na sua grande maioria civis, foram mortas pelo regime. A elas se somam outras 300 mil que tornaram-se refugiadas fugindo do tirano Bashar.

Sob a exigência de dignidade, democracia e justiça social, a revolução síria iniciou-se na forma de protestos pacíficos contra a ditadura. Porém, ao tomar as ruas, o povo foi literalmente massacrado pelo seu próprio governo.

Frente ao banho de sangue, os trabalhadores e a juventude síria lentamente começaram a constituir seus comitês de autodefesa, voltados para proteger as manifestações públicas. Para desespero dos defensores da ordem, quando Bashar começou a mandar soldados do exército para reprimir os manifestantes, os mesmos se juntaram à população, muitas vezes voltando suas balas contra seus próprios generais.

Enquanto inúmeros soldados, tenentes e até capitães abandonaram o exército do ditador, boa parte do alto comando das forças armadas se mantêm fiel a Assad. O povo armado, ao lado de soldados revolucionários, formaram o Exército Livre da Síria, que apesar do nome, é mais uma rede de grupos armados que um exército em si. O Exército Livre não possui um comando militar estruturado e hierarquizado. Sua existência serve mais como referência à unidade do povo que um espaço político de direção.

Inimigo dos palestinos, lacaio do imperialismo
Ao contrário do que insistem os amantes da ditadura síria, Assad não é, nem nunca foi, pró-palestina ou anti-imperialista. Segundo documentos revelados pelo site wikileaks, o ditador sírio não só praticou tortura “terceirizada” em coordenação com o governo americano, como até muito pouco tempo mantinha relações estreitíssimas com a CIA.

O pai de Assad, de quem Bashar herdou o trono de presidente, prontamente integrou a coalizão liderada por Bush I, em 1992, para invadir o Iraque. Em 1976, quando a Síria ocupou o Líbano com o objetivo de derrotar o movimento nacional palestino, os Assad contaram com o respaldo direto de Washington e de Israel. Não por acaso, os sionistas em muito temem a queda de Bashar, que além de ser muito mais confiável que qualquer governo revolucionário na Síria, tem protegido fielmente as fronteiras daquele país com os territórios ocupados das Colinas de Golã.

Armar os rebeldes pela vitória do povo
Enquanto a revolução síria enfrenta um ditador sanguinário disposto a usar todas as suas armas contra as massas, internacionalmente, a revolução se encontra isolada. As lideranças da suposta “esquerda” latino-americana (castro-chavista) tem se colocado abertamente no campo da contrarrevolução (veja ao lado).
Já o imperialismo, tanto europeu como americano, também tem atuado contra a luta dos sírios. Verdade que governo dos EUA, que inicialmente apoiou Assad durante o levante popular, um pouco depois mudou de lado. Astuto e inteligente, o imperialismo não pretende se amarrar a um navio que todos sabem que irá afundar.
Mas mesmo se declarando ao lado do povo sírio em seus discursos na ONU, o presidente americano Barak Obama trabalha ativamente para impedir que a revolução se arme. Como disse em um debate na TV, “armar os sírios era fortalecer um processo imprevisível”.
Para derrotar a revolução, Obama busca uma saída conciliatória, querendo negociar um acordo de “paz” entre o povo e seus assassinos, apenas retirando Bashar e sua família da equação.

Todo apoio a Revolução Síria!
Mais do que nunca esta colocada a necessidade da esquerda internacionalista e antiimperialista mover todos seus esforços em defesa da revolução síria. A arrecadação de víveres, remédios, e sim, armas para a proteção do povo, são tarefas centrais a qualquer revolucionário socialista digno do nome. É exatamente deste tipo de solidariedade ativa que o triunfo da revolução e seus Comitês Populares dependem.
Diante das mais profundas barbáries perpetuadas pelo pusilânime Bashar, é compreensível as ilusões de setores das massas com a intervenção imperialista.
Intervenção esta, diga-se de passagem, que o próprio imperialismo não quer. Porém, em meio à perda, à humilhação, à dor, ao terror, ao sangue, ao estupro, ao massacre e à morte, é de se entender cair em ilusões. A superação destas se dará não só a partir de denuncias à política externa americana, mas também pela construção de alternativas reais para os lutadores do povo sírio.

A construção de um novo mundo é um processo marcado por contradições, violências e todas as formas de dificuldade. Neste contexto, leituras simplistas, isoladas da realidade objetiva e subjetiva das massas são uma receita certa para o fracasso. E se o sofrimento é um preço inevitável para a destruição do velho, que ele ocorra da forma mais construtiva possível. Os que duvidam disto, que busquem as “palavras revolucionárias” do vilarejo de Taftanaz.
Post author Aldo Sauda, de São Paulo (SP)
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