O mundo paga para os EUA garantirem os lucros do mercado financeiroAs mais recentes medidas do novo presidente norte-americano, Barack Obama, vão rapidamente mostrando a que veio o sucessor de George W. Bush. Tanto no campo econômico como no militar, Obama refaz a velha política imperialista. A diferença é que, desta vez, ele vem embalado na face simpática e no discurso emotivo do homem que canalizou a esperança de milhões em todo o mundo por mudanças.

Pacote trilionário
O governo norte-americano divulgou no último dia 23, em Washington, novos detalhes sobre o megaplano de resgate dos bancos. O anúncio foi realizado pelo secretário do Tesouro, Timothy Geithner, e representa até agora o lance mais ousado do governo Obama para evitar o aprofundamento da crise que varreu o sistema financeiro do país e se espalhou pelo mundo.

O plano, porém, não é novo. As medidas tomadas chegaram a fazer parte de um pacote do governo Bush. Mas foi deixado de lado devido às críticas e à resistência a sua aprovação. Desta vez, o chamado Programa de Investimento em Parceria Público-Privada prevê gastos de até US$ 1 trilhão no salvamento de instituições financeiras à beira da falência.

Ao contrário de medidas tomadas anteriormente para salvar bancos em dificuldades, como a compra de seus ativos, processo que tendia à quase completa estatização do sistema financeiro, desta vez a ação do Estado se resume à garantia dos lucros de investidores e especuladores.

Capitalismo sem riscos
Pela nova proposta do governo Obama, os bancos que estão atolados até o pescoço com ativos podres, ou seja, ações lastreadas em crédito imobiliário com pouca ou nenhuma chance de terem retorno, poderão colocá-los à venda através de um leilão. Isso, segundo o governo, resolve parte do problema verificado anteriormente, que era justamente colocar preço em tais ativos “tóxicos”. Com esse leilão, o próprio mercado ficaria responsável por determinar seu valor.

A Comissão Federal de Seguros de Depósitos Bancários (FDIC, na sigla em inglês), fundo garantidor de depósitos, é quem vai organizar o leilão. O grande lance do pacote é justamente quem vai comprar isso tudo. Quem se interessaria por um monte de papéis sem lastro que infestam o mercado? O governo resolveu o problema propondo a constituição de fundos público-privados, ou seja, fundos com a participação de recursos públicos e de capital privado. Para cada US$ 1 do setor privado investido, o governo fica responsável por colocar outro dólar.

Isso, porém, não é tudo. O próprio FDIC vai financiar e garantir as compras desses ativos. Ou seja, se após o leilão esses ativos se valorizarem, o investidor lucra. Se esses papéis se desvalorizarem ainda mais, o prejuízo é coberto pelo governo. É o milagre do capitalismo sem risco financiado pelo governo Obama através do dinheiro público. O Nobel de Economia Joseph Stiglitz, que não é de esquerda nem coisa parecida, chegou a declarar que “isto equivale a um roubo ao povo americano”.

O mundo paga
A divulgação dos novos detalhes do pacote causou euforia nos mercados. A Bolsa de Nova York fechou o dia com alta de 6,84%. Se o pacote não representa uma estatização do sistema financeiro, ele estatiza os riscos e privatiza os lucros. No entanto, a medida não representa apenas um roubo ao povo americano, como aponta o Stiglitz.

O plano trilionário vai aumentar o já gigantesco déficit dos EUA. E quem sustenta esse déficit é o mundo inteiro, através de investimentos em papéis do tesouro norte-americano. Embora a China tenha um peso essencial nisso, o Brasil também tem sua cota de colaboração para segurar esse déficit. Então, quando o Fed (banco central dos EUA) imprime dólares para bancar a política de ajuda do governo, é o mundo quem garante o lastro dessa montanha de papel.

O pacote de Obama, mais do que isso, não vai reverter a crise econômica. Suas medidas apenas reforçam a bolha especulativa, tendendo a agravar ainda mais a situação no futuro. Num momento em que a recessão se agrava, com o aumento do desemprego e da pobreza, as pessoas não pagarão suas dívidas imobiliárias.

As hipotecas continuarão a ser executadas pelos bancos e os ativos do chamado “subprime” permanecerão sem base real. Embora essa seja apenas a ponta do iceberg, ela mostra que os trilhões despejados no mercado financeiro não deterão a crise.

Crise essa que já está sendo apontada como maior que a de 1929. O pacote de Obama reforça, sobretudo, o papel do Estado de garantidor dos lucros do capital financeiro parasitário, cuja multiplicação, nos últimos anos, foi responsável por aprofundar a dimensão da crise capitalista.

Obama manda mais 4 mil soldados ao Afeganistão
Enquanto promete retirar as tropas norte-americanas do Iraque, Obama acaba de anunciar o envio de mais 4 mil soldados ao Afeganistão. Esse contingente se soma aos 17 mil já previstos para reforçar a ocupação do país. No total, os EUA manterão no local 57 mil soldados.

Além do reforço da ocupação militar no Oriente Médio, Obama anunciou também o aumento da ajuda ao vizinho Paquistão, cujo governo colabora ativamente com a política imperialista na região.

Por ajuda entenda-se bastante dinheiro. O repasse ao governo paquistanês deve chegar a US$ 1,5 bilhão por ano.

Nos próximos dias, Obama vai percorrer vários países, inclusive a Europa, para, entre outras coisas, conseguir apoio e convencer esses países a enviarem tropas ao Afeganistão.

Ao mesmo tempo em que Obama apela para uma tática dirigida ao “diálogo” e oferece a possibilidade de acordos e recomposições, de relações diplomáticas, seu governo mostra que o imperialismo não deixará de lado sua brutalidade. Para manter sua dominação, não vai renunciar à utilização da força.
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