Foto Roque de Sá/Agência Senado
Redação

Enquanto o Brasil ultrapassa as 177 mil mortes por COVID-19 e o governo Bolsonaro deixa estragar 7 milhões de testes, distribuindo todo o estoque de cloroquina a estados e municípios, o repique da pandemia avança de forma avassaladora pelo país. Boletim Observatório COVID-19 da Fiocruz divulgado nesta quinta-feira, 26, mostra aumento dos casos em São Paulo, Rio de Janeiro, Paraná e Santa Catarina.

O aumento dos casos, que seguem subnotificados, foi seguido pelo aumento de mortes, que chegam a 10% no estado do Rio, 7,7% em São Paulo, 7,9% em Roraima, 6,6% em Minas Gerais e 5,2% no Rio Grande do Sul. O salto exponencial dos casos também é sentido no aumento da ocupação da ocupação de UTI nos estados, chegando a 94% nos leitos do SUS no Rio, e 90% da rede privada. Os estados com aumento nas internações passaram de 15 para 21 em uma semana.

A alta ocupação de leitos de UTI fez com que os governo do Rio e São Paulo orientassem novamente o adiamento de cirurgias eletivas. Mas o que se vê, em geral, é uma postura irresponsável dos governos estaduais e prefeituras, que se nos momentos iniciais da pandemia tomaram algumas medidas a fim de se diferenciarem da política abertamente genocida de Bolsonaro, ainda que de forma absolutamente insuficiente, agora põe em prática o mesmo negacionismo a fim de obter vantagens eleitorais.

Em São Paulo, o Comitê de Contingência do Coronavírus, formado pelo próprio governo, enviou, no último dia 26, ao governador João Dória (PSDB) uma série de medidas para aumentar as restrições diante do aumento dos casos do novo coronavírus no estado. Dória, no entanto, decidiu esperar até o dia 30 de novembro para anunciar qualquer medida. Coincidentemente, um dia após o segundo turno das eleições. O secretário de Saúde de Doria, Jean Gorinchteyn, porém, já adiantou que “os índices não significariam essa medida mais restritiva“.

Reabertura precipitada e novos casos

A reabertura precipitada levada a cabo por prefeitos e governadores desatou esse aumento exponencial nos casos que só não pode ser chamado de segunda onda porque nunca chegamos a passar da primeira. Segundo dados do Imperial College de Londres divulgados no último dia 14, a taxa de transmissão no Brasil é a mais alta desde maio, de 1,3 (cada 100 pessoas contaminadas infectam outras 130). No estado de São Paulo, pesquisadores da USP e Unesp avaliaram que esta taxa está em 1,64.

Caso persista essa tendência, o país sofreria uma alta muito maior nos casos e mortes que do vem ocorrendo nas últimas semanas, colapsando o sistema de saúde num momento em que os hospitais de campanha foram desmontados e há sobrecarga de cirurgias adiadas por conta da pandemia no primeiro semestre. Mas a despeito dessa situação, os estados vão na orientação contrária, reabrem escolas e programam a continuidade da reabertura geral da economia para atender os interesses dos banqueiros e grandes empresários.

Fora Bolsonaro e Mourão

Enquanto os hospitais vão lotando novamente, o governo Bolsonaro prossegue em sua política cada vez mais abertamente criminosa. Além da guerra à vacina, o governo mantém mais de 7 milhões de testes RT-PCR, o justamente o mais confiável (e caro), estocados num galpão em Guarulhos, com validade entre janeiro e março. Isso é mais do que os 5 milhões de testes feitos pelo SUS até agora, ainda muito insuficiente para um país de tamanho continental como o Brasil. Por outro lado, o governo distribuiu 5,8 milhões de comprimidos de cloroquina a estados e municípios, medicamento para malária cuja eficácia para o combate ao coronavírus já foi amplamente refutada pela ciência.

Essa política, seguida por governadores e prefeitos, vai aprofundar ainda mais a hecatombe sanitária, econômica e social no próximo período. O fim do auxílio-emergencial a partir de janeiro deixa ao leu milhões de pessoas, num momento de desemprego recorde e inflação nos alimentos sem perspectiva de melhorar. O governo, por sua vez, tem como resposta ainda mais ataques aos trabalhadores e à população, como a reforma administrativa, uma nova rodada de reforma trabalhista e mais privatizações.

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