Os jovens em rebelião queimaram milhares de carros e dezenas de prédios públicos. Isso foi utilizado pela direita para identificar o conflito como um “problema policial” e impor a repressão. A esquerda tampouco saiu em defesa clara dos manifestantes, o que demonstra a sua própria falência.

Os métodos dos jovens não são realmente os melhores: muitos dos carros queimados são de trabalhadores, as escolas serviam aos filhos de operários como eles. Essas ações terminam por dividir os próprios trabalhadores. Mas é preciso explicar por que eles usam esses métodos e não outros. E a explicação está na própria esquerda francesa que, mais uma vez, pecou pela impotência completa.

O PS e o PC franceses são cúmplices dos resultados sociais dos planos neoliberais. O Partido Socialista Francês foi responsável, com o governo Mitterrand, pela implementação de boa parte do plano neoliberal no país. O socialista Lionel Jospin estava à frente do governo anterior e foi violentamente derrotado pela direita nas últimas eleições em 2002, não chegando sequer ao segundo turno, exatamente por seguir aplicando o plano neoliberal.

O PC, que dirige a CGT, nunca teve uma política de enfrentamento com os planos econômicos da burguesia. Menos ainda em defesa dos setores mais explorados, como os imigrantes. Ao contrário, manteve sempre uma postura distante, muitas vezes cúmplice do discurso da direita, em “defesa dos trabalhadores franceses”, dos brancos da aristocracia operária. Nesta crise, tanto o PS como o PC se mantiveram distantes, com uma resposta tardia e reformista em defesa da “paz social”.

longe dos explorados
A esquerda trotskista na França teria possibilidades de ter um papel distinto entre os imigrantes, por ter um peso político nada marginal. Nas eleições de 2002, a LCR (Liga Comunista Revolucionária) e a LO (Lutte Ouvrière) tiveram, juntas, 10,2% dos votos, superando pela primeira vez o PC, que teve 3,4% dos votos.

O resultado foi uma expressão eleitoral de um processo profundo de crise do reformismo, que poderia ser utilizado para um avanço no terreno das lutas diretas dos trabalhadores e da juventude, para organizar uma direção revolucionária com influência de massas. Infelizmente isso não ocorreu e essa influência tem retrocedido, até mesmo eleitoralmente, como se viu nas eleições de 2004 (juntas, essas organizações tiveram 4,58% dos votos).

O que mais importa não são os votos, mas a resposta concreta na luta de classes. Mais uma vez, os acontecimentos das últimas semanas demonstraram que essa esquerda está longe dos setores mais explorados. A LO não deu nenhuma resposta concreta e ainda fez um comunicado, com um título bem significativo: “A esperança não está nem na violência estéril, nem na resignação”. Já a LCR tardou 17 dias para chamar uma mobilização, com 500 pessoas, no centro de Paris (bem distante dos locais dos acontecimentos), protestando unicamente contra as leis de repressão.

Sem perspectivas sociais nem organização política, as ações dos jovens lembram as dos operários, que, no início do capitalismo, quebravam as máquinas das indústrias (ludismo), as quais atribuíam o desemprego. Seria um erro grosseiro, típico do reformismo, julgar esse movimento pelos métodos, e não pelo processo social que expressa. O que deve ser julgado, e severamente, é a impotência da maioria da esquerda francesa.

Como contraponto, podemos destacar a atitude do Grupo Socialista Internacionalista (GSI, seção da LIT) e da Fração Pública de Lutte Ouvrière, que tiveram uma postura distinta.

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