As notícias que chegam da crise européia impactam todo mundo. Por um lado, ataques brutais dos governos e das grandes empresas contra os trabalhadores, através de planos de austeridade ainda mais duros que os que eram aplicadas na América Latina, na década de 90.

Por outro lado, a sucessão de lutas contra esses planos, que culminou recentemente nas greves gerais da Espanha, Portugal e Bélgica. A combinação das lutas com as eleições gerou a crise política atual na Grécia, que concentra as atenções mundiais.

Os ativistas que estão à frente das lutas sindicais, populares e estudantis de todo o país devem acompanhar a evolução da crise grega. Seu desdobramento vai ter conseqüências na economia e na luta de classes em todo mundo. Pode desencadear uma nova recessão mundial, como a falência do Lehman Brother, em 2008. Estamos vendo a primeira situação revolucionária de um país europeu desde a Revolução Portuguesa, em 1975.

Já está claro que a crise grega recoloca o debate sobre o socialismo em outro patamar. Ao serem derrotados os dois maiores partidos (Pasok e Nova Democracia), ficou demonstrado que as massas gregas buscam outras respostas. Não estão no centro dos debates apenas as alternativas tradicionais da socialdemocracia e do liberalismo. O povo grego quer saber se uma alternativa socialista (ainda que reformista como Syriza) pode apresentar uma saída.

Em nossa opinião só um programa de ruptura real com o euro, a União Européia, com a estatização dos bancos e um novo rumo anticapitalista poderiam dar uma perspectiva real para a Grécia. Isso pode ser frustrado, caso o Syriza mantenha seu programa de reformas dentro da União Europeia. Mas, com um desdobramento ou outro, queremos destacar para todos os ativistas que o socialismo volta ao centro dos debates mundiais.

Essa é uma discussão estratégica necessária para o Brasil. O PT e seus governos educaram centenas de milhares de ativistas no país na lógica socialdemocrata de administração do capitalismo, que acaba de fracassar na Grécia. Os simpatizantes do governo dirão que “Brasil é Brasil”, “Grécia é Grécia”. Não estamos comparando as duas situações políticas, que são muito diferentes. Estamos destacando que a estratégia socialista de ruptura com o capital voltou a ser colocada na Grécia nos dias de hoje, o que os representantes do PT negam. O PT fala da ruptura socialista como parte do passado. Não é. Já está colocada como parte do presente e do futuro.

Mas vale a pena também entrar na discussão sobre a situação brasileira. O país vive uma desaceleração forte de sua economia em função da crise mundial. Não existe recessão no Brasil, mas os efeitos da crise já podem ser sentidos aqui. Os rumos da economia, no final das contas, vão ser decididos pelas gerências das grandes multinacionais aqui instaladas, e vão pesar na decisão da burguesia a evolução da economia mundial e da crise grega.

Dilma chegou até aqui com uma popularidade recorde. Mas isso está assentado no crescimento da economia e na blindagem da CUT, UNE, PT, PCdoB, junto com o PMDB, PP, etc. Uma mudança na economia pode ter também efeitos políticos distintos. O governo Dilma já está atacando os trabalhadores como reflexo imediato da crise internacional. A privatização da Previdência, o ataque à poupança, a dureza contra o funcionalismo federal são partes desse enredo. Mas apenas uma parte inicial. Caso se efetive uma nova recessão mundial, com reflexos sobre o Brasil, a dureza dos ataques será muito, muito maior.

Hoje, o conjunto dos ativistas no Brasil está chamado a apoiar as lutas existentes, como a greve do funcionalismo federal que começou com os professores universitários do ANDES-SN e vai seguir com os funcionários das universidades (FASUBRA). Assim como apoiar as greves da construção civil e as mobilizações populares em curso.
Mas além das lutas imediatas, todos devem acompanhar a evolução dos acontecimentos na Grécia. E retomar a discussão estratégica do socialismo que os ventos gregos nos trazem.