Construamos uma alternativa antiimperialista, classista e socialista!A recente entrega do jornalista Joaquín Pérez Becerra ao terrorista governo colombiano de Juan Manuel Santos por parte de Hugo Chávez indigna a milhares de ativistas de esquerda da América Latina e do mundo, inclusive aqueles que se reivindicam chavistas.

No entanto, é fundamental superar as estas primeiras reações e avançar no sentido de extrair as conclusões políticas e buscar as profundas raízes de explicam a atidude de Chávez.

O “novo melhor amigo” de Chávez
Todos sabem que na Colômbia impera um regime bonapartista que atua à serviço da dominação do imperialismo norte-americano, lhe garantindo uma plataforma política e militar dentro do continente.

Este regime do terror consolidou-se nos últimos sob os governos de Álvaro Uribe (2002-2010), período no qual Colômbia se converteu em um dos países com maiores índice de violações aos direitos humanos. Metade dos sindicalistas assassinados em todo o mundo são colombianos. Soma-se a isso a descoberta valas comuns onde enterrados até 2 mil cadáveres de lutadores sociais e opositores. Outro caso conhecido é o da União Patriótica (UP), partido político que teve seus militantes exterminados por paramilitares e pelo exército colombiano, entre eles, dois candidatos presidenciais, 8 congressistas, 13 deputados, 70 vereadores, 11 prefeitos e mais de 5 mil militantes de base. Pérez Becerra foi um dos dois prefeitos da UP que sobreviveu ao assassinato seletivo.

Em seus últimos dias de governo, o assassino Uribe denunciou a Chávez ante o Tribunal Penal Internacional e a Comissão Interamericana de Direitos Humanos da OEA. Acusava o venezuelano de amparar a membros das FARC (Forças Armadas Revolucionárias de Colômbia) e do ELN (Exército de Libertação Nacional). Em resposta, Chávez rompe relações diplomáticas e comerciais com Colômbia, reforça militarmente as fronteiras e anuncia como iminente uma invasão colombiana apoiada pelo imperialismo norte-americano, que acabava de assinar um acordo com Uribe para utilizar durante 10 anos sete bases militares colombianas para lutar “contra o narcotráfico e o terrorismo”.
No meio destas tensões, em agosto de 2010, assume a presidência colombiana Juan Manuel Santos, ex-ministro de Defesa de Uribe e, portanto, executor e cúmplice de todas as atrocidades e empreguismo do regime genocida.

Pouco antes e durante a “guerra de papel” com Colômbia, Chávez chama Santos de “mafioso” e “senhor da guerra”. Anuncia, além disso, sua decisão de “reduzir o comércio com um governo que se declarou praticamente inimigo de Venezuela e que ameaça agredir cedendo parte do território de Colômbia ao império ianque”. Arremata anunciado que, de ser eleito, “não receberia” Santos.

Solucionada a crise da “guerra de papel”, através da mediação promovida por Néstor Kirchner através UNASUR, Chávez muda drasticamente sua posição com respeito ao novo governo de Santos.

Em agosto incita publicamente a guerrilha colombiana a negociar com Santos, que “propõe o caminho da paz”. Insiste dizendo: “Essa guerrilha deveria manifestar pela paz, mas com manifestações contundentes. Por exemplo, poderiam libertar a todos os reféns. Por que uma guerrilha vai ter reféns?”.

Sua nova política leva Chávez a pisotear até sua retórica de rejeição à instalação de bases militares dos EUA na Colômbia. Segundo o venezuelano, a “Colômbia é soberana para estabelecer convênios com qualquer país do mundo”.

Surpreendentemente, em novembro de 2010, declara que se abriu uma “nova era” nas relações com a Colômbia do continuísta de Uribe. Santos opina o mesmo. Quase eufórico, o colombiano declara que desde o dia 10 de agosto as relações com Chávez são “radicalmente diferentes”. Destaca, sobretudo, a colaboração do regime “bolivariano” na captura e entrega de pessoas unidas ou relacionadas (com ou sem razão) com as guerrilhas colombianas. “E comprometeu-se com o mundo e comprometeu-se com Colômbia e tem cumprindo nos entregando essas pessoas”, diz Santos.

Esta mudança na retórica de Chávez é produto da renovada táctica da reação democrática impulsionada pelo imperialismo norte-americano. Da mesma forma que Obama representou uma necessária “mudança de rosto” frente à odiosa figura de Bush, Santos demonstrou ser o mais indicado para substituir a Uribe apresentado um perfil “conciliador” e “mais aberto” para dialogar com seus vizinhos e, assim, conquistar Chávez e a Rafael Correa (Equador) para sua política de derrotar as FARC.

O caso de Pérez Becerra
No marco desta capitulação é que se ocorreu a prisão e entrega ilegal do jornalista Joaquín Pérez Becerra, diretor da Agência de Notícias Nova Colômbia (ANNCOL), país do qual fugiu para evitar ser assassinado, obtendo asilo político na Suécia.
“No sábado, liguei para o presidente Chávez e disse a ele que um sujeito das FARC muito importante para nós chegaria em um voo da Lufthansa naquela tarde a Caracas e se podiam detê-lo. Ele não titubeou. Mandou capturá-lo e vai entregá-lo para nós.”, explicou Santos.

Chávez cumpre a ordem. A prisão ocorre porque Becerra é considerado o “cabeça na Europa da frente internacional das FARC”.

O próprio Chávez reconhecerá sua direta responsabilidade informando: “O responsável por ter enviado a Colômbia a Joaquín Pérez Becerra chama-se Hugo Chávez, não é Nicolás Maduro (Chanceler), nem Andrés Izarra (Ministro de Comunicação). Quem quiser me criticar, que me critique”, disse. Não é casual que, ante as mobilizações em rejeição à entrega de Becerra, o governo respondeu acusando e associando os que protestaram a “ultra-esquerda”.

Chávez violou todos os princípios democráticos. Não falamos dos princípios socialistas revolucionários, que nunca teve, senão dos básicos direitos à defesa e ao asilo político!

O mais grave é que o caso de Becerra não é o único. Soma-se à entrega de dezenas de outros supostos ou reais membros das FARC, do ELN ou de ETA.

Sempre sustentamos que o nacionalismo burguês expresso por Chávez, com suas nacionalizações entre outras medidas muito limitadas. Mas no caso de Becerra se demonstra uma atitude covarde ante o imperialismo e seus agentes, e não chega nem aos pés dos nacionalistas burgueses dos anos 1930 e 1940. Em relação aos refugiados é vergonhosa atitude de Chávez, oposta a do presidente Lázaro Cárdenas, que não duvidou em conceder asilo a revolucionário, como foi o caso de León Trotsky.

O vergonhoso feito de Chaves só demonstra a adesão às exigências do imperialismo e do regime bonapartista de Colômbia sobre a suposta “luta contra o terrorismo” que, como sabemos, não é outra coisa do que a luta contra a resistência das massas latino-americanas à recolonização imperialista.

A profundidade da traição de Chávez
O pano de fundo a colaboração de Chávez com Santos e o imperialismo, a nível interno, é a brutal crise econômica que atinge a Venezuela.

A terra de Bolívar foi o único país que fechou 2010 com uma recessão de -1,9%. A inflação anual acumulada está em 30%. O desemprego subiu de 6,5 para 8,7% nos últimos meses. O governo “bolivariano” respondeu à crise como fizeram todos os demais governos capitalistas: descarregando o peso da crise sobre as costas da classe trabalhadora e do povo explorado.

É por isso que se privilegiam as relações comerciais com Santos. É em função da ajuda comercial que Chávez embeleza o outrora “mafioso” e até está disposto a legitimar governos golpistas de Porfirio Lobo (Honduras), que sequer é reconhecido pela maioria dos demais governos do continente.

Em 9 de abril, a Colômbia e a instâncias da diplomacia norte-americana, realizaram uma reunião entre Chávez e Santos na qual promoveram reconhecimento internacional do governo herdeiro do golpe de junho do 2009 em Honduras, além de sua reincorporarão a OEA em sua próxima Assembléia Geral.

Desta forma, o governo golpista e a burguesia hondurenha poderiam obter empréstimos de organismos como o Banco Mundial e beneficiar das condições vantajosas de financiamento para o petróleo da PETROCARIBE, empresa formada no seio da Alba, liderada por Chávez. “Com muito gosto tenho conhecido o presidente Lobo (…) e os resultados são muito positivos (…) nós temos feito gerenciamentos para tratar de ajudar Honduras a se reintegrar em todos os organismos internacionais e aos programas de cooperação com nossos países”, responde Chávez.

Chávez está disposto a bancar um governo surgido de uma vez de um golpe, traindo a luta do povo hondurenho que resiste as perseguições e repressões impostas pelo regime. Todo esse processo vergonhoso de capitulação ao imperialismo e aos golpistas em Honduras ocorre com o aval do ex-presidente Mel Zelaya, que em 19 de abril foi até Caracas para “aceitar a mediação” de Chávez.

Na época do golpe em Honduras a maioria da esquerda sustentava que a táctica do imperialismo era promover golpes ao estilo hondurenho em todas as partes e, por isso concluíam que se devia reforçar o apoio político aos governos “progressistas”. Nós da LIT-QI dizíamos o contrario, de que a táctica principal do imperialismo era outra, a da reação democrática, ou seja, apostava na incorporação da oposição hondurenha junto com Zelaya ao regime mediante acordos, tal como agora presenciamos.
Diante das ações de Chávez devemos chamar as coisas pelo seu nome: traição e entrega.

Traição às massas venezuelanas que têm protagonizado impressionantes lutas revolucionárias desde 1989 e a todos aqueles lutadores e ativistas honestos que confiaram – e seguem confiando – em sua figura como líder “antiimperialista” e “socialista”.

Por uma campanha de solidariedade, denúncia e mobilização internacional pela liberdade de Becerra!

A LIT-QI denuncia essa traição infame de Chávez. Responsabilizamos seu governo por qualquer atropelo à integridade física de Pérez Becerra.
É necessário empreender uma ampla de informação, denúncia e mobilização pela libertação imediata de Becerra e de todos os presos políticos entregados pelo governo de Chávez ao regime terrorista de Santos.

É momento de denunciar as traições de Chávez e de exigir a ruptura de seu pacto nefasto com Santos e o imperialismo. Só a organização e a mobilização independentes da classe operária e do povo venezuelano, com o resto da América Latina, poderá derrotar este pacto.

Construir uma alternativa antiimperialista, operária e socialista!
É necessário que todas as organizações que se reivindicam de esquerda e que levantam a bandeira do socialismo aprofundem suas conclusões sobre o caráter de classe do governo de Chávez. É urgente romper com a confusão que surge em identificar a defesa da revolução venezuelana, e latino-americana, com a defesa do governo de Chávez. Hugo Chávez não é a revolução, é sua sepultura.

O líder “bolivariano” tem demonstrado ser um dirigente burguês de um setor dos capitalistas venezuelanos que se enriquecem a custa da renda do petróleo e de todo tipo de negociações com o Estado. Não é um líder socialista. É o líder da chamada “boliburguesia”. Por seu caráter burguês nunca poderá ser um antiimperialista consequente e, apesar de sua retórica e choque com o imperialismo, seguirá mantendo a Venezuela na condição de país semi-colonial.

Uma política de apoio a Chávez só debilita a possibilidade e a necessidade de construir uma saída independente, classista, socialista e internacionalista para a classe operária venezuelana, tarefa na qual estamos empenhados.

Reafirmamos que nenhuma burguesia ou setor burguês de América Latina poderá cumprir um papel progressivo na libertação de nosso continente das garras do imperialismo. Chávez não é nem será a exceção a esta regra demonstrada pela história. É momento de fazer o balanço e extrair as lições necessárias para a Revolução Socialista que nos liberte de toda opressão e exploração.

Secretariado Internacional da LIT-QI
Maio de 2011

Post author Liga Internacional dos Trabalhadores – LIT-QI
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