Pânico toma conta das bolsas pelo mundo
Reprodução

Plano garantia US$700 bilhões a banqueirosPor 228 votos a 205, o pacote do presidente George W. Bush para tentar conter a crise financeira foi rejeitado pela Câmara dos Deputados dos EUA. O plano representava a maior intervenção do Estado na economia desde a depressão de 1929 e previa nada menos que US$700 bilhões em ajuda aos bancos com dificuldades.

Desde o início da crise, o governo já despejou algo entre US$1 trilhão e US$1,5 trilhão nos mercados. O projeto, porém, gerou insatisfação na opinião pública. Cerca de 70% dos norte-americanos são contrários a ele.

A extensão do pacote de resgate das instituições financeiras dá uma idéia do tamanho da crise. Uma vez em prática, vai elevar o já gigantesco déficit norte-americano, previsto anteriormente em US$480 bilhões, sem conseguir conter as causas da crise. Significa, na prática, um Proer gigante, a jogada de FHC para ajudar os bancos em crise nos anos 1990.

O plano de Bush prevê a compra pelo governo de títulos podres do mercado, ou seja, ações de hipotecas com poucas chances de serem honradas. Estima-se que tais ações serão compradas pelo dobro do valor que têm hoje.

Crise que alimenta crise
A rejeição do pacote de Bush não derrubou apenas as bolsas de valores em todo mundo. Também aprofundou uma crise política que já existia nos EUA e que agora realimenta a crise econômica. Sem a aprovação do pacote, aumentam a paralisia no crédito e o pânico crescente no mercado financeiro, que por sua vez aumentam a recessão e provocam outras falências. O desgaste das instituições políticas mais poderosas do mundo, como o governo e o Congresso dos EUA, se aprofunda com a continuidade da crise.

O imperialismo necessitava, neste momento, de um governo com autoridade para enfrentar a crise econômica. Mas Bush bate recordes de impopularidade em seu país. Seu plano de salvação dos bancos é visto com maus olhos por uma parte importante da população. Os deputados vão ter de enfrentar eleições em um mês e temem por suas carreiras.

Em menos de uma semana, Bush fez três pronunciamentos pedindo que o pacote fosse aprovado. Não foi ouvido sequer por seus partidários. Dois terços dos deputados de seu partido votaram contra.

Foi também uma derrota política compartilhada pelo próprio Bush com os dois candidatos à sucessão, o democrata Barack Obama e o republicano John McCain. Dias antes da votação, os dois presidenciáveis foram à Casa Branca, falaram com Bush e se comprometeram a dar apoio ao pacote.

Bush, além disso, deslocou as duas principais autoridades econômicas do país para aprovar o pacote no Congresso: o secretário do Tesouro, Henry Paulson, e o presidente do Fed (banco central dos EUA), Ben Bernanke.

Paulson chegou a se ajoelhar diante da presidente da Câmara, a democrata Nancy Pelosi, suplicando que ela viabilizasse um acordo entre os dois partidos. Para apoiar o projeto, os democratas realizaram algumas mudanças cosméticas e douraram a pílula com a inclusão de uma limitação no pagamento de indenizações a executivos dos bancos auxiliados. Mesmo assim, quase metade dos deputados democratas votou contra o projeto.

As bolsas de todo o mundo despencaram diante da rejeição do pacote. Só as ações negociadas na Bolsa de Valores de Nova Iorque se desvalorizaram, em apenas um dia, algo como US$1,2 trilhão. Foi a maior baixa de sua história.

Apesar da crise política, democratas e republicanos procuram aprovar de novo o plano com pequenas modificações que não mudem sua essência, que é salvar os lucros dos bancos com dinheiro público. Vão conseguir?

Robin Hood às avessas
O plano do governo norte-americano, chamado de Lei de Estabilização Econômica de Emergência de 2008, representa uma verdadeira transferência de dinheiro público para salvar os bancos. Bilhões para os banqueiros falidos e nada para os trabalhadores endividados, que podem perder seus empregos em breve.

Isso quando a economia dos EUA já enfrenta, na prática, uma recessão, com índices crescentes de desemprego, inflação e 1,7 milhão de famílias despejadas só em 2008.

O governo norte-americano e a grande imprensa lamentam e criticam a especulação desenfreada e a falta de fiscalização no mercado financeiro. Não existe, no entanto, outro capitalismo que não seja o neoliberalismo especulativo e parasitário. O megaprojeto de resgate, aliás, só joga mais água no moinho da especulação financeira.

Mas a crise tem sua base na economia real, na queda da taxa de lucro das empresas. O sistema financeiro e a especulação são utilizados para valorizar artificialmente o capital que já não encontra tanto retorno na produção.

Tal mecanismo, porém, tem efeito limitado. O projeto de Bush vai garantir dinheiro aos bancos, mas não segura a queda da taxa de lucro, assim como não reverte o desemprego e a inflação. Caso o plano seja aprovado, será possível segurar o aprofundamento da crise por um breve momento, mas ela estará longe de ser resolvida.

Post author Diego Cruz e Jeferson Choma, da redação
Publication Date